Allen Ginsberg

Allen Ginsberg

Irwin Allen Ginsberg foi um poeta americano da geração beat, que ficou conhecido pelo seu livro de poesia Howl.

1926-06-03 Newark, Nova Jérsia, EUA
1997-04-05 Nova Iorque, Nova Iorque, EUA
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Alguns Poemas

Uivo

“Soltem as fechaduras das portas!
Soltem também as portas dos seus batentes!”

Dedicado a Jack Kerouac, novo Buda da prosa americana, que borrifou inteligência em onze livros escritos na metade deste número de anos (1951-1956) – On the Road, Visions of Neal, Dr. Sax, Springtime Mary, The Subterraneans, San Francisco Blues, Some of the Dharma, Book of Dreams, Wake Up, Mexico City Blues e Visions of Gerard –, criando uma prosódia bop espontânea e uma literatura clássica original. Várias frases e o título de Uivo são tirados dele.
William Seward Burroughs, autor de Naked Lunch, uma novela sem fim que deixará todo mundo louco.
Neal Cassady, autor de The First Third, uma autobiografia (1949) que iluminou Buda.
Todos esses livros estão publicados no Céu.


Uivo
para Carl Solomon


I
Eu vi os expoentes da minha geração destruídos pela loucura, morrendo de fome, histéricos, nus,
arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada em busca de uma dose violenta de qualquer coisa,
hipsters com cabeça de anjo ansiando pelo antigo contato celestial com o dínamo estrelado na maquinaria da noite,
que pobres, esfarrapados e olheiras fundas, viajaram fumando sentados na sobrenatural escuridão dos miseráveis apartamentos sem água quente, flutuando sobre os tetos das cidades contemplando jazz,
que desnudaram seus cérebros ao céu sob o Elevado e viram anjos maometanos cambaleando iluminados nos telhados das casas de cômodos,
que passaram por universidades com olhos frios e radiantes alucinando Arkansas e tragédias à luz de Blake entre os estudiosos da guerra,
que foram expulsos das universidades por serem loucos & publicarem odes obscenas nas janelas do crânio,
que se refugiaram em quartos de paredes de pintura descascada em roupa de baixo queimando seu dinheiro em cestos de papel, escutando o
Terror através da parede,
que foram detidos em suas barbas púbicas voltando por Laredo com um cinturão de marijuana para Nova York,
que comeram fogo em hotéis mal pintados ou beberam terebintina em Paradise Alley, morreram ou flagelaram seus torsos noite após noite com sonhos, com drogas, com pesadelos na vigília, álcool e caralhos e intermináveis orgias,
incomparáveis ruas cegas sem saída de nuvem trêmula e clarão na mente pulando nos postes dos polos de Canadá & Paterson, iluminando completamente o mundo imóvel do Tempo intermediário,
solidez de Peiote dos corredores, aurora de fundo de quintal com verdes árvores de cemitério, porre de vinho nos telhados, fachadas de lojas de subúrbio na luz cintilante de néon do tráfego na corrida de cabeça feita do prazer, vibrações de sol e lua e árvore no ronco de crepúsculo de inverno de Brooklyn, declamações entre latas de lixo e a suave soberana luz da mente,
que se acorrentaram aos vagões do metrô para o infindável percurso do Battery ao sagrado Bronx de benzedrina até que o barulho das rodas e crianças os trouxesse de volta, trêmulos, a boca arrebentada e o despovoado deserto do cérebro esvaziado de qualquer brilho na lúgubre luz do Zoológico,
que afundaram a noite toda na luz submarina de Bickford’s, voltaram à tona e passaram a tarde de cerveja choca no desolado Fuggazi’s escutando o matraquear da catástrofe na vitrola automática de hidrogênio,
que falaram setenta e duas horas sem parar do parque ao apê ao bar ao Hospital Bellevue ao Museu à Ponte de Brooklyn,
batalhão perdido de debatedores platônicos saltando dos gradis das escadas de emergência dos parapeitos das janelas do Empire State da Lua,
tagarelando, berrando, vomitando, sussurrando fatos e lembranças e anedotas e viagens visuais e choques nos hospitais e prisões e guerras,
intelectos inteiros regurgitados em recordação total com os olhos brilhando por sete dias e noites, carne para a sinagoga jogada à rua,
que desapareceram no Zen de Nova Jersey de lugar algum deixando um rastro de cartões-postais ambíguos do Centro Cívico de Atlantic City,
sofrendo suores orientais, pulverizações tangerianas nos ossos e enxaquecas da China por causa da falta da droga no quarto pobremente mobiliado de Newark,
que deram voltas e voltas à meia-noite no pátio da ferrovia perguntando-se aonde ir e foram, sem deixar corações partidos,
que acenderam cigarros em vagões de carga, vagões de carga, vagões de carga que rumavam ruidosamente pela neve até solitárias fazendas dentro da noite do avô,
que estudaram Plotino, Poe, São João da Cruz, telepatia e bop-cabala pois o Cosmos instintivamente vibrava a seus pés em Kansas,
que passaram solitários pelas ruas de Idaho procurando anjos índios e visionários que eram anjos índios e visionários,
que só acharam que estavam loucos quando Baltimore apareceu em êxtase sobrenatural,
que pularam em limusines com o chinês de Oklahoma no impulso da chuva de inverno na luz das ruas de cidade pequena à meia-noite,
que vaguearam famintos e sós por Houston procurando jazz ou sexo ou rango e seguiram o espanhol brilhante para conversar sobre América e Eternidade, inútil tarefa, e assim embarcaram num navio para a África,
que desapareceram nos vulcões do México nada deixando além da sombra de suas calças rancheiras e a lava e a cinza da poesia espalhadas pela lareira Chicago,
que reapareceram na Costa Oeste investigando o FBI de barba e bermudas com grandes olhos pacifistas e sensuais em suas peles morenas, distribuindo folhetos ininteligíveis,
que apagaram cigarros acesos em seus braços protestando contra o nevoeiro narcótico de tabaco do Capitalismo,
que distribuíram panfletos supercomunistas em Union Square, chorando e despindo-se enquanto as sirenes de Los Alamos os afugentavam gemendo mais alto que eles e gemiam pela Wall Street e também gemia a balsa de Staten Island
que caíram em prantos em brancos ginásios desportivos, nus e trêmulos diante da maquinaria de outros esqueletos,
que morderam policiais no pescoço e berraram de prazer nos carros de presos por não terem cometido outro crime a não ser sua transação pederástica e tóxica,
que uivaram de joelhos no metrô e foram arrancados do telhado sacudindo genitais e manuscritos,
que se deixaram foder no rabo por motociclistas santificados e urraram de prazer,
que enrabaram e foram enrabados por esses serafins humanos, os marinheiros, carícias de amor atlântico e caribeano,
que transaram pela manhã e ao cair da tarde em roseirais, na grama de jardins públicos e cemitérios, espalhando livremente seu sêmen para quem quisesse vir,
que soluçaram interminavelmente tentando gargalhar mas acabaram choramingando atrás de um tabique de banho turco onde o anjo loiro e nu veio trespassá-los com sua espada,
que perderam seus garotos amados para as três megeras do destino, a megera caolha do dólar heterossexual, a megera caolha que pisca de dentro do ventre e a megera caolha que só sabe ficar plantada sobre sua bunda retalhando os dourados fios intelectuais do tear do artesão, que copularam em êxtase insaciável com uma garrafa de cerveja, uma namorada, um maço de cigarros, uma vela, e caíram da cama e continuaram pelo assoalho e pelo corredor e terminaram desmaiando contra a parede com uma visão da boceta final e acabaram sufocando um derradeiro lampejo de consciência,
