Jorge Santos (namastibet)

Jorge Santos (namastibet)

Que fazer, se assombro tudo que faço de medo e a fracasso ...

1961-07-03 Setúbal
231879
8
17


Alguns Poemas

Sou minha própria imagem,





Sou minha própria imagem,
Continuo sendo um outro …











Sou a própria passagem do metro,
O mestre do desapreço, a estação final
É o que escrevo, de mim pra mim,
De modo a parecer louco, sendo-o

Não me limito, nivelo-me pelos outros,
Mesmo os mais baixos, matreiros, ocos
Manhosos e velhacos são os mais sãos,
Eu sou a minha própria passagem, o local

Do metro, o desmérito, a paragem do desprazer,
O despudor com que observo a gare,
O Oriente, o cais da \\"não pertença\\",
O Oligarca dos feios, o ruim o torpe,

Desonra é o meu nome do meio,
Feito minha, à própria imagem, personifico
Um cego no que creio, e receio ser,
Ouço-me e uso falando, a língua deles,

Apenas às vezes, sem sossego cont'o tempo,
As estações de metro, os rostos leais desses
Com que me cruzo, o mérito próximo,
A longa linhagem dos uniformes longos,

Os Deuses do absoluto são brandos,
Brancos quanto a cal das paredes,
Nas estações do metro, no subúrbio
Suburbano, que há muitos, tenho ideia

O que eu penso não é um rio qualquer
Que se atravesse a nado ou que os homens
Possam usar para pousar os olhos, lavá-los,
Eu uso das fontes vivas, o que aconteceu,

Acontece nos nós dos dedos, que vão desaguar
Nem eu sei aonde ou quando, dos atritos
Nas pedras, dos redemoinhos, dos socalcos
Nas águas, da turbulência dos ribeiros,

Nos cascalhos do caudal é que me prendo,
I'preso eu me penso não um rio, um mar
Imenso, desses onde se pode embarcar
Pra outro universo vivo, esse onde anoiteci

Eu precoce, inúmeros apeadeiros e o metro 
Prolongando-se no meu subconsciente
Deslocando-se ao ritmo das coisas tais
As que o são não tão reais, aparenta ser

Doutrem a viagem dentro de mim próprio,
Conquanto sou a própria imagem,
Continuo sendo um outro, mais leve
Que eu mesmo, esse outro.










Jorge Santos (24 Fevereiro 2021)







 

 

https://namastibet.wordpress.com

http://namastibetpoems.blogspot.com

Tiras-me as palavras da boca




Tiras-me palavras da boca

Com alfinetes de dama, agulhas finas,
Tenho a maldita certeza e é
Como se estivesse vendo, sair
Uma a uma, sinuosas lentas, dançam

Numa espécie de bailado cósmico, dóceis
No movimento, confortam-me, deslocam-
-se, vejo-as cruzar a alma, adiante do
Meu fôlego, nas coisas que digo, faço,
Falam por mim e de mim falam, clamam

Eloquentes, nem necessidade
De existência viva, sonhos são
E sempre, passagem para outras
Vidas existentes, inexplicáveis
Pra gente,- arquitetos com corpo-,

Se eu pudesse explicar o que vejo,
Saindo da minha boca, talvez fosse
Como ouvires música vinda de outras
Dimensões e a mesma emoção bem-vinda,
Sensação de Terra, externa ao ouvido,

Tiras-me palavras da boca, sonhos
Inesperados na primeira fila, fábulas
Depois absurdas falas, ilícitas, caídas no chão,
No fim retiras visíveis imagens,
Que me convenci saírem de mim,

Mas não, sou eu de mim partindo
Trespassado a alfinetes, toda a voz tem
Um fio, o fim é quem me ouve claro,
Exterior ao ouvido, uma a uma
As palavras que retiro da boca, sonhos

Enfim ausentes do corpo físico,
Outros mundos a roçar por mim e eu todo,
Espécie alguma viva tem destes sonhos
Em que nada pesa, tudo balança
Sinuoso e lento, alheias e nem tanto,

Tiras-me da boca as palavras, nem todas,
A impureza é uma casta e o meu solo
Fértil, na boca faço asilo, das palavras
Mais fétidas às que desobedecem e têm
Severo castigo fora deste covil de asceta …






Joel Matos ( 23 Janeiro 2021)


http://joel-matos.blogspot.com
https://namastibet.wordpress.com
http://namastibetpoems.blogspot.com

Daniel Faria, excerto “Do que era certo”




Excerto “Do que era certo”

