Ilka Brunhilde Laurito

Ilka Brunhilde Laurito

Ilka Brunhilde Laurito foi uma escritora, poetisa e professora brasileira.

1925-07-10 São Paulo, Brasil
2012-12-11 Corumbataí
13889
0
3


Prémios e Movimentos

Jabuti 1987

Alguns Poemas

X [Meu amado não é servo nem é rei

Meu amado não é servo nem é rei,
é transeunte do cotidiano, que se move onde estou eu.
Tem uma cabeça, tensa de sonho e pensamento,
que inventa o que haveria de ser
e sabe o que lembrar e o que esquecer.
Os cabelos encanecem aos ventos crespos,
são fios nervosos que perscrutam a dor dos tempos
e só se alisam na trégua entre meus dedos.
Ele me olha atentamente
decifrando a epiderme de secreta pele.
Seu olho é azul, castanho, verde ou negro?
Só sei que a cor que mora dentro deles
é a luz solar em que me aqueço.
O rosto grave, que em sorrisos se mascara,
eu o cubro de ternuras como as espumas que lhe tocam
a barba.
A boca tem sabor de menta e de cigarro:
é o gosto da palavra que engulo no seu hálito
quando entre nós o beijo cala o vão diálogo.
As mãos são grandes, ásperas e cálidas, mãos operárias
no manejo exato da máquina e do lápis,
talvez da arma em tempos mais precários,
da flor capazes nas horas amoráveis.
Sua voz é morna e calma,
em mim ela se grava como em clave de carne o som do
amor em brasa.
O tronco é arquitetura eficiente para erguer um homem
acima do pó e das sarjetas.
Nele se agitam os braços na maré presente
e correm os pés no encalço de melhores ventos
e é destro o sexo em exercício de ancestral silêncio.
No corpo inteiro, sangue, músculos e nervos.
O resto, poros, pele, pelos.
Ele não é esbelto como o cedro ou outra espécie de
madeira:
é de matéria carnal, com dobras, curvaturas, rugas,
franzimentos,
e sua altura se flexiona humanamente.
Ele tem sombra, pois o sol é dele.
Eis seu retrato, ó filhas da cidade: olhai como eu o vejo.


Poema integrante da série Solo Urbano para um Cântico dos Cânticos.

In: LAURITO, Ilka Brunhilde. Canteiro de obras. São Paulo: Edicon: J. Scortecci, 1985. (Aldebarã)

Ciranda dos Meninos da Cidade Grande

Senhora Dona Sancha
coberta de ouro e prata
que anjos são esses
que andam rodeando
pelas ruas da cidade
dia e noite noite e dia
padre-nosso! ave-maria!?...

É o anjo-fujão-de-casa
que veio de circo em circo
andando no trem de carga
ou no aéreo porta-mala.

É o anjo-luz-dos-sapatos
(vai graxa negra, patrão?)
ajoelhado aos pés do homem
que é quem lhe deve perdão.

É o anjo-da-guarda-dos-carros
pastor de ovelhas de lata
assobiando na flauta
da sua garganta asmática.

É o anjo-do-amendoim
(nem um pouco afrodisíaco)
fugindo ao rapa do fisco,
ao seu medo e à sua anemia.

(...)

É o anjo-torto-e-raquítico
apodrecendo faminto
e amamentando na esquina
com leite de mãe menina.

É o anjo-dos-restaurantes
catando as migalhas das mesas
onde os problemas do mundo
naufragam em mar de cerveja.

É o anjo-da-rosa-noturna
vendendo aos noivos que riem
o aroma sem cor de seu mundo
e a murcha flor de sua vida.

É o anjo-carregador
chupando a laranja podre
que cai do excessivo cesto
da despesa das patroas.

(...)

É o anjo-rei-dos-mendigos,
filho de mãe postiça
orfão de pai foragido
adotivo do Juizado.

É o anjo-do-sexo-triste
herdeiro da tara e sífilis
no seu promíscuo exercício
nos quatro cantos das ruas.

É o anjo-das-negras-nuvens
que saem da boca do vício
puxando o sonho proibido
do ópio que o faz mais livre.

É o anjo-assaltante-franzino,
o corpo atrás do revólver,
matando o ódio do amor
em cada tiro assassino.

Senhora Dona Sancha
dê seu ouro dê sua prata
que estes anjos não são anjos
são os filhos da cidade
— nossos filhos, mãe de asfalto —
rodeando dia e noite noite e dia
sem pai nosso! e sem maria.