que adoçaram as trepadas de um milhão de garotas trêmulas ao anoitecer, acordaram de olhos vermelhos no dia seguinte mesmo assim prontos para adoçar trepadas na aurora, bundas luminosas nos celeiros e nus no lago,
que foram transar em Colorado numa miríade de carros roubados à noite, N. C. herói secreto destes poemas, garanhão e Adónis de Denver –
prazer ao lembrar das suas incontáveis trepadas com garotas em terrenos baldios & pátios dos fundos de restaurantes de beira de estrada, raquíticas fileiras de poltronas de cinema, picos de montanha, cavernas ou com esquálidas garçonetes no familiar levantar de saias solitário à beira da estrada & especialmente secretos solipsismos de mictórios de postos de gasolina & becos da cidade natal também,
que se apagaram em longos filmes sórdidos, foram transportados em sonho, acordaram num Manhattan súbito e conseguiram voltar com uma impiedosa ressaca de adegas de Tokay e o horror dos sonhos de ferro da Terceira Avenida & cambalearam até as agências de desemprego,
que caminharam a noite toda com os sapatos cheios de sangue pelo cais coberto por montões de neve, esperando que uma porta se abrisse no East River dando para um quarto cheio de vapor e ópio,
que criaram grandes dramas suicidas nos penhascos de apartamentos do Hudson à luz azul de holofote antiaéreo da lua & suas cabeças receberão coroas de louro no esquecimento,
que comeram o ensopado de cordeiro da imaginação ou digeriram o caranguejo do fundo lodoso dos rios de Bovery,
que choraram diante do romance das ruas com seus carrinhos de mão cheios de cebola e péssima música,
que ficaram sentados em caixotes respirando a escuridão sob a ponte e ergueram-se para construir clavicórdios em seus sótãos,
que tossiram num sexto andar do Harlem coroado de chamas sob um céu tuberculoso rodeados pelos caixotes de laranja da teologia,
que rabiscaram a noite toda deitando e rolando sobre invocações sublimes que ao amanhecer amarelado revelaram-se versos de tagarelice sem sentido,
que cozinharam animais apodrecidos, pulmão coração pé rabo borsht
& tortillas sonhando com o puro reino vegetal,
que se atiraram sob caminhões de carne em busca de um ovo,
que jogaram seus relógios do telhado fazendo seu lance de aposta pela Eternidade fora do Tempo & despertadores caíram nas suas cabeças por
todos os dias da década seguinte,
que cortaram seus pulsos sem resultado por três vezes seguidas, desistiram e foram obrigados a abrir lojas de antiguidades onde acharam que estavam ficando velhos e choraram,
que foram queimados vivos em seus inocentes ternos de flanela em Madison Avenue no meio das rajadas de versos de chumbo & o estrondo contido dos batalhões de ferro da moda & os guinchos de nitroglicerina das bichas da propaganda & o gás mostarda de sinistros editores inteligentes ou foram atropelados pelos táxis bêbados da Realidade Absoluta,
que se jogaram da Ponte de Brooklyn, isso realmente aconteceu, e partiram esquecidos e desconhecidos para dentro da espectral confusão das ruelas de sopa & carros de bombeiros de Chinatown, nem uma cerveja de graça,
que cantaram desesperados nas janelas, jogaram-se da janela do metrô,
saltaram no imundo rio Passaic, pularam nos braços dos negros, choraram pela rua afora, dançaram sobre garrafas quebradas de vinho descalços arrebentando nostálgicos discos de jazz europeu dos anos 30
na Alemanha, terminaram o whisky e vomitaram gemendo no toalete sangrento, lamentações nos ouvidos e o sopro de colossais apitos a vapor,
que mandaram brasa pelas rodovias do passado viajando pela solidão da vigília de cadeia do Gólgota de carro envenenado de cada um ou então a encarnação do Jazz de Birmingham,
que guiaram atravessando o país durante setenta e duas horas para saber se eu tinha tido uma visão ou se você tinha tido uma visão ou se ele tinha tido uma visão para descobrir a Eternidade,
que viajaram para Denver, que morreram em Denver, que retornaram a Denver & esperaram em vão, que espreitaram Denver & ficaram parados pensando & solitários em Denver e finalmente partiram para descobrir o Tempo & agora Denver está com saudades dos seus heróis, que caíram de joelhos em catedrais sem esperança rezando por sua salvação e luz e peito até que a alma iluminasse seu cabelo por um segundo,
que se arrebentaram nas suas mentes na prisão aguardando impossíveis criminosos de cabeça dourada e o encanto da realidade em seus corações que entoavam suaves blues de Alcatraz,
que se recolheram ao México para cultivar um vício ou às Montanhas Rochosas para o suave Buda ou Tânger para os garotos ou Pacífico Sul para a locomotiva negra ou Harvard para Narciso para o cemitério de Woodlawn para a coroa de flores para o túmulo, que exigiram exames de sanidade mental acusando o rádio de hipnotismo & foram deixados com sua loucura & suas mãos & um júri suspeito,
que jogaram salada de batata em conferencistas da Universidade de Nova York sobre Dadaísmo e em seguida se apresentaram nos degraus de granito do manicômio com cabeças raspadas e fala de arlequim sobre suicídio, exigindo lobotomia imediata,
e que em lugar disso receberam o vazio concreto da insulina metrasol choque elétrico hidroterapia psicoterapia terapia ocupacional pingue-pongue & amnésia,
que num protesto sem humor viraram apenas uma mesa simbólica de pingue-pongue, mergulhando logo a seguir na catatonia, voltando anos depois, realmente calvos exceto por uma peruca de sangue e
lágrimas e dedos para a visível condenação de louco nas celas das cidades-manicômio do Leste,
Pilgrim State, Rockland, Greystone, seus corredores fétidos, brigando com os ecos da alma, agitando-se e rolando e balançando no banco de solidão à meia-noite dos domínios de mausoléu druídico do amor, o
sonho da vida um pesadelo, corpos transformados em pedras tão pesadas quanto a lua,
com a mãe finalmente ****** e o último livro fantástico atirado pela janela do cortiço e a última porta fechada às 4 da madrugada e o último telefone arremessado contra a parede em resposta e o último quarto mobiliado esvaziado até a última peça de mobília mental, uma rosa de papel amarelo retorcida num cabide de arame do armário e até mesmo isso imaginário, nada mais que um bocadinho esperançoso de alucinação –
Ah, Carl, enquanto você não estiver a salvo eu não estarei a salvo e agora você está inteiramente mergulhado no caldo animal total do tempo –
e que por isso correram pelas ruas geladas obcecados por um súbito clarão da alquimia do uso da elipse do catálogo do metro & do plano vibratório,
que sonharam e abriram brechas encarnadas no Tempo & Espaço através de imagens justapostas e capturaram o arcanjo da alma entre 2 imagens visuais e reuniram os verbos elementares e juntaram o substantivo e o choque de consciência saltando numa sensação de Pater Omnipotens Aeterne Deus,
para recriar a sintaxe e a medida da pobre prosa humana e ficaram parados à sua frente, mudos e inteligentes e trêmulos de vergonha, rejeitados todavia expondo a alma para conformar-se ao ritmo do pensamento em
sua cabeça nua e infinita,
o vagabundo louco e Beat angelical no Tempo, desconhecido mas mesmo assim deixando aqui o que houver para ser dito no tempo após a morte,
e se reergueram reencarnados na roupagem fantasmagórica do jazz no espectro de trompa dourada da banda musical e fizeram soar o sofrimento da mente nua da América pelo amor num grito de saxofone de eli eli lama lama sabactani que fez com que as cidades tremessem até seu último rádio,
com o coração absoluto do poema da vida arrancado de seus corpos bom para comer por mais mil anos.