I

Nesta adiantada etapa ou quartel da minha vida, não deveria acreditar já, nem “por’í-além” em coincidências, mas por lado contrário ainda aumentam e em muito, as minhas expectativas mundanas acerca dos acontecimentos que não conseguia nem consigo, plácida e pacificamente explicar, o método e o conteúdo exótico dos mesmos.
O dia terminava quente e na ligeira aragem fresca que se fazia sentir no rosto e na pele dos ombros nus, um remédio que cura e que ao mesmo tempo me saudava os sentidos como numa saudação cósmica benigna e universal, tal o poder que sentia em mim vindo e direccionado da natureza, um auspicioso bem estar oriundo e inscrito no espaço envolvente e sentido em uníssono com a mente e o corpo. A caminho da serra sentia-se cheiro a pinheiro bravo e aquele perfume a flores silvestres contagiante e inseparável da pele, de uma fragância libertadora, como uma bênção extraída da natureza comunicando aos poros o aval, a permissão de viver que todos os dias necessitava tal como um afrodisíaco, para voltar a dar vida à vida e poder eu continuar correndo e andando pelos trilhos da montanha aberta.
Como é próprio da minha delicada e dedicada imaginação construo apocalipses e maremotos em chávenas de café mais ou menos morno, a falta de explicação de certos fenómenos iliba-me de os comprovar (excepto no generoso aroma do café) e não contesto, jamais contesto o meu voluntarioso espírito acerca da veracidade crua e volátil dos factos, trato de os preservar como num cadinho para, no futuro (digo sempre “no futuro”) os desencantar num outro universo paralelo em que façam mais sentido e encaixem magicamente, como se fossem peças de um grande puzzle.
Daniel Faria era para mim um nome mágico, pertencia a um jovem e raro poeta, monge noviço, falecido pouco tempo antes e de uma forma misteriosa, para não dizer suspeitosa e pouco esclarecida, no claustro de um convento escondido ao norte do país, Singeverg, em S. Martinho de Cucujães, uma ancestral e secreta congregação Beneditina, este sempre me tinha fascinado e não só pela escrita poética, mas não imaginava eu que, nas minha deambulações reais e com os pés e cóccix bem assentes sobre as pernas cruzadas, num chão de terra batida, o seu nome fosse pronunciado de uma forma tão real, esclarecida e clara embora com voz rouca de um sem abrigo ou eremita com que me fui acostumando a conviver na serra, ao longo de dias e meses de conversas interessantes e inteligentes acerca do tudo e do nada das coisas da vida e naturalmente da morte.
Não resisti, dificilmente resisto a partilhar perante todos e o mundo, além das minhas fontes, (verdadeiras ou falsas) o inicio e o móbil dos meus romances, tal como desta vez. Daniel Faria morreu auspiciosamente no dia do meu aniversário, o trigésimo terceiro, a pretensa idade de Cristo ao morrer e daí talvez, eu sentir uma atração compulsiva, assim por exemplo como pelo irmão Jorge S. de Fernando Pessoa, ou por Ernest Hemingway que se suicidou no mesmo dia e aparentemente à mesma hora (tratei de averiguar) em que dei o primeiro berro, a minha primeira madrugada a quatro, cinco ou talvez a dez dimensões, o Big-Bang.
Mas continuando, acerca de Daniel Faria e das revelações que dia a dia me iam sendo anunciadas por D. Bernardo de Roriz, de quem somente e ao fim de meses de restrita relação de humildade de confessionário e comunhão chegaria a saber o nome e o cargo do cónego principal do convento onde faleceu o poeta aos 27 anos de idade, segundo o qual “o olhar dos anjos tanto perturbava”.
Decidi naquele dia em que o conhecera, fazer um trajecto menos comum na montanha e percorrer esse antigo caminho que se desviava pela esquerda do principal e ficado sempre e sempre por realizar, desolado e muito abandonado, tapado por erva abundante e alta, embora tivesse já servido de via de comunicação entre algumas capelas solitárias e semi desmoronadas era um mundo mítico e aparte, coberto das memorias no musgo e dos fetos da altura de um homem, um mundo organicamente puro, sub-humano e deslocado, de tranquilidade inominável, aparentemente fora desta dimensão.

II

Numa sinceridade quase catedrática e omnisciente em que a proporcionalidade de estímulo da minha parte não excedia a determinação daquela vontade benigna e franciscana em revelar conjuras e conspirações diletantes, minhas pupilas aumentavam e diminuíam, na medida que sentia presente o som das passadas pelos claustros da basílica e as orações dos padres, estranhamente repercutidas nos arcos das ogivas centenárias. Austero nas palavras mas impetuoso, o frade congregava a minha atenção como se fosse uma novela em várias temporadas e todo o tempo do mundo fosse pouco para que terminasse o enredo, nem eu o desejava. Não faltava ao encontro, sempre e religiosamente à mesma hora, levava-lhe um pão, vinho e alguns alimentos que ele colocava de lado e num cerimonial, dir-se-ia japónico, transladava da memoria um Daniel com detalhes vividos em contornos de vitral, como só eclesiásticos sabem transmitir.
Em primeiro lugar confessou-me o facto de Daniel não ter morrido acidentalmente e não poder levar esse segredo com ele até à sepultura, visto ser a única testemunha dum homicídio perpetuado hediondamente por membros da mesma congregação religiosa e monástica que dirigira abnegadamente durante décadas.

