Adriano Espínola

Adriano Espínola

1952-03-01 Fortaleza
6906
0
1


Alguns Poemas

Táxi

ou poema de amor passageiro

At the violet hour, when the eyes and back
turn upward from the desk, when the human engine waits
like a taxi throbbing waiting...

T.S. Eliot ("The waste land", 215-217)

Depois de tirar e enrolar no bolso minha gravata colorida;
depois do pique, atravessando ruas & portas,
bebendo a luz da tarde refletida em caras que nunca mais verei;
depois da ginástica bancária,
dos trambiques dados,
dos chopes na esquina;
de ter avistado as chapinhas de cerveja encravadas no asfalto
e o poema alucinado e cínico,
inscrito no corpo crivado de signos & senhas;

depois disso tudo:

de ter esquecido o dia,
sentir-me refeito e repleto, pronto para outra,
- me vejo aqui parado, esperando,
com o olhar atento, ansioso,
como se pela primeira vez,
à beira da calçada ou à beira de mim,
como se de repente
não pudesse perder o que exatamente não sei
nem saberia...

...TÁXI!
Êiii!... Aqui!
(Dou com a mão)

TUDO COMEÇA SUBITAMENTE ONDE ESTOU

- Ó Fortaleza, multidão de portas e postes batendo com sua luz
adolescente no olho da eternidade!
Fortaleza de 300 mil bocas ardentes como o sol,
famintas de amor e tragos de farinha.
Fortaleza de prédios mal-acabados, espetando a noite furiosa e redonda.
Fortaleza, avenida de neon, deslizando para todos os desejos.
Fortaleza, Bezerra de Menezes, seis mãos indo e voltando,
e uma dor viajando, num só sentido, no banco traseiro de um táxi,
para onde vamos?
Fortaleza, solidão escamosa, suor noturno, revelação.

EU TE PERCORRO

Eu, fiapo da mente de Deus que um dia avistei,
caminhando, sim, com o Universo inteiro,
que era sua própria cabeça iluminada,
pensando estrelas e galáxias
e as mais recôndidas nebulosas...

- Quem mais saberia disso?

(Este Táxi,
a rua rolando rente,
os telhados correndo, pensos, de um lado e outro,
a lata de lixo solitária,
as árvores caladas,
rostos e estrelas entrevistos da janela,
teu corpo passageiro,
tudo isso à tua frente ou dentro de ti,
que passa ou permanece no teu olhar-vida,
é o pensamento infinito de Deus
girando suas formas no espaço,
borbulhando mínimo e visível,
invisível e total,
surgindo
e desaparecendo,
transformando-se e ressurgindo
nas neuras insondáveis do tempo.)

Ó pensamento rugoso de Deus sobre os muros!
Sílabas soltas que são papéis pelas calçadas;
palavras, pés que transitam apressados
ruas, frases repentinas;

dias como sentenças cortando /
a cidade indiferente:

relâmpagos de sentido cruzando

o corpo

dentro da noite

dilacerantes
metáforas
dilaceradas

Balbucios

Orações entrecortadas

Gagueira fluente de tudo

- Ó áspera Linguagem em que viajamos sedentos de tradução!

No banco traseiro do carro, vamos nós, Moema e eu,
beijando já seus lábios levemente rachados
pelo sol da praia.

E porque em qualquer esquina posso me acabar
numa trombada,
e por certo sua dor será igual à minha,
{a alma espremida por entre ferragens}
- não importa onde,
você bem pode me entender, Steve,
lá na distante 175, Flower Rd., em Huntington, NY.

Ou se passo as mãos nas coxas de Moema
e percebo, excitado,
o tesão maior de Deus movendo as estrelas e todas as coisas,
você também me compreende, Affonso,
no alto de um edifício em Ipanema,
recitando Nietzsche, "a emoção é a vitória contra o tédio",
enquanto compõe para o JB a última crônica carnavalesca
da Nova República.

E você, metaleiro anônimo, lá de Cajazeiras, na Paraíba,
que não pôde ir ao Rock in Rio
curtir o Whitesnakes, o Queen, o heavymetal,
mas viu na TV,
e ficou ferido da maior solidão sonora do mundo,
- você também me entende, ó meu, no teu silêncio.
........................................................

Ok, minha filha, vamos nós,
zanzando neste Táxi muito louco,
por dentro da cidade,
rodando e girando,
girando e rodando
por aí, sempre.

Sim, passageiros somos,
turistas do instante.
Make it new, say. Sei.

Por isso, sinta minha língua afiada
sussurrando no teu ouvido,
enquanto dedilho sobre tua calcinha
uma ode que Arquíloco não fez
para sua esquiva Neóbula,
de cabeleira fugaz como essa noite.

Ah, tua mão direita, ávida borboleta esmaltada!
Sim, a mais pura sabedoria nasce do amor
entre um homem e uma mulher.

(Claro, há homovariações da verdade. Que importa?)
Os lábios ardentes, tocando-se, sabem mais;
abraçados, os corpos, idênticos ou não,
conhecem mais. Mais - o que seja: oh!
- fisgada de Deus adorando (de qualquer forma)
suas criaturas.

Confira o lance:

toda sabedoria passa pela carne;
toda iluminação atravessa os sentidos;
toda visão viaja pelo corpo,
- ponte de sangue sensitivo entre o céu e a terra,
vertigem da consciência esbarrando
nas paredes das costelas,
pequeno cais nervoso de todas as sensações
à beira do nada
- oceano calado te espreitando,
as amarras do corpo
partindo-se a cada minuto
do porto de si mesmo...

