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Arménio Vieira

Arménio Vieira

Arménio Adroaldo Vieira e Silva é um jornalista e escritor da língua portuguesa, Elemento activo da geração de 1960, colaborou em SELÓ - folha dos novíssimos, Boletim de Cabo Verde, revista Vértice, ...

1941-01-29 Praia, Ilha de Santiago, Cabo Verde
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Prémios e Movimentos

Camões 2009

Alguns Poemas

Quiproquó

Há uma torneira sempre a dar horas
há um relógio a pingar no lavabos
há um candelabro que morde na isca
há um descalabro de peixe no tecto

Há um boticário pronto para a guerra
há um soldado vendendo remédios
há um veneno (tão mau) que não mata
há um antídoto para o suicído de um poeta

Senhor, Senhor, que digo eu (?)
que ando vestido pelo avesso
e furto chapéu e roubo sapatos
e sigo descalço e vou descoberto.

Ser tigre

Mar! Mar!
Mar! Mar!

Quem sentiu mar?

Não o mar azul
de caravelas ao largo
e marinheiros valentes

Não o mar de todos os ruídos
de ondas
que estalam na praia

Não o mar salgado
dos pássaros marinhos
de conchas
areias
e algas do mar

Mar!

Raiva-angústia
de revolta contida

Mar!

Siléncio-espuma
de lábios sangrados
e dentes partidos

Mar!
do não-repartido
e do sonho afrontado

Mar!

O tigre ignora a liberdade do salto
é como se uma mola o compelisse a pular.

Entre o cio e a cópula
o tigre não ama.

Ele busca a fêmea
como quem procura comida.

Sem tempo na alma,
é no presente que o tigre existe.

Nenhuma voz lhe fala da morte.
O tigre, já velho, dorme e passa.

Ele é esquivo,
não há mãos que o tomem.

Não soa,
porque não respira.

É menos que embrião
abaixo do ovo,
infra-sémen.

Não tem forma,
é quase nada, parece morto.

Porém existe,
por isso espera.

Epopéia, canção de amor,
epigrama, ode moderna, epitáfio,

Ele será
quando for tempo disso.

Mar

Mar! Mar!
Mar! Mar!

Quem sentiu mar?

Não o mar azul
de caravelas ao largo
e marinheiros valentes

Não o mar de todos os ruídos
de ondas
que estalam na praia

Não o mar salgado
dos pássaros marinhos
de conchas
areias
e algas do mar

Mar!

Raiva-angústia
de revolta contida

Mar!

Siléncio-espuma
de lábios sangrados
e dentes partidos

Mar!
do não-repartido
e do sonho afrontado

Mar!

Quem sentiu mar?

Isto é que fazem de nós

E perguntam-nos:
- sois homens?
Respondemos:
- animais de capoeira.
Dizem-nos:
- bom dia.
Pensamos:
lá fora...

Isto é que fazem de nós
quando nos inquirem:
- estais vivos?
E em nós
as galinhas respondem:
- dormimos.
Ficcionista e poeta. Colaborador de revistas e suplementos literários desde o início dos anos 60, como Mákua, Alerta, Cabo Verde, Imbondeiro, Vértice, Ariope, Raízes, entre outras, e está incluído em diversas colectâneas. Publicou a compilação Poemas em 1981, O eleito do sol (novela) em 1990, o romance No inferno em 1999, e, em 2006, Mitografias (poesia).Em 2009 foi distinguido com o Prémio Camões, o mais importante prémio literário para autores de língua portuguesa.
Prémio Camões, Arménio Vieira, homenageado na Praia por ocasião dos seus 80 anos
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Arménio Vieira - Só a poesia nos Salvará
Arménio Vieira
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Arménio Vieira e Germano Almeida, prémios Camões, em conversa aberta durante a Literatura Mundo
Arménio Vieira - Isto é Que Fazem de Nós |Declamação Poesia Cabo-Verdiana | Poema |Poetas Cabo Verde
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Arménio Vieira - 'Didáctica Inconseguida' / 'Menos que a chama de...' / 'Isto é o que fazem de nós'
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Arménio Vieira "Antipoema da Lunamar"
257 - Construção na vertical - Arménio Vieira
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605 - Canto final ou agonia duma noite infecunda - Arménio Vieira
O Livro da Minha Vida- Fantasmas e Fantasias do Brumário de Arménio Vieira
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