II
Que esfinge de cimento e alumínio arrombou seus crânios e devorou seus cérebros e imaginação? Moloch! Solidão! Sujeira! Fealdade! Latas de lixo e dólares inatingíveis! Crianças berrando sob as escadarias!
Garotos soluçando nos exércitos! Velhos chorando nos parques!
Moloch! Moloch! Pesadelo de Moloch! Moloch o mal-amado! Moloch mental! Moloch o pesado juiz dos homens!
Moloch a incompreensível prisão! Moloch o presídio desalmado de tíbias cruzadas e o Congresso dos sofrimentos! Moloch cujos prédios são julgamento! Moloch a vasta pedra da guerra! Moloch os governos atônitos!
Moloch cuja mente é pura maquinaria! Moloch cujo sangue é dinheiro corrente! Moloch cujos dedos são dez exércitos! Moloch cujo peito é um dínamo canibal! Moloch cujo ouvido é um túmulo fumegante!
Moloch cujos olhos são mil janelas cegas! Moloch cujos arranha-céus
jazem ao longo das ruas como infinitos Jeovás! Moloch cujas fábricas sonham e grasnam na neblina! Moloch cujas colunas de fumaça e antenas coroam as cidades!
Moloch cujo amor é interminável óleo e pedra! Moloch cuja alma é eletricidade e bancos! Moloch cuja pobreza é o espectro do gênio!
Moloch cujo destino é uma nuvem de hidrogênio sem sexo! Moloch cujo nome é a Mente!
Moloch em quem permaneço solitário! Moloch em quem sonho com anjos! Louco em Moloch! Chupador de caralhos em Moloch! Mal-amado e sem homens em Moloch!
Moloch que penetrou cedo na minha alma! Moloch em quem sou uma consciência sem corpo! Moloch que me afugentou do meu êxtase natural! Moloch a quem abandono! Despertar em Moloch! Luz
escorrendo do céu!
Moloch! Moloch! Apartamentos de robôs! subúrbios invisíveis! tesouros de esqueletos! capitais cegas! indústrias demoníacas! nações espectrais!
invencíveis hospícios! caralhos de granito! bombas monstruosas!
Eles quebraram suas costas levantando Moloch ao Céu! Calçamentos, árvores, rádios, toneladas! Levantando a cidade ao Céu que existe e está em todo lugar ao nosso redor!
Visões! profecias! alucinações! milagres! êxtases! descendo pela correnteza do rio americano!
Sonhos! adorações! iluminações! religiões! o carregamento todo de bosta sensitiva!
Desabamentos! sobre o rio! saltos e crucifixões! descendo a correnteza!
Ligados! Epifanias! Desesperos! Dez anos de gritos animais e suicídios! Mentes! Amores novos! Geração louca! jogados nos
rochedos do Tempo!
Verdadeiro riso santo no rio! Eles viram tudo! o olhar selvagem! os berros sagrados! Eles deram adeus! Pularam do telhado! rumo à solidão!
acenando! levando flores! Rio abaixo! rua acima!


