Rodrigues Lobo
Francisco Rodrigues Lobo foi um poeta português. Autor regionalista como poucos, apresenta o cognome de "cantor do Lis".
Leiria
1621-11-04 Lisboa
2028
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Poeta lírico, épico e grande prosador seiscentista, a sua biografia contém ainda muitas lacunas que é impossível preencher no estado actual dos nossos conhecimentos. Não se encontrou até hoje o registo fidedigno da data do seu nascimento. Ricardo Jorge, fundamentando-se na informação dada pelo poeta na dedicatória da Corte na Aldeia, onde este diz ter nascido «em idade em que já a de Portugal era acabada», sustenta que ela não poderá situar-se antes de 1580, quando já não havia corte portuguesa (ob. cit., p. 22). Selma Pousão Smith, por outro lado, sugere a data de 1573 ou 1574, e não a de 1580. Baseia-se para isso noutra dedicatória, a que é dirigida a D. Francisco Mascarenhas, conde de Santa Cruz, na Primeira e Segunda Parte dos Romances de Francisco Roíz Lobo, de Leiria (Coimbra, 1596). Aí Rodrigues Lobo afirma ter vinte e um anos por altura da composição da obra. O problema está em saber-se em qual das dedicatórias teria sido o escritor mais exacto ou menos dado a lapsos de memória. Como, porém, na primeira a asserção é genérica e na segunda ele indica os anos que então teria, posto que contraditórias sejam as informações prestadas, regista-se aqui como mais provável a segunda, embora debaixo de caução. Por outro lado, a data da morte foi definitivamente fixada por Carlos Alberto Ferreira, como sendo a de 24 de Novembro de 1621. Oriundo de uma família abastada, que tudo indica fosse de cristãos novos, matriculou-se na Universidade de Coimbra (1593 1594), onde se bacharelou em Leis (13 de Maio de 1602), não exercendo qualquer profissão, porque tinha decerto a independência de meios que lhe permitiu dedicar-se às letras. A sua vida foi pouco movimentada, porque residiu quase sempre em Leiria ou arredores, cuja paisagem exalçou frequentemente nos seus poemas, fazendo visitas ocasionais a Coimbra, Lisboa, Vila Viçosa, e a solares de fidalgos da sua amizade. Em condições algo misteriosas, morreu afogado no Tejo, em dia de temporal (R. Jorge, ob. cit. p. 9). A sua obra poética é constituída por um volume de Romances (1596), pela trilogia pastoral – A Primavera (1601), O Pastor Peregrino (1608) e O Desenganado (1614) –, O Condestabre de Portugal, poema heróico, celebrando os feitos de Nuno Álvares Pereira (1610), Jornada que D. Filipe III hizo a Portugal, em verso castelhano (1623), e Éclogas (1605). O seu bucolismo desenvolve-se na linha de Bernardim Ribeiro e ressuma uma profunda tristeza de amores ausentes. Cultiva também com grande finura e mestria a melhor tradição camoniana e retém a moralização conceituosa de veia mirandina. Em prosa publicou a Corte na Aldeia e Noites de Inverno (1619), constituída por dezasseis diálogos, onde aborda com fina ironia temas de natureza cultural e sociológica: a conduta do «discreto» ou cortesão; a excelência da língua portuguesa; os géneros literários, a arte de contar; a importância da história nacional e do tempo em que havia corte em Portugal; as carreiras profissionais e a sua função na vida social do reino. A beleza e a maturidade do estilo fazem desta obra um clássico da língua portuguesa.