Cora Coralina

Cora Coralina

Cora Coralina, pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, foi uma poetisa e contista brasileira.

1889-08-20 Goiás, Brasil
1985-04-10 Goiás, Goiás, Brasil
195847
16
129


Alguns Poemas

Imaginários de Aninha

As meninas do colégio no recreio brincavam do velho
e jamais esquecido brinquedo de roda.
E eu, ali parada; olhando.
Esquecida no chão a cesta com sua roupa de volta para mãe lavar.
Tinha nos olhos e na atitude tal expressão,
tanto desejo de participar daquele brinquedo
que chamei a atenção da irmã Úrsula que era a vigilante.
Ela veio para o meu lado,
me empurrou carinhosamente para o meio da roda,
antes que o grupo quintasse nova coleguinha.
O coro infantil entoou a cópia sempre repetida:

"A menina está na roda
Sozinha para cantar.
Se a menina não souber,
Prisioneira vai ficar..."

Com surpresa de todos levantei alto minha voz,
que minha mãe gostava de ouvir nas minhas cantorias infantis,
ajudando a ensaboar a roupa:

"Estou presa nesta roda
Sozinha pra cantar.
Sou filha de lavadeira,
Não nasci para brincar.
Minha mãe é lavadeira,
lava roupa o dia inteiro.
Busco roupa e levo roupa
Para casa vou voltar."

Era o fim do recreio.
Irmã Úrsula sacudiu a campanhia
visivelmente emocionada.

Pelas janelas que abriam para o pátio,
tinham aparecido algumas cabeças de religiosas.
Professoras e alunas maiores, atraídas pelo timbre cristalino
de minha voz adolescente,
magricela a quem ninguém dava a idade certa,
tinha nesse tempo onze anos.
A roda se desfez em correrias.
A irmã Úrsula me ajudou a ajeitar a cesta alongada
na cabeça, equilibrou a trouxa
que minha mãe devia lavar, passar e engomar.
Perguntou pela minha idade e se frequentava escola.
Eu disse que não tinha tempo, porque ajudava mãe a lavar roupa.
Ela abriu a boca, ia dizer alguma coisa, pensou,
e disse: "Depois".


In: CORALINA, Cora. Vintém de cobre: meias confissões de Aninha. 4. ed. Goiânia: Ed. da Universidade Federal de Goiás, 1987. Poema integrante da série A Roda

A Escola da Mestra Silvina

Minha escola primária...
Escola antiga de antiga mestra.
Repartida em dois períodos
para a mesma meninada,
das 8 às 11, da 1 às 4.
Nem recreio, nem exames.
Nem notas, nem férias.
Sem cânticos, sem merenda...
Digo mal — sempre havia
distribuídos
alguns bolos de palmatória...
A granel?
Não, que a Mestra
era boa, velha, cansada, aposentada.
Tinha já ensinado a uma geração
antes da minha.

A gente chegava "— Bença, Mestra."
Sentava em bancos compridos,
escorridos, sem encosto.
Lia alto lições de rotina:
o velho abecedário,
lição salteada.
Aprendia a soletrar.

Vinham depois:
Primeiro, segundo,
terceiro e quarto livros
do erudito pedagogo
Abílio César Borges —
Barão de Macaúbas.
E as máximas sapientes
do Marquês de Maricá.

(...)

Num prego de forja, saliente na parede,
estirava-se a palmatória.
Porta de dentro abrindo
numa alcova escura.
Um velhíssimo armário.
Canastras tacheadas.
Um pote d'água.
Um prato de ferro.
Uma velha caneca, coletiva,
enferrujada.
Minha escola da Mestra Silvina...
Silvina Ermelinda Xavier de Brito.
Era todo o nome dela.

Velhos colegas daquele tempo,
onde andam vocês?

(...)

