António Feliciano de Castilho
António Feliciano de Castilho, 1.º visconde de Castilho, foi um escritor romântico português, polemista e pedagogista, inventor do Método Castilho de leitura. Em consequência de sarampo perdeu a visão quase completamente aos 6 anos de idade.
1800-01-28 Portugal
1875-06-18 Lisboa
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Poeta, pedagogo e tradutor de mérito, Castilho pertence à geração de Almeida Garrett e Alexandre Herculano, passando a gozar de grande prestígio após a morte de Garrett e o afastamento de Herculano para Vale de Lobos. Filho de médico e professor universitário, António Feliciano ficou cego aos 6 anos, devido a doença. Mas a sua aplicação ao estudo e o seu precoce talento poético fizeram dele um pequeno prodígio. O seu êxito escolar deve-se em grande parte à dedicação do irmão, Augusto Frederico, que o ajudava desveladamente. É na companhia do irmão que Castilho sai de Lisboa, onde tinha nascido, para se matricular com ele na Faculdade de Cânones, em Coimbra, onde ambos se formaram em Direito Canónico. Educado na tradição clássica e nas humanidades, Castilho publica o seu primeiro poema (Epicédio na Morte da Augustíssima Senhora D. Maria I, Lisboa, 1816) quando tinha 16 anos. Dois anos depois dá a lume A Faustíssima Aclamação de S. Majestade o Sr. D. João VI, poema em 3 cantos. Bem recebidas no Paço, estas composições de circunstância mereceram-lhe um lugar no funcionalismo público em Coimbra, o qual não chegou a ocupar por causa da cegueira, sendo nele provido um tio seu, António Barreto de Castilho. Poeta neoclássico, imbuído dos valores da forma e da importância da mitologia pagã, Castilho compõe as Cartas de Eco e Narciso (Coimbra, 1821), volume constituído por 9 epístolas amorosas, ao qual juntou uma segunda parte (Coimbra, 1825). O efeito desta correspondência poética junto das suas leitoras foi imediato e duradouro na aceitação que lhe concederam. Uma delas, Maria Isabel Baena Coimbra Portugal, reclusa no convento de Vairão, escreveu-lhe, personalizando-se como uma outra Eco e propondo-lhe que fosse ele o seu Narciso. Casa-se com esta senhora em 1834. Mas o casamento teve breve duração, porque ela faleceu em 1-2-1837. Em 1840, quando se encontrava na ilha da Madeira, Castilho perde o irmão Augusto Frederico, regressando, no início do ano seguinte, ao continente. Contrai matrimónio em segundas núpcias com uma senhora madeirense, D. Ana Carlota Xavier Vidal, e, já em Lisboa, funda e dirige a Revista Universal Lisbonense, cujo primeiro número sai em 1 de Outubro de 1841. Em 17 de Junho de 1845 abandona a direcção da revista. Nesta fase da sua vida, Castilho procura intervir activamente na realidade social portuguesa, contribuindo para o desenvolvimento do País, dentro da melhor tradição do espírito iluminista. Em 1846 milita no Partido Cartista e empenha-se denodadamente na campanha de aceitação do seu método de leitura, solicitando, para o efeito, o apoio das entidades competentes. Mas o Conselho Superior de Instrução Pública rejeita o projecto. E Castilho, desgostoso, parte para os Açores, onde estanciou de 1847 a 1850. Em Ponta Delgada publica uma série de artigos no jornal Agricultor Micaelense, os quais reuniu em volume sob o título Felicidade pela Agricultura (1849, 2 vols.). Neles traça o poeta o quadro do bem-estar a partir do desenvolvimento da agricultura, que nasceria da formação de sociedades agrícolas. A natureza económica desse desenvolvimento é esboçada em termos ingénuos e utópicos. Castilho desvincula a agricultura da política e poetiza as relações do homem com a terra. De regresso a Lisboa, em 1850, Castilho pugna pela aceitação do seu Método de Leitura, tendo tido desta vez melhor sorte. Nomeado comissário-geral da instrução primária (1853), abre cursos para instruir professores na aplicação do seu método. Em 1855 vai divulgá-lo no Brasil, tendo sido recebido por D. Pedro II. Entretanto dera a lume, em Lisboa, um Tratado de Mnemónica e um Tratado de Metrificação Portuguesa, ambos datados de 1851. O nome que ganhara com a campanha do método e a sua fama literária levaram D. Pedro V a pensar nele para ocupar a cátedra de Literatura Portuguesa quando fundou o Curso Superior de Letras, em 1858. Entregue ao trabalho da sua poesia e das suas traduções, Castilho declina a oferta. Tradutor de Ovídio (As Metamorfoses, Lisboa, t. I e único, 1841; Amores, Rio de Janeiro, t. I, 1858), feliz adaptador à cena portuguesa das peças de Molière, o poeta conseguira encontrar um estilo fluente e eficaz para o palco. Nem sempre, porém, as suas versões respeitavam a integridade do texto original, e a sua tradução do Fausto de Goethe (1ª. parte), feita sobre um texto francês, foi acerbamente criticada, suscitando uma polémica que ficou conhecida no tempo como «a questão faustiana». Venerado como uma grande figura, a quem os jovens escritores solicitavam o prefácio-recomendação, Castilho foi subitamente abalado, em 1865, pelo opúsculo de Antero Bom Senso e Bom Gosto, que iniciou a «questão coimbrã». Discípulo que fora de Castilho na escola primária de São Miguel, mas ferido pela incompreensão dele pelas suas primícias poéticas, Antero foi desabrido e duro com o velho escritor. Longe das grandes inovações europeias do pensamento e da Arte, literato de literatura amena avessa a altos voos de inteligência e inquietude espiritual Castilho foi brutalmente apeado do seu pedestal. Os últimos anos passa-os entre o carinho dos filhos, depois da morte da esposa, em 1871, e os amigos que regularmente o visitam. Mas o seu nome apagava-se na cena literária, dominada agora pela brilhante geração de Coimbra.