Antífona

Musa, chega-te a mim! Despe o manto inconsútil
E, com a nudez pagã de uma Vênus de Milo,
Modela a frase heril no mármore do Estilo,
Na Harmonia orquestral da estrofe egrégia e dútil.

Traze a tua energia ao meu esforço inútil
Dando a cada hemistíquio a sonância de um trilo,
E faze imune passe o Verso que burilo
À baba do invejoso e à crítica do Fútil.

Toma do bloco informe e empunha, em febre, o escopro,
Talha, esculpe, lapida o busto da Poesia
E anima-o triunfalmente ao teu divino sopro.

Se, como Pigmalião, — dados todos os traços —
Não lhe puderes dar Alma, Vida e Energia,
Parte a escultura vã desfeita em mil pedaços!

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