Forough Farrokhzad

Forough Farrokhzad

Forugh Farrojzad, foi uma poetisa, cineasta e escritora iraniana. Foi considerada uma das personalidades literárias mais importantes de seu país no século XX. Em seu estilo, buscou trazer para a poesia termos coloquiais. Foi um símbolo feminista do Irã.Referências

1935-01-05 Teerão
1967-02-13 Tafresh
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Alguns Poemas

só o som permanece

por que eu deveria deter-me, por quê?
os pássaros partiram em busca
da direção azul.
o horizonte é vertical, vertical
e o movimento uma fonte;
e nos limites da visão
planetas brilhantes giram.
a terra elevando-se alcança a repetição,
e poços de ar
tornam-se túneis de conexão;
e o dia é uma vastidão,
que não cabe na mente estreita
de vermes de jornal.
por que deveria deter-me?
a estrada passa pelos capilares da vida,
a qualidade do ambiente
na nau do útero da lua
matará as células corrompidas.
e no espaço químico após a aurora
há som apenas,
som que atrairá as partículas do tempo.
por que me deter?
o que pode ser um pântano?
o que pode ser um pântano senão campo de fermentação
de insetos corruptos?
cadáveres inchados rabiscam os pensamentos do necrotério,
o impotente esconde
sua falta de virilidade em escuridão,
e o besouro... ah,
se o besouro fala,
por que eu me deteria?
cooperação em letras de chumbo é fútil,
eu não salvarei o pensamento baixo.
sou descendente da casa das árvores.
respirar esse ar velho me deprime.
um pássaro morto aconselhou-me
guardar o voo para a memória.
o âmbito final dos poderes é a união,
unindo-se ao princípio luminar do sol
e derramando-se na compreensão da luz.
é natural que moinhos desmoronem.
por que me deter?
eu aperto contra o peito
os feixes verdes de trigo
e os amamento.
som, som, só som,
o som do desejo límpido
da água em fluir,
o som da queda de luz em estrela
no muro da feminilidade da terra,
o som dos laços do esperma do sentido
e a expansão da mente do amor em partilha.
som, som, som,
apenas som permanece.
na terra de anões,
os critérios de comparação
sempre viajaram a órbita do zero.
por que me deter?
eu obedeço os quatro elementos
e a tarefa de delinear
a constituição do meu coração
não é negócio
para o governo local dos cegos.
o que é o selvagem e longo gemido
dos órgãos sexuais de animais para mim?
o que para mim é o movimento humilde
do verme em seu vácuo carnal?
a ancestralidade que sangra das flores
comprometeu-me com a vida.
você tem familiaridade com o que sangra
da ancestralidade das flores?
(paráfrase de Ricardo Domeneck)
.
.
.
Forough Farrokhzad foi uma poeta e cineasta iraniana, nascida em Teerã em 1935. É uma das poetas mais famosas do Irã no pós-guerra, irmã do poeta e compositor Fereydoun Farrokhzad (1938 - 1992) – assassinado na Alemanha por suas críticas ao Aiatolá Komeini, e da também poeta Pooran Farrokhzad. Em 1952, foi casada por sua família com o escritor Parviz Shapour (1924 – 2000), com quem teve um filho, separando-se após 2 anos de casamento.
 
Publicou seu primeiro volume de poesia em 1954, com o título A Cativa. Divorciada e escrevendo poesia considerada controversa em uma sociedade conservadora, Forough Farrokhzad tornou-se famosa, envolta em polêmica, e um símbolo para as mulheres iranianas. Ela publicaria ainda três volumes de poemas, considerados revolucionários para a tradição da poesia em persa, e dirigiria o belíssimo filme The House Is Black (1962), que pode ser visto abaixo. Recomendo-o com todas as minhas fibras.
 
No dia 13 de fevereiro de 1967, para evitar uma colisão com um ônibus escolar, Forough Farrokhzad lançou seu carro contra um muro. A poeta, com 32 anos, morreu a caminho do hospital.
 
--- Ricardo Domeneck
 
 
 
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