E eu aqui, sábio com as mãos entre tuas coxas,
soprando ávido
no teu ouvido
a lição luminosa:
sessenta e nove

E tua língua veloz: love
love
logos.

Mais depressa!
Direto para um motel na Praia do Futuro.

Por cima de tudo:
buracos,
quebra-molas,
pedras,
calçadas,
transeuntes,

principalmente por cima desta hora que atravesso
com um estremecimento súbito das portas e da alma.

Porque tudo é tremor, companheiro.
A vida treme onde bate - no centro ou nas bordas: - não importa.
Minha mão treme tocando de leve os peitos de Moema;
o carro treme transitando por entre trilhos e temores;
as luzes de neon estremecem ao golpear rostos súbitos pelas calçadas;
a avenida treme sob pneus e pensamentos sobressaltados;
a cidade toda estremece subindo pelos edifícios,
sacudida por ondas e gestos na maré das ruas;
treme a noite com suas estrelas pulsando solidão e distância.
Ruge e estremece a Via Láctea
feito um animal ferido (Ursa Maior?)
fugindo pelo infinito,
sangrando luz e abismos
por onde passa...

Porque o frio espreita
e o silêncio devora,
ESTREMECEMOS TODOS
a cada instante,

homens -
máquinas -
coisas -

com os músculos,
as fibras
e a febre dos circuitos
- em cruel expectativa...

Em frente, o Mercado São Sebastião
- fim e começo da avenida,
entrada e saída desta hora indiferente,
correndo pela pista de sentido duplo para o infinito.

Mercado São Sebastião por onde passo:
- bagaços de laranja, cascas de banana,
tocos de cigarro, papéis e jornais sujos,
rolando pelas coxias da lembrança.

Tudo ali - solto - gestos desgarrados do tempo.

Eu te penetro, suburbano labirinto, por entre acres
balcões, sentindo a respiração ofegante
das alfaces e frutas
- sobre minha pele -
querendo juntas docemente apodrecer ali.

E ver por trás das balanças homens de camiseta
A poesia de Adriano Espínola no Arte do Artista
Entrevista a Adriano Espínola - A E Sernancelhe 2021
Conheça a Lagoa de Maraponga em Fortaleza através da poesia de Adriano Espínola
Papopoético 77 - Adriano Espínola
Adriano Espínola e Horácio Dídimo -- Programa Literato
Depoimento - Escritor Adriano Espínola
CCMJ | Leituras no Palácio Convida - Clube “Leituras no Palácio” com Adriano Espínola
POESIARTE TV 21 - Adriano Espínola.
Adriano Espínola - Diário
Fome, de Adriano Espínola
Sarau do Museu – Adriano Espínola aos 70: Uma Poética do Lugar
ADRIANO ESPÍNOLA- IV MOSTRA DE POESIA CONTEMPORÂNEA -2021/ EDIÇÃO VIRTUAL
O sinal de Adriano Espínola.
Adriano Espínola - Workshop Produção para Televisão com Baixo Orçamento
Sessão de Biblioterapia: "O jangadeiro" de Adriano Espínola | Ana Cláudia Leite
Poeta Adriano Espínola no Lançamento do Livro "O catador de palavras" de Antonio Ventura
40tena em versos - Adriano Espínola #1
Livro A navegante, de Débora Ventura - Depoimento de Adriano Espínola
BOM DIA com POESIA! Poema O JANGADEIRO - Adriano Espínola 08/09/2020
"O Prego", de Adriano Espínola, en la voz de Victor Kllécio
Língua-mar (Adriano Espínola) por alunos do A E Sernancelhe
Dois Pontos #11 | Adriano Espínola e Paulo de Tarso Pardal, escritores (2008)
Programa Literatices com Murilo Antunes e Adriano Espínola
Qual a melhor maneira de ler um poema?
My Stupeflix Video
II Flitabira | A palavra engajada em Drummond
HEROS E SILVANA | POCKET VELASHOW PODCAST #10
4º Ciclo de Conferências - 90 anos da Semana de Arte Moderna: A proposta modernista: a revolução
OTHON BARCELLOS | POCKET VELASHOW PODCAST #08
Flitabira | “A palavra engajada em Drummond”
Casa de Cultura-Academia Marianense de Letras completa 53 anos
Sulamericana Ao Vivo - Lado Bom
Sulamericana Ao Vivo - Coisa de Pele
CÁSSIO CANTO | POCKET VELASHOW PODCAST #06
RODRIGO DUARTE | POCKET VELASHOW PODCAST #11
Sulamericana Ao Vivo - Para o Que Pode Ser
ROBERTO PARADEDA | POCKET VELASHOW PODCAST #04
MARINA E MICHEL | POCKET VELASHOW PODCAST #09
Alternativos - Vem por aí - Canal Curta!
CLAUDIO COPELLO | POCKET VELASHOW PODCAST #03
ISABELLA NICOLAS | POCKET VELASHOW PODCAST #02
LOS AMANTES DE LA SELVA DUO ARMOA ESPINOLA NDE JEJAPOITEIKO KOAGA de Adriano Meza
LUIGI VICENTE | POCKET VELASHOW PODCAST #07
#Metrônasuacasa | #LinhadaCultura apresenta Pílulas Poéticas: “Pronominais” e “O jangadeiro”.
Sulamericana Ao Vivo - Dia Bom
EDMAR MORAES | POCKET VELASHOW PODCAST #05
Peninha Sonhos
Ricardo Carvalho E Adriano - Sonhos
CHARLIE FLESCH | POCKET VELASHOW PODCAST #01
Dois ungidos - Adriano e Daniel

Quem Gosta

Seguidores