Renato Rezende

Renato Rezende

1964-04-08 São Paulo
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[Ossos]

Eu fazia, fazia e continuava com a sensação de ser nada. Vazio. Enquanto você, sem fazer nada, era. É. Me ensina a ser, assim, já sendo—sem esse constante vir a ser.

Segure o Amor e solte todo o resto.

Solta.

Tudo é perfeito habitando o Amor,

Amor,

Eu te mando pelo correio um grande coração de chocolate, para você devorar de olhos fechados, como se fosse o meu próprio coração apaixonado.

[depois me manda de volta,
num potinho,
o resultado do meu amor no seu sistema digestivo]

eu te amo desta forma ardente porque sei que nosso amor nunca
vai se realizar

eu te amo porque você é impossível
eu te faço impossível para poder te amar

eu gozo no impossível

eu quero o impossível

[eu sou um poeta místico?]

(Fecho os olhos e me deito sob o sol, fora do tempo, sem história ou linguagem)

Meus olhos estão leves, como se flutuassem fora do corpo.

Sou um homem casto e uma mulher devassa

Com doçura imagino ser devorado por demônios, enormes insetos cegos com garras, até que só restem os ossos, o esqueleto ardente

O sol explode no centro do meu coeur.

O mago ordenou entoando em língua de mortos

que cortassem meu corpo
limpassem meus ossos
recobrindo tudo
com carne nova

Vi o corpo todo em fogo. É preciso incendiar o corpo. Preciso
explodir no aqui.
Emergir do lado de lá.

Como reinventar-se? Como dar nascimento a si mesmo?

Não na linguagem, mas no próprio ser?

O corpo é a linguagem.

Quem inspira e expira em mim agora são meus pés.
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