A Morte, pois me mostraram a vida

trago a morte não como farsa
mas farta, ufana.

Zela pelo meu segredo
distraída, necessária, apressada
indivisível, única,
derradeira como eu.

persegue não a mim
mas aos meus passos
pois sequer me espera.

não me cansa
doura-me juventude
soma o sol, meu sol
minha estrada inteira
deseja o meu amor
questiona o meu desejo
sorri com o meu erro.

corre a morte
em busca de mais uma aventura
me ama, me trai
pois tem a mim
seu próximo ato
seu amo, seu guerreiro
que atravessa a fantasia
que sorri de medo
e falta.

trago a morte, inteira
infinita como meu âmago
incontestável e indesejável
que não pernoita
apenas espreme o ego
inconfundível como eu mesmo
apagado, vivo e morto.

trago a morte
não por essência ou desespero
mas porque o tempo me conta
e não me exclui,
porque não me esconde a náusea
nem me põe o rancho da maldade.

a morte quer apenas
fluir meu contentamento
acender a estrada, via láctea.

a morte nunca me deixará sozinho
como se eu fosse a vida inteira
reservado, preparado para a sorte.

a morte não me dará vida
mas me esconderá

dos transeuntes, dos descaminhos
e não me postará por inveja
em quase todos que me vêem.

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