III
Carl Solomon! Eu estou com você em Rockland
onde você está mais louco do que eu
Eu estou com você em Rockland
onde você deve sentir-se muito estranho
Eu estou com você em Rockland
onde você imita a sombra da minha mãe
Eu estou com você em Rockland
onde você assassinou suas doze secretárias
Eu estou com você em Rockland
onde você ri deste humor invisível
Eu estou com você em Rockland
onde somos grandes escritores na mesma abominável máquina de escrever
Eu estou com você em Rockland
onde seu estado se tomou muito grave e é noticiado pelo rádio
Eu estou com você em Rockland
onde as faculdades do crânio não aguentam mais os vermes dos sentidos
Eu estou com você em Rockland
onde você bebe o chá dos seios das solteironas de Utica
Eu estou com você em Rockland
onde você bolina os corpos das suas enfermeiras as hárpias do Bronx
Eu estou com você em Rockland
onde você grita dentro de uma camisa de força que está perdendo o verdadeiro jogo de pingue-pongue do abismo
Eu estou com você em Rockland
onde você martela o piano catatônico a alma é inocente e imortal e nunca poderia morrer impiamente num hospício armado,
Eu estou com você em Rockland
onde com mais cinquenta eletrochoques sua alma nunca mais
retornará a seu corpo de volta da sua peregrinação rumo a uma cruz no vazio
Eu estou com você em Rockland
onde você acusa seus médicos de loucura e prepara a revolução socialista hebraica contra o Gólgota nacional e fascista
Eu estou com você em Rockland
onde você rasga os céus de Long Island e faz surgir seu Jesus vivo e humano do túmulo sobre-humano
Eu estou com você em Rockland
onde há mais vinte e cinco mil camaradas loucos todos juntos cantando os versos finais da Internacional
Eu estou com você em Rockland
onde abraçamos e beijamos os Estados Unidos sob nossas cobertas os Estados Unidos que tossem a noite toda e não nos deixam dormir
Eu estou com você em Rockland
onde despertamos eletrocutados do coma pelos nossos próprios aeroplanos da mente roncando sobre o telhado eles vieram jogar bombas angelicais o hospital ilumina-se paredes imaginárias desabam Ó legiões esqueléticas correi para fora Ó choque de misericórdia
salpicado de estrelas a guerra eterna chegou Ó vitória esquece tua roupa de baixo estamos livres
Eu estou com você em Rockland
nos meus sonhos você caminha gotejante de volta de uma viagem marítima pela grande rodovia que atravessa a América em lágrimas até a porta do meu chalé dentro da Noite Ocidental

