Augusto Meyer

Augusto Meyer

Augusto Meyer foi um jornalista, ensaísta, poeta, memorialista e folclorista brasileiro. Foi membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia Brasileira de Filologia. Filho dos imigrantes alemães Augusto Ricardo Meyer e Rosa Meyer.

1902-01-24 Porto Alegre RS
1970-07-10 Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
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Alguns Poemas

Canção do Negrinho do Pastoreio

Negrinho do Pastoreiro,
Venho acender a velinha
que palpita em teu louvor.
A luz da vela me mostre
o caminho do meu amor.

A luz da vela me mostre
onde está Nosso Senhor.

Eu quero ver outra luz
clarão santo, clarão grande
como a verdade e o caminho
na falação de Jesus.

Negrinho do Pastoreiro
diz que Você acha tudo
se a gente acender um lume
de velinha em seu louvor.

Vou levando esta luzinha
treme, treme, protegida
contra o vento, contra a noite. . .
É uma esperança queimando
na palma da minha mão.

Que não se apague este lume!
Há sempre um novo clarão.
Quem espera acha o caminho
pela voz do coração.

Eu quero achar-me, Negrinho!
(Diz que Você acha tudo).
Ando tão longe, perdido...
Eu quero achar-me, Negrinho:
a luz da vela me mostre
o caminho do meu amor.

Negrinho, Você que achou
pela mão da sua Madrinha
os trinta tordilhos negros
e varou a noite toda
de vela acesa na mão,
(piava a coruja rouca
no arrepio da escuridão,
manhãzinha, a estrela dalva
na luz do galo cantava,
mas quando a vela pingava,
cada pingo era um clarão).
Negrinho, Você que achou,
me leve à estrada batida
que vai dar no coração.
(Ah! os caminhos da vida
ninguém sabe onde é que estão!)

Negrinho, Você que foi
amarrado num palanque,
rebenqueado a sangue
pelo rebenque do seu patrão,
e depois foi enterrado
na cova de um formigueiro
pra ser comido inteirinho
sem a luz da extrema-unção,
se levantou saradinho,
se levantou inteirinho.
Seu riso ficou mais branco
de enxergar Nossa Senhora
com seu Filho pela mão.

Negrinho santo, Negrinho,
Negrinho do Pastoreio,
Você me ensine o caminho,
pra chegar à devoção,
pra sangrar na cruz bendita
pelo cravos da Paixão.
Negrinho santo, Negrinho,
Quero aprender a não ser!
Quero ser como a semente
Na falação de Jesus,
semente que só vivia
e dava fruto enterrada,
apodrecendo no chão.

Augusto Meyer (Porto Alegre RS, 1902 - Rio de Janeiro RJ, 1970) cursou a faculdade de Direito, em Porto Alegre, mas não chegou a completá-la. Em 1919 publicou o conto Pastelão na revista A Máscara, da capital gaúcha. Nos anos seguintes trabalhou como colaborador do Correio do Povo e do Diário de Notícias. Seu primeiro livro de poesia, Ilusão Querida, saiu em 1923. Fundou, em 1926, a revista Madrugada, com Theodomiro Tostes, J.M.A. Cavalcanti, João Santana, Miranda Netto e Sotero Cosme. No mesmo ano, publicou Coração Verde. Posteriormente foram lançados Giraluz (1928), Duas Orações (1928), Poemas de Bilu (1929), Sorriso Interior (1930), Literatura & Poesia (1931). A partir de 1937 foi Diretor do Instituto Nacional do Livro, no Rio de Janeiro, em várias ocasiões. Nas décadas seguintes, publicou vários livros de ensaios. Entre 1952 e 1965 foi Professor de Teoria Literária na Universidade do Brasil (RJ), e em 1954 lecionou Literatura Brasileira na Universidade de Hamburgo (Alemanha). Publicou ainda Últimos Poemas (1955) e Poesias, 1922/1955 (1957). Em 1960 foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras. Poeta filiado à primeira geração do Modernismo, Augusto Meyer foi um dos divulgadores da estética modernista no Rio Grande do Sul.
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