[Beija-Flor]
Ele viu um beija-flor todo enroscado numa teia de aranha. O beijaflor estava praticamente mumificado e, se ainda vivia, não seria por muito tempo. Ele ficou um tempão observando aquilo, surpreso, sem entender como um pássaro podia ficar preso em algo tão frágil quanto uma teia de aranha. Ele achava que isso só acontecia com insetos. Como é que o beija-flor, que era muito mais forte, não havia simplesmente rompido a teia? Então lhe ocorreu que a gente pode se enroscar na própria fragilidade, até chegar ao ponto de perder as forças. Por algum motivo o beija-flor se enroscou, e se debateu em vez de apenas ir embora, entrou em pânico, perdeu o caminho, exauriu-se. E aí foi fácil para a aranha tecer mais e mais teia em volta dele.
Estou carregando um cadáver.
É preciso vencer de uma vez por todas essa zona magnética de dor que me evita chegar em mim mesmo.
Apesar de ainda manter fortes resquícios de um véu doloroso e sentimentos de confusão e incerteza, sinto que estou reagindo bem e vencendo o caos sem deixar que ele se expanda.
Invoquei a Deusa—a deusa é uma realidade. Senti-me a deusa. É preciso fazer todos os esforços para manter a experiência do amor divino, a chama acesa dentro do corpo brilhando alto. Invoquei Durga, e vi seu pé gigantesco, seu dedão do pé direito gigantesco, seu corpo que subia até os céus e seu rosto que era o rosto de Deus.
Disse à deusa: corte minha cabeça. E me inclinei.
Não se enrosque na fragilidade.
Homens ou mulheres; somos todos mulheres.
Corte minha cabeça
e beba meu sangue.
Eu não sou eu; eu sou uma coisa muito diferente de mim mesmo.
Não. Somos todos iguais, sim. Em cada um de nós existe a luz e a escuridão. Eu preciso tomar posse de todo meu território. E direcionar minha vida. Pois o direcionamento acontece no tempo, e o tempo é a dimensão humana. O que eu vou fazer com esta vida que me foi dada,
assim, de repente? Estou nervosa. Muito nervosa. Vou sangrar. Rôo unhas.
Tenho unhas. Vou sair andando como se fosse de fato uma pessoa, e vou fazer coisas que uma pessoa faz. Vou gastar meu tempo escrevendo.
Dianóia
Posso ser enquanto falo?
Estou carregando um cadáver.
É preciso vencer de uma vez por todas essa zona magnética de dor que me evita chegar em mim mesmo.
Apesar de ainda manter fortes resquícios de um véu doloroso e sentimentos de confusão e incerteza, sinto que estou reagindo bem e vencendo o caos sem deixar que ele se expanda.
Invoquei a Deusa—a deusa é uma realidade. Senti-me a deusa. É preciso fazer todos os esforços para manter a experiência do amor divino, a chama acesa dentro do corpo brilhando alto. Invoquei Durga, e vi seu pé gigantesco, seu dedão do pé direito gigantesco, seu corpo que subia até os céus e seu rosto que era o rosto de Deus.
Disse à deusa: corte minha cabeça. E me inclinei.
Não se enrosque na fragilidade.
Homens ou mulheres; somos todos mulheres.
Corte minha cabeça
e beba meu sangue.
Eu não sou eu; eu sou uma coisa muito diferente de mim mesmo.
Não. Somos todos iguais, sim. Em cada um de nós existe a luz e a escuridão. Eu preciso tomar posse de todo meu território. E direcionar minha vida. Pois o direcionamento acontece no tempo, e o tempo é a dimensão humana. O que eu vou fazer com esta vida que me foi dada,
assim, de repente? Estou nervosa. Muito nervosa. Vou sangrar. Rôo unhas.
Tenho unhas. Vou sair andando como se fosse de fato uma pessoa, e vou fazer coisas que uma pessoa faz. Vou gastar meu tempo escrevendo.
Dianóia
Posso ser enquanto falo?
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