Fragmento 1956

Agora, para a vinda do poema, que eu seja digno dele
& cante santamente o pathos natural da alma humana,
a pele nua e original sob nossos sonhos
& roupagens do pensamento, a própria identidade perfeita
radiante de paixões e rostos intelectuais
Quem carrega as linhas, a dolorosa contorção
enrugada sobre os olhos, o corpo todo
respirando e sensível entre flores e prédios
de olhos abertos, autoconsciente, trêmulo de amor -
Alma que eu tenho, que Jack tem, Húncke tem,
Bill tem, Joan tinha e ainda tem na minha lembrança,
que o vagabundo tem nos seus trapos, o louco em sua roupa preta.
Almas idênticas umas às outras, assim como parado na
esquina há dez anos atrás eu olhei Jack
e lhe disse que éramos a mesma pessoa - olha
nos meus olhos e fala com você mesmo, isso me torna o
amante de todo mundo, Hal meu contra sua vontade,
eu já tinha sua alma no meu corpo quando
ele olhava zangado -junto ao lampião da 8? Avenida e 27ª
Rua em 1947 - eu acabara de voltar da África
com um vislumbre da visão que na verdade
viria para mim no seu tempo assim como viria para todos -Jack
o pior assassino, Alien o maior covarde
com uma faixa de amor amarelo atravessando
os meus poemas, uma bicha da cidade, Joe Army gritando
de aflição na prisão de Dannemora em 1945,
quebrando os brancos nós dos seus dedos nas grades
seu triste companheiro parvo de cela levando porradas dos guardas
um assoalho de ferro por baixo, Gregory chorando em Tombs
Joan com olheiras sob os olhos de benzedrina
escutando a paranóia pela parede,
Huncke de Chicago sonhando nas Arcadas
do infernal Pokerino de luz azul na pele de Times Square,
o pálido rosto aos berros de Bill King na janela do metrô
debatendo-se no minuto final do vão da morte para voltar,
o próprio Morphy, arqui-suicida, esvaindo-se em sangue
no Passaic, trágico e perplexo nas suas
últimas lágrimas, atingindo a morte naquele instante
humano, intelectual, barbudo, quem mais
seria ele nesse momento a não ser ele mesmo?

O Automóvel Verde

Se eu tivesse um Automóvel Verde
iria procurar meu velho companheiro
na sua casa no oceano ocidental.
Ha! Ha! Ha! Ha! Ha!

Tocaria minha busina na sua máscula porta,
lá dentro sua mulher e três
crianças espreguiçando-se nuas
no assoalho da sala.

Ele viria correndo para fora
até meu carro cheio de heróica cerveja
e pularia gritando ao volante
pois ele é o maior volante.

Peregrinaríamos até a mais alta montanha
das nossas antigas visões das Montanhas Rochosas
rindo nos braços um do outro,
nosso deleite acima das mais altas Rochosas.

e depois da antiga agonia, bêbados de anos novos,
lançando-nos até o nevado horizonte
arrebentando o pára-lama com bop original
de carro envenenado na montanha

sacudiríamos a nevoenta rodovia
onde anjos de angústia
cambaleiam entre as árvores
e berram diante do motor.

Arderíamos a noite toda entre os pinheiros do pico
visíveis de Denver na escuridão do verão,
clarão nada natural da floresta
clareando o topo da montanha:

infância adolescência idade & eternidade
se abririam como doces árvores
para as noites de outra primavera
atordoando-nos de amor,

pois juntos somos capazes de ver
a beleza das almas
ocultas como os diamantes
dentro do relógio do mundo,

somos capazes, assim como os mágicos
chineses, de confundir os imortais
com nossa intelectualidade
escondida na neblina,

no Automóvel Verde
que eu inventei
imaginei e visualizei
nas estradas do mundo

mais real que o motor
numa pista do deserto
mais puro que Greyhound e
mais rápido que o jato físico.

Denver! Denver! voltaremos
roncando pelo gramado do edifício City &County
que recebe a pura chama esmeralda
raiando no rasto do nosso carro.

