Bar Público

Os rumos desses sons
lampejam sonoras tempestades em mim.
Aqui neste canto de bar,
teço minha líquida esperança.
Ao término do milésimo chope,
o amor e outras sensações naturais
tornam-se fuscos e distantes.
A música (eu sinto) sai lá de dentro dos olhos,
dos dedos, da emoção do cantor.
Bebo vagarosamente toda a ilusão
diluída no leve álcool do chope.
As luzes galvanizam meu último sopro
de pessoa intacta e lúcida.

A música devora a timidez do cantor.
O álcool dissimula a minha.
As pessoas presentes e tão distantes
fazem coro com meu choro e riso.
A quase-embriaguez já me controla:
levanto exasperadamente a voz
e não mais sequer controlo
a inútil pantomima dos gestos...

Os rumos desses sons
sugerem coisas que minha parca lucidez
não logrará encontrar em esquina alguma.
Aqui neste canto de bar
o líquido veloz do chope
projeta um filme sem fim...

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