Charles Bukowski
poeta, contista e romancista estadunidense
1920-08-16 Andernach
1994-03-09 San Pedro
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Resposta a Um Bilhete Encontrado Na Caixa de Correio
“o amor é como um sino
me diga, você já
o escutou na voz dela?”
o amor não é como um sino
isso é poético, verdade,
mas escutei algo na voz dela
que no vômito do meu tormento
que na caveira pousada na janela
arreganhando os dentes amarelos quebrados
me alçou a um clima que raras vezes
conheci –
“aqui, uma flor. eu trago flor.”
escuto algo na voz dela
que nada tem a ver com suados e traiçoeiros
e sangrantes exércitos
que nada tem a ver com o chefe da fábrica com olhos
quebrados
não estou implicando com as suas palavras:
você tem o seu sino
eu tenho isso e talvez você tenha isso também:
“eu trago sapatos. sapato. sapato. aqui um
sapato!”
é mais do que aprender o que é um sapato
é mais do que aprender o que sou ou o que ela
é
é outra coisa
que talvez nós que vivemos há muito tempo já quase
esquecemos
que uma criança venha dos pântanos da minha dor
carregando flores, efetivamente carregando flores,
jesus, isso é quase demais
que me seja permitido ver com olhos e tocar e
rir,
essa besta informada em mim
faz careta no íntimo
mas logo constata que o esforço é grande demais para se esconder
atrás
e essa pequena criatura que me conhece tão bem
rasteja por tudo através e em cima de mim
Lázaro Lázaro
e não sinto vergonha
guerreiro espancado por horas e anos de
desperdício
o amor é como um sino
o amor é como uma montanha púrpura
o amor é como um copo de vinagre
o amor são todas as sepulturas
o amor é uma janela de trem
ela sabe o meu nome.
me diga, você já
o escutou na voz dela?”
o amor não é como um sino
isso é poético, verdade,
mas escutei algo na voz dela
que no vômito do meu tormento
que na caveira pousada na janela
arreganhando os dentes amarelos quebrados
me alçou a um clima que raras vezes
conheci –
“aqui, uma flor. eu trago flor.”
escuto algo na voz dela
que nada tem a ver com suados e traiçoeiros
e sangrantes exércitos
que nada tem a ver com o chefe da fábrica com olhos
quebrados
não estou implicando com as suas palavras:
você tem o seu sino
eu tenho isso e talvez você tenha isso também:
“eu trago sapatos. sapato. sapato. aqui um
sapato!”
é mais do que aprender o que é um sapato
é mais do que aprender o que sou ou o que ela
é
é outra coisa
que talvez nós que vivemos há muito tempo já quase
esquecemos
que uma criança venha dos pântanos da minha dor
carregando flores, efetivamente carregando flores,
jesus, isso é quase demais
que me seja permitido ver com olhos e tocar e
rir,
essa besta informada em mim
faz careta no íntimo
mas logo constata que o esforço é grande demais para se esconder
atrás
e essa pequena criatura que me conhece tão bem
rasteja por tudo através e em cima de mim
Lázaro Lázaro
e não sinto vergonha
guerreiro espancado por horas e anos de
desperdício
o amor é como um sino
o amor é como uma montanha púrpura
o amor é como um copo de vinagre
o amor são todas as sepulturas
o amor é uma janela de trem
ela sabe o meu nome.
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