Desta vez compraremos a cidade!
Descontei um grande cheque no caixa do meu crânio
para abrir uma miraculosa universidade do corpo
no teto da estação rodoviária.

Porém primeiro percorreremos os pontos do centro da cidade
bilhares barracos botequins de jazz cadeia
prostíbulos da rua Folsom
até os mais escuros becos de Larimer

prestando homenagem ao pai de Denver
perdido nos trilhos da ferrovia,
estupor de vinho e silêncio
reverenciando os cortiços das suas décadas,

nós o saudaremos e à sua santificada maleta
de escuro moscatel, beberemos e
quebraremos as doces garrafas
em Diesels demonstrando nossa fidelidade.

E depois seguiremos guiando bêbados pelas avenidas
por onde marcharam exércitos e por onde ainda desfilam
cambaleando sob o invisível
pendão da Realidade —

trombando pelas ruas
no automóvel do nosso destino
dividiremos um cigarro de arcanjo
e adivinharemos o futuro um do outro:

famas de sobrenatural iluminação,
desolados e chuvosos vãos no tempo,
a grande arte aprendida na desolação
e nossa separação “beat” seis décadas depois. . .

e numa encruzilhada de asfalto
nos tratamos mais uma vez com
principesca gentileza, lembrando
famosas conversas mortas de outras cidades.

O pára-brisas cheio de lágrimas,
a chuva que molha nosso peito nu,
e juntos nos ajoelhamos na escuridão
no meio do tráfego noturno do paraíso

agora renovando o solitário juramento
que fizemos um para o outro
certa vez no Texas:
não posso inscrevê-lo aqui. . .
Quantas noites de Sábado
teremos deixado bêbadas com esta lenda?
Como fará a jovem Denver para carpir
seu olvidado anjo sexual?

Quantos garotos baterão no piano negro
imitando os excessos de um santo da terra?
Ou garotas que cederão ao desejo sob seu espectro
nos colégios da noite melancólica?

Quando tivermos o tempo todo na Eternidade
na tênue luz de rádio deste poema
sentaremos atrás das sombras esquecidas
ouvintes do jazz perdido de todos os Sábados.

Neal, agora seremos heróis reais
numa guerra entre nossos caralhos e o tempo:
vamos ser os anjos do desejo do mundo
e levemos o mundo para a cama conosco antes de
morrer.

Dormindo sós ou acompanhados
por garota ou garoto ou sonho,
não me faltará o amor e a você a saciedade:
todos os homens caem, nossos pais caíram antes,

mas ressuscitaremos essa carne perdida,
nada mais que o trabalho de um momento da mente:
um monumento fora do tempo para o amor
na imaginação:

um mausoléu construído por nossos próprios corpos
consumidos pelo poema invisível -
tremeremos em Denver e resistiremos
mesmo que o sangue e rugas ceguem nossos olhos.

Assim, este Automóvel Verde,
eu o dou para você em fuga
um presente, um presente
da minha imaginação.

Continuaremos guiando
pelas Rochosas
continuaremos guiando
por toda a noite até a aurora,

até voltar à sua ferrovia, a Southern Pacific
sua casa e seus filhos
e seu destino de perna quebrada
você guiando de volta pela planície

o amanhecer: e eu de volta
às minhas visões, meu escritório
e apartamento no leste
retomarei a Nova York.

