Mário Beirão
Mário Pires Gomes Beirão foi um poeta português.
1890-05-01 Beja
1965-02-00 Lisboa
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Alguns Poemas
Biografia
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Livros
Até muito recentemente dado como nascido em 1892, Mário Beirão veio ao mundo no ano de 1890, conforme assento baptismal descoberto por José Luís Soares (Diário do Alentejo, 19-11-1993). Desde muito cedo fixado, com a família, em Lisboa, aqui se formou em Direito, tendo exercido o cargo de conservador do Registo Civil em Mafra. Poeta de raiz, é, no período de transição do simbolismo para o modernismo, um dos nomes mais significativos, embora dos menos estudados. Ainda que estreitamente ligado ao movimento saudosista, será inexacto considerá-lo, no rasto de certa crítica, epígono de Pascoaes. Na História da Poesia Portuguesa do Século XX (Lisboa: 1959, pp. 345-346), apesar de excessivamente o vincular ao autor de Marânos, João Gaspar Simões conclui que o panteísmo de Mário Beirão é «menos filosófico, isto é, mais exclusivamente poético». E acrescenta que, na parte «melhor» do seu lirismo (constituída, segundo o crítico, por O Último Lusíada, 1913, e Pastorais, 1923), «as composições parecem fustigadas por um vento espectral». Por outro lado, e no parecer de Óscar Lopes e David Mourão-Ferreira, M. Beirão é, na secção «Bronzes» do primeiro livro, um evidente precursor do Neo-Realismo. Contemporâneo e amigo de Mário de Sá-Carneiro e Fernando Pessoa – de quem existem admirativos testemunhos sobre a sua fase inicial –, manteve-se desde sempre, todavia, solidário com a revista A Águia, na qual se estreara, em 15-I-1911 (nº. 4), com «As Queimadas», longa composição que, saída anteriormente num jornal, suscitara a admiração de Fialho de Almeida (cf. Visconde de Vila-Moura, O Poeta da «Ausência», Porto, 1926, p.12). Mas a sua autêntica estreia editorial é a plaquette intitulada Sintra (1912), poesia também de largo fôlego, inserta antes, igualmente, na A Águia. Numa carta de 6-XII do mesmo ano, Pessoa escreve, a propósito, ao seu «caro Mário»: «V. hoje é tão perfeito e muito mais perfeito do que era quando escreveu "As Queimadas". [...] O que era subtil tornou-se hipersubtil, e a perfeição da expressão acompanhou essa subida da sua alma» (cf. Diário Popular, 27-XI-57). Em toda a bibliografia «beironiana» (expressão de Pascoaes, bem reveladora de alto apreço), o livro capital seria, porém, e de facto, O Último Lusíada (2ª. ed., 1925), que aliás inclui os dois poemas citados. Acerca do autor, tão injustamente esquecido, escreveu o Visconde de Vila-Moura: «Dentre os poetas vivos, nenhum exerceu sobre o seu tempo influência que se lhe compare; tão evidentes são as provas da superioridade da sua poesia: popular, sem o comezinho decalque dos fáceis mestres da redondilha, – por intuição e prática natural do génio do povo em suas fontes; clássico, mas à sua maneira, como quem trata, definitivamente, o que é de razão eterna» (ob. cit., p. 16). Dentre os estudiosos do primeiro modernismo português, Dieter Woll, ensaísta alemão, aludindo a Mário Beirão, em Realidade e Idealidade na Lírica de Sá-Carneiro (Lisboa, 1968, p. 114), realça-o como «o poeta do Saudosismo mais importante, no que se refere à riqueza da imaginação e força verbal.» Regista que as suas composições «interessaram a Fernando Pessoa e a Sá-Carneiro de forma especial, e este último deve-lhe muito sob o ponto de vista estilístico», sublinhando mais adiante (p. 192) o «parentesco temático» entre o autor do Último Lusíada e o da Dispersão, que daquele «recebeu fortes sugestões» (p. 205). Mas em qualquer dos livros posteriores de M. Beirão surgem, para quem os leia sem preconceito, «alguns dos mais belos poemas com que uma literatura pode contar» – palavras, agora, de Jorge de Sena, numa crítica de resto contraditoriamente demolidora, a Oiro e Cinza, verso e prosa, 1946 (cf. Estudos de Literatura Portuguesa - I, Lisboa, 1981, p. 195). Também Jorge de Sena havia dito já, de «Ausência» (Pastorais): «é um dos mais perfeitos poemas da nossa língua».