E faço a chamada de saudade
dos colegas:
Juca Albernaz, Antônio,
João de Araújo, Rufo.
Apulcro de Alencastro,
Vítor de Carvalho Ramos.
Hugo das Tropas e Boiadas.
Benjamim Vieira.
Antônio Rizzo.
Leão Caiado, Orestes de Carvalho.
Natanael Lafaiete Póvoa.
Marica. Albertina Camargo.
Breno — "Escuto e tua voz vai
se apagando com um dolente ciciar
de prece".

(...)

E a Mestra?...
Está no Céu.


In: CORALINA, Cora. Poemas dos becos de Goiás e estórias mais. Prefácio de J. B. Martins Ramos. Apresentação de Oswaldino Marques, Lena Castello Branco Ferreira Costa e Silvia Alessandri Monteiro de Castro. 16. ed. São Paulo: Global, 199

A gleba me transfigura

Sinto que sou abelha no seu artesanato.
Meus versos tem cheiro de mato, dos bois e dos currais.
Eu vivo no terreiro dos sítios e das fazendas primitivas.
(...)
Minha identificação profunda e amorosa
com a terra e com os que nela trabalham.
A gleba me transfigura. Dentro da gleba,
ouvindo o mugido da vacada, o mééé dos bezerros.
O roncar e focinhar dos porcos o cantar dos galos,
o cacarejar das poedeiras, o latir do cães,
eu me identifico.
Sou arvore, sou tronco, sou raiz, sou folha,
sou graveto sou mato, sou paiol
e sou a velha tulha de barro.

pela minha voz cantam todos os pássaros,
piam as cobras
e coaxam as rãs, mugem todas as boiadas que
vão pelas estradas.
Sou espiga e o grão que retornam a terra.
Minha pena (esferográfica) é a enxada que vai cavando,
é o arado milenário que sulca.
Meus versos tem relances de enxada, gume de foice
e o peso do machado.
Cheiro de currais e gosto de terra.
(...)
Amo aterra de um velho amor consagrado.
Através de gerações de avós rústicos, encartados
nas minas e na terra latifundiária, sesmeiros.
A gleba está dentro de mim. Eu sou a terra.
(...)
Em mim a planta renasce e flosrece, sementeia e sobrevive.
Sou a espiga e o grão fecundo que retorna à terra.
Minha pena é enxada do plantador, é o arado que vai sulcando.
Para a colheita das gerações.
Eu sou o velho paiol e a velha tulha roceira.
Eu sou a terra milenária, eu venho de milênios
Eu sou a mulher mais antiga do mundo, plantada
e fecundada no ventre escuro da terra.