NY 1953

América

América eu te dei tudo e agora não sou nada.
América dois dólares vinte e sete centavos 17 de janeiro de 1956.
América não aguento mais minha própria mente.
América quando acabaremos com a guerra humana?
Vá se foder com sua bomba atômica.
Não estou legal não me encha o saco.
Não escreverei meu poema enquanto não me sentir legal.
América quando é que você será angelical?
Quando você tirará sua roupa?
Quando você se olhará através do túmulo?
Quando você merecerá seu milhão de trotskistas?
América por que suas bibliotecas estão cheias de lágrimas?
América quando você mandará seus ovos para a Índia?
Eu estou cheio das suas exigências malucas.
Quando poderei entrar no supermercado e comprar o que preciso só com minha boa aparência?
América afinal eu e você é que somos perfeitos não o outro mundo.
Sua maquinaria é demais para mim.
Você me fez querer ser santo.
Deve haver algum jeito de resolver isso.
Burroughs está em Tânger acho que ele não volta mais isso é sinistro.
Estará você sendo sinistra ou isso é uma brincadeira?
Estou tentando entrar no assunto.
Eu me recuso a desistir das minhas obsessões.
América pare de me empurrar sei o que estou fazendo.
América as pétalas das ameixeiras estão caindo.
Faz meses que não leio os jornais todo dia alguém é julgado por assassinato.
América fico sentimental por causa dos Wobblies.
América eu era comunista quando criança e não me arrependo.
Fumo maconha toda vez que posso.
Fico em casa dias seguidos olhando as rosas no armário.
Quando vou ao Bairro Chinês fico bêbado e nunca consigo alguém para trepar.
Eu resolvi vai haver confusão.
Você devia ter me visto lendo Marx.
Meu psicanalista acha que estou muito bem.
Não direi as Orações ao Senhor.
Eu tenho visões místicas e vibrações cósmicas.
América ainda não lhe contei o que você fez com Tio Max depois que ele voltou da Rússia.
Eu estou falando com você.
Você vai deixar que sua vida emocional seja conduzida pelo Time Magazine?
Estou obcecado pelo Time Magazine.
Eu o leio toda semana.
Sua capa me encara toda vez que passo sorrateiramente pela confeitaria da esquina.
Eu o leio no porão da Biblioteca Pública de Berkeley.
Está sempre me falando de responsabilidades. Os homens de negócios são
sérios. Os produtores de cinema são sérios. Todo mundo é sério menos eu.
Passa pela minha cabeça que eu sou a América.
Estou de novo falando sozinho.
A Ásia se ergue contra mim.
Não tenho nenhuma chance de chinês.
É bom eu verificar meus recursos nacionais.
Meus recursos nacionais consistem em dois cigarros de maconha milhões de genitais uma literatura pessoal impublicável a 2.000 quilômetros por hora e vinte e cinco mil hospícios.
Nem falo das minhas prisões ou dos milhões de desprivilegiados que vivem nos meus vasos de flores à luz de quinhentos sóis.
Aboli os prostíbulos da França, Tânger é o próximo lugar.
Ambiciono a Presidência apesar de ser Católico.
América como poderei escrever uma litania neste seu estado de bobeira?
Continuarei como Henry Ford meus versos são tão individuais como seus carros mais ainda todos têm sexos diferentes.
América eu lhe venderei meus versos a 2.500 dólares cada com 500 de abatimento pela sua estrofe usada.
América liberte Tom Mooney
América salve os legalistas espanhóis.
América Sacco & Vanzetti não podem morrer
América eu sou os garotos de Scottsboro
América quando eu tinha sete anos minha mãe me levou a uma reunião da célula do Partido Comunista eles nos vendiam grão de bico um bocado por um bilhete um bilhete por um tostão e todos podiam falar todos eram angelicais e sentimentais para com os trabalhadores era tudo tão
sincero você não imagina que coisa boa era o Partido em 1935 Scott Nearing era um velho formidável gente boa de verdade Mãe Bloor me
fazia chorar certa vez vi Israel Amster cara a cara. Todo mundo devia ser espião.
América a verdade é que você não quer ir à guerra.
América são eles os Russos malvados.
Os Russos os Russos e esses Chineses. E esses Russos.
A Rússia nos quer comer vivos. O poder da Rússia é louco. Ela quer tirar nossos carros das nossas garagens.
Ela quer pegar Chicago. Ela precisa de um Reader’s Digest vermelho. Ela quer botar nossas fábricas de automóveis na Sibéria. A grande burocracia dela mandando em nossos postos de gasolina.
Isso é ruim. Ufa. Ela vai fazê os Índio aprendê vermelho. Ela quer pretos bem grandes. Ela quer nos fazê trabalhá dezesseis horas por dia.
Socorro!
América tudo isso é muito sério.
América essa é a impressão que tenho quando assisto à televisão.
América será que isso está certo?
É melhor eu pôr as mãos à obra.
É verdade que não quero me alistar no Exército ou girar tornos em fábricas de peças de precisão. De qualquer forma sou míope e psicopata.
América eu estou encostando meu delicado ombro à roda.

Nota de rodapé para Uivo

Santo! Santo! Santo! Santo! Santo! Santo! Santo! Santo! Santo! Santo!
Santo! Santo! Santo! Santo! Santo!
O mundo é santo! A alma é santa! A pele é santa! O nariz é santo! A língua e o caralho e a mão e o cu são santos!
Tudo é santo! todos são santos! todo lugar é santo! todo dia é eternidade!
todo mundo é um anjo!
O vagabundo é tão santo quanto o serafim! o louco é tão santo quanto você minha alma é santa!
A máquina de escrever é santa o poema é santo a voz é santa os ouvintes são santos o êxtase é santo!
Santo Peter santo Allen santo Solomon santo Lucien santo Kerouac santo Huncke santo Burroughs santo Cassady santos os mendigos desconhecidos sofredores e fodidos santos os horrendos anjos humanos!
Santa minha mãe no asilo de loucos! Santos os caralhos dos vovôs de Kansas!
Santo o saxofone que geme! Santo o apocalipse bop! Santos a banda de jazz marijuana hipsters paz & droga & sonhos!
Santa a solidão dos arranha-céus e calçamentos! Santas as cafeterias cheias de milhões! Santo o misterioso rio de lágrimas sob as ruas!
Santo o solitário Jagarnata! Santo o enorme cordeiro da classe média!
Santos os pastores loucos da rebelião! Quem saca que Los Angeles é Los Angeles!
Santo Nova York! Santo San Francisco Santo Peoria & Seattle Santo Paris
Santo Tânger Santo Moscou Santo Istambul!
Santo o tempo na eternidade santa a eternidade no tempo santos os despertadores no espaço santa a quarta dimensão santa a quinta internacional santo o anjo em Moloch!
Santo o mar santo o deserto santa a ferrovia santa a locomotiva santas as visões santas as alucinações santos os milagres santo o globo ocular santo o abismo!
Santo perdão! misericórdia! caridade! fé! Santo! Nossos! corpos!
sofrendo! magnanimidade!
Santa a sobrenatural extra brilhante inteligente bondade da alma!