(continuará)

O azedume no vinagre ou rumo a Centauro-A





O azedume no vinagre ou rumo a Centauro-a











Somente à esterilidade de interesse que desperto e à vã utilidade do meu pretenso e super-tedioso saber terreno e terrestre, se pode dever a auto-falência e debilidade como filósofo, sábio e/ou pensador estelar, não tenho falácias supra que atravessem redes e vedros muros, pontes e sejam a salvação do Homem puro, dos espíritos mais rudes, dos mais endurecidos obscuros e azedos, nem gozo intimamente e seguro de pragmáticos sofismas que aumentem ou enalteçam a minha credibilidade como ser consciente, é vital um deve/haver sanitário saudável; possuir-se de Y, e despertar em X ou alfa, um sentimento de valência quase platónica e entusiasmo em redor do trigo, para que agite ao vento as espigas, o valimento ou invalidade epistemológica é uma variável indefinível, imaterial e etérea, efémera, como silencioso e solene é o trigo sem vento que o abane, a textura é secundaria, como do azedume no vinagre se fazer vida, qual não se quer num bom vinho de colheita de barrocal, assim é o meu sentimento perante a vida, a sensação interminável e inefável, que me arranca da realidade demasiadas vezes quando uso da doença inteligente da qual tenho de fugir, que é o pensar sem vitoria nem renuncia simbólica à vida, devo abster–me ou protagonizar expressões teoréticas plásticas de qualidade superior, ou apenas apostar na prosaica criação humana menos dolorosa e desprovida de sentimentos e de esforço, com que cada um, cada qual, pode sentir-se talentoso e reclamar percepção artista da mais solida estrutura possível, gerada num universo geracional, multi-dimensual verdadeiro e não falso, como este onde me encerro escrevendo, no azedume quântico do vinagre, no cafelo da parede branca, na ignorância quase orgânica destas pacatas quatro paredes de cela em papel paisagem, em nau difusa ou carruagem -"Wagon-lit" do - "Lusitânia Express" a prumo com Centauro a...b…c.
Os conceitos célicos divinos, dividem-se no matriz gestacional da mãe-Terra e dividem-me a nível subatómico assim como uma antiga ponte, por onde ainda ninguém passou e os vazios territórios em pousio, que havemos de acariciar, porque são nosso destino e não duvido, ser nosso também, o privilégio de olharmos continentes novos e navegar rios remotos, em eternos planetas frios, voar em solenes céus de outras áreas da Láctea galáxia.
A austeridade de palavras não me representa tão bem, como a ambiguidade caótica e nonsense das aparas de amável cortiça gerada no sobreiro ou carvalho soalheiro, representam para a verde azul, garrafa “Terra”, do ponto de vista da rolha ou na fortuita oportunidade, talvez avara de nos tornarmos galácticos, os juncos nas margens dos lagos para os peixes serviram de limite e ao escualo marítimo "de olhos vesgos" , simbólicas simbioses, perspectivas raras de "solha" e paisagens surreais servem as minhas sensações, como se fosse eu a decoração e o espaço astral, extra preenchido por algo inesperado, na "visão-de-lado", "e-de-fora", peixes lúcidos e espaciais, solhas verdes-ervilha pejam a minha alma de vida e formas místicas, químicas, tal como eu as sinto, claras, nítidas e unidas como que por um elo quântico "nonsense" físico e astral, assim foi o nosso passado e será assim o nosso futuro planeta Taurus, de solenes céus e agradáveis cearas ondulando ao vento forte... 







Joel Matos 03/2019
http://joel-matos.blogspot.com
-
filipemalaia
Gostei muito de o descobrir Jorge. Obrigado!
31/dezembro/2019
-
nilza_azzi
É bom ler o que escreves; tens ritmo, domínio da línguagem poética e abordas temas intensos.
22/agosto/2019
-
namastibet
obrigado a todos que me leram
09/janeiro/2019
-
ricardoc
Igualmente! Estou me familiarizando com a plataforma. Abraços, RicardoC.
23/abril/2018
-
131992
muito intenso seus poemas, adorei.
26/outubro/2017
-
Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse o espírito que chora
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja a ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa! Raimundo Correia

-Raimundo Correia
07/fevereiro/2013

Quem Gosta

Seguidores