Cora Coralina (Goiás GO 1889 - Goiânia GO 1985) fez apenas os estudos primários, com a professora Silvina Ermelinda Xavier de Brito (Mestra Silvina), por volta de 1899 e 1901. Em 1910 teve seu conto Tragédia na Roça publicado no Anuário Histórico Geográfico e Descritivo do Estado de Goiás, do professor Francisco Ferreira dos Santos Azevedo. Mudou-se para o interior de São Paulo em 1911. Na década de 30, tornou-se colaboradora do jornal O Estado de São Paulo; foi vendedora da Livraria José Olympio, em São Paulo, e proprietária do estabelecimento Casa dos Retalhos, em Penápolis SP. Voltou para Goiás em 1956, onde exerceu por mais de vinte anos a profissão de doceira. Seu primeiro livro de poesia, Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais, saiu em 1965. Seguiram-se Meu Livro de Cordel, publicada em 1976, numa edição restrita em Goiás, por P. D. Araújo, e Vintém de Cobre (1983). Em 1984 recebeu o Grande Prêmio da Crítica/Literatura, concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte, e o Troféu Juca Pato, concedido pela União Brasileira de Escritores.
-
CORA CORALINA | Entrevista com a Poeta
ASSIM EU VEJO A VIDA - CORA CORALINA
Cora Coralina - Brasil Escola
CORA CORALINA: 5 curiosidades
A Procura | Poema de Cora Coralina com narração de Mundo Dos Poemas
A linda história de CORA CORALINA: um dos maiores nomes de nossa literatura! | MULHERES ADMIRÁVEIS
Retalhos
As melhores frases e poemas de Cora Coralina | citações expiradora
🔴 TARDE - 06 - LP - 05.02.24 - 2ª Série (Texto Narrativo)
MEU DESTINO - CORA CORALINA
UM MOCHILEIRO no CAMINHO DE CORA CORALINA. DOCUMENTÁRIO COMPLETO.
NÃO SEI... CORA CORALINA
Conhecendo Museus - Ep. 02: MUSEU CASA DE CORA CORALINA
Marcelo Barra Cora Coralina
Cora Coralina - "Saber Viver" (poesia poema verso literatura)
Cora Coralina • Todas as Vidas Dentro de Mim
SABER VIVER - CORA CORALINA
Cora Coralina | Vox Populi (1983) | Completo
Cora Coralina - Entrevista COMPLETA no Programa Vox Populi (TV Cultura - 1983) - parte 1/3
Poesia de Cora Coralina
Biografia de CORA CORALINA - A Poetiza das Coisas Simples do Cotidiano!
Amigo | Um poema de Cora Coralina
Amigo | Poema de Cora Coralina com narração de Mundo Dos Poemas
História de vida da Cora Coralina
Humildade Cora Coralina Leitura Rita Aparecida Santos
NÃO CONTE PRA NINGUÉM | Poema de Cora Coralina
Não Conte Para Ninguém | Poema de Cora Coralina com narração de Mundo Dos Poemas
Poema de Cora Coralina - Saber viver (Poesia Falada) - The Beatles | Verso que se escreve
Aline Alhadas | Saber Viver | Cora coralina
Cora Coralina
Cora Coralina - Todas as vidas | Trailer Oficial
Raquel Brigagão | Aninha e suas pedras | Cora Coralina
Cora Coralina por Walderez de Barros
CORA CORALINA Itodas as vidas I veda 04
Poesia "Meu Destino" [Cora Coralina]
“SABER VIVER”, de Cora Coralina | POETIZAR | Padre Reginaldo Manzotti
RETAZOS Cora Coralina
Cora Coralina, uma estrela Global
CORA CORALINA - CORAÇÃO VERMELHO
Filha da poeta Cora Coralina fala sobre a mãe nos 130 anos de seu nascimento
Poesia: Sou feita de retalhos - CORA CORALINA/ CRIS PIZZIMENTE 🌻✨
Coração É Terra Que Ninguém Vê | Poema de Cora Coralina com narração de Mundo Dos Poemas
Cora Coralina
Poeminha Amoroso | Poema de Cora Coralina com narração de Mundo Dos Poemas
Frases da Cora Coralina - Motivação Reflexão Evolução Ação Liberdade #shorts #motivação #paixão
Todas As Vidas | Poema de Cora Coralina com narração de Mundo Dos Poemas
Meu Destino | Poema de Cora Coralina com narração de Mundo Dos Poemas
O Cântico da Terra - poema de Cora Coralina
Cântico Da Terra | Poema de Cora Coralina com narração de Mundo Dos Poemas
Cora Coralina (1/2) - De Lá Pra Cá - 21/09/2009
-
ademir domingos zanotelli
A Poetisa Cora Coralina.... do milho fez uma grandeza da criação da natureza em versos de suas mãos. e Deus abençoando sua criação. fantástico.
09/agosto/2025
NAYARA
Estou no sexto ano e ja amo esse poema me acho tão nova pra saber oq eu gosto ou não gosto
30/abril/2021
julia neves
eu ameiiiiiiiiiiii melhooooorrrrr pemaaaaaaaaaa eu sempre usa eleeeee na aulaaaaaaaa
22/abril/2021
Ana Célia
Adoro as histórias de vida dessa grande mulher ??
09/fevereiro/2021
giovanna
legal
22/junho/2020
Cora-falcificada
Q lindos poemas , a agilidade dela é mesmo incrível... .
08/junho/2020
-
wilson1970
A vocação desta mulher foi ser poeta
15/dezembro/2019

Quem Gosta

Seguidores