Quem Dominará O Universo?

Uma amarga fria noite de inverno
conspiradores nas mesas do café
                discutindo prisões místicas
A Revolução na América
        já começou não bombas, mas greves
                 assentamentos no topo de submarinos
        em calçadas próximas à Prefeitura —
Quantas famílias controlam os Estados?
        Ignorem o Governo,
                 enviem seu protesto para Clint Murchison.
Os Índios venceram a causa com o Juiz McFate
                                Peiote seguro no Arizona —
         Em meu quarto um junky enjoado
                                         treme no 7° dia
                                Choroso, renascido ao Inverno
Che Guevara tem pau grande
                                         as bolas de Castro são rosa —
O Fantasma de John F. Dulles paira
                                 sobre a América feito linho sujo
         posto sobre o rubro ocaso invernal,
         Fumos de Gás Inconsciente
                                 emanam de seu cadáver
                  & hipnotizam os intelectuais Egípcios —
Ele range os dentes em horror & cruza seus
                                  fêmures sobre o crânio
          Sopra poeira de seu cu
                   suas mãos estão cheias de bactéria
                                   O verme está em seu olho —
           Ele está declarando contrarrevoluções no Mundo-verme,
                    meu gato vomitou-o na útima
                                                        Quinta.
& Forrestal voou de sua janela feito uma Águia —
América está gastando dinheiro para destituir o Homem
                                    Quem são os dominadores da terra?

 
New York, 6 de janeiro de 1961.

Para um velho poeta no Peru

Porque nos encontramos ao escurecer
Debaixo da sombra do relógio
da estação
Quando minha sombra visitava Lima
E seu espectro morria em Lima
rosto velho precisando fazer a barba
E minha barba juvenil brotando
magnífica como os cabelos dos mortos
nas areias de Chancay
Porque por engano pensei que você estava
melancólico
Saudando seu pé de 60 anos de idade
com o cheiro de morte
das aranhas no assoalho
E você saudando meus olhos
com sua voz de anisete
Por engano aChando-me genial
por eu ser tffo moço
(meu rock and roll é o movimento de um
anjo voando na cidade moderna)
(seu obscuro arrastar os pés é o movimento
de um serafim que perdeu
suas asas)
Beijo-o na sua gorda bochecha (mais uma vez amanhã
Debaixo do esplêndido relógio de Disaguaderos)
Antes de eu partir para minha morte num desastre aéreo
na América do Norte (há muito tempo)
E você partir para seu ataque do coração numa rua
indiferente da América do Sul
(Ambos rodeados pelos gritos
de comunistas com flores
enfiadas no cu)
—você muito antes de mim —
ou numa longa noite só num quarto
no velho hotel do mundo
observando uma porta negra
...rodeado de pedaços de papel
MORRE COM GRANDEZA NA TUA SOLIDÃO
Velho ,
Eu profetizo a Recompensa
Mais vasta que as areias de Pachacamac
Mais brilhante que uma máscara de ouro batido
Mais doce que o gozo dos exércitos nus
fodendo no campo de batalha
Mais rápida que um tempo passado entre
a velha noite de Nasca e a nova Lima
ao anoitecer
Mais estranha que nosso encontro junto ao Palácio
Presidencial em um café
fantasmas de uma velha ilusSo, fantasmas
do amor indiferente —
A OFUSCANTE INTELIGÊNCIA
Emigra da morte
Para oferecer-te novamente um sinal da Vida
Bravia e bela como uma trombada de automóveis
na Plaza de Armas
Eu juro que vi essa Luz
Não deixarei de beijar sua horrenda bochecha
quando seu caixão for fechado
E os carpidores humanos partirem
para seu velho e cansado
Sonho.
E você despertar no Olho do
Ditador do Universo.
Outro milagre estúpido! Estou
enganado mais uma vez!
Sua indiferença! meu entusiasmo!
Eu insisto! Você tosse!
Perdidos no vagalhão de Ouro que
escorre através do Cosmos.
Argh, estou cansado de insistir! Até logo,
eu vou para Pucalpa
para ter visões.
Seus límpidos sonetos?
Eu quero ler seus mais sujos
e secretos rascunhos,
sua Esperança,
na Sua mais obscena Magnificência. Meu Deus!

19 de Maio de 1960
Poetry Breaks: Allen Ginsberg Reads "A Supermarket in California"
Allen Ginsberg on Letterman, June 10, 1982
Allen Ginsberg interview (1994)
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Beats in NYC (1959) - Allen Ginsberg, Jack Kerouac & Friends ( AI Colourised)
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"Howl" read by Allen Ginsberg, 1975
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