1975

Imagem - 00660002


Poema integrante da série Inéditos, 1971/1977.

In: LAURITO, Ilka Brunhilde. Sal do lírico: antologia poética. São Paulo: Quíron, 1978. p.36-38. (Sélesis, 13
Ilka Brunhilde Laurito (São Paulo SP 1925) publicou seu primeiro livro de poesia, Caminho, em 1948. No ano seguinte licenciou-se em Letras pela Universidade de São Paulo. Vem publicando desde então contos, crônicas e literatura infanto-juvenil. Nas décadas de 1960 e 1980 trabalhou no magistério secundário e superior. Foi diretora do Departamento de Cinema e Educação da Cinemateca Brasileira, em 1962. Entre 1969 e 1975 participou em movimentos de divulgação, como Poesia na Praça, com exposição de poemas na Praça da República, em São Paulo SP. Na década de 1980 organizou o livro Casimiro de Abreu, da coleção Literatura Comentada (Abril Educação), e publicou Crônica: História, Teoria e Prática, em co-autoria com Flora Bender. Entre 1987 e 1990 recebeu o Prêmio Jabuti de Poesia, pelo livro Canteiro de Obras, e o Prêmio Jabuti de Literatura Juvenil, pelo livro A Menina que Fez a América. Em 1995 ocorreu a publicação de seu livro de crônicas Parque de Diversões. A poesia de Ilka Brunhilde Laurito é de tendência contemporânea; entre suas obras estão Autobiografia de Mãos Dadas (1958), Janela de Apartamento (1968) e Genetrix (1982). O crítico Alcides Villaça afirmou, sobre Canteiro de Obras (1985): “estes poemas têm a natureza de um múltiplo cultivo amoroso: do outro, da palavra, do espelho exigente. Porque líricos, dirigem a tudo que tocam um chamado que tem corpo, gesto e rosto; porque maduros, trabalham dolorosamente a falta de uma resposta plena, que nem o amado, nem os nomes, nem o auto-retrato pode oferecer.”
A Professora Ilka Brunhilde Laurito nas memórias de Irene Maria Ferreira Barbosa
A Menina que fez a América | Ilka Brunhilde Laurito
A menina que fez a América de Ilka Brunhilde Laurito | shorts #ficção #book #leitura
livro Sete faces do sobrenatural - Ilka Brunhilde Laurito e outros /177
A menina que descobriu o Brasil escritora:Ilka Brunhilde Laurito
A menina que descobriu o Brasil l Ilka Laurito- MLM 2018
Cânticos à Rainha do céu
Cânticos ao Pai Celestial
Cânticos ao Amor Divino
Brincando com Poesia - Quintal da Cultura - 22/05/2015
Cânticos a Virgem Maria
Brincando com Poesia - Quintal da Cultura - 14/05/2015
Cânticos à Gloria do Senhor
A Menina que descobriu o Brasil 6A
Poesia quando nasce... | Walter Weiszflog | Poesia infantil
Cânticos a Mãe do Salvador
Cânticos ao Menino Jesus
Cânticos de Natal
Salmos ao Rei Davi
Correção das atividades do Suplemento de Leitura- 14-09-2020- 801
Cânticos ao Divino Redentor
Lembranças e Museus #ConstruçãodeMemórias
Recital de Canções
15 Salmo 121
8 Salmo 119
12 Salmo 61,64 e 59
13 Salmo 137
7 Salmo 97
A menina que fez bagunça
Eunice Arruda - Só a poesia nos Salvará
14 Salmo 25
9 Salmo 55
Cânticos ao Cordeiro de Deus
16 Salmo 98
Exame Biométrico
11 Salmo 144 e 145
10 Salmo 23
Livro a menina que fez a América
Declaração da Ilka!!!
A MENINA QUE FEZ A AMÉRICA - ASPECTOS DA OBRA
Revisão-correção das atividades do livro- 04-05-2020 901
Projeto Estrela Estrelinha: História infantil: A MELHOR FAMÍLIA DO MUNDO
Residência Aberta, Quais Procedimentos?
Hugo, a máquina de abraçar | Scott Campbell
GEOGRAFIA/ A CHEGADA DOS ESTRANGEIROS/ PROFESSOR FRANCISCO SOARES
LITERATURA - 8º ANO (A MENINA QUE FEZ A AMÉRICA / CAP. 7, 8 e 9)
POESIA A ESTRELINHA
8ºANOS - PORTUGUÊS - PROFª FRANCE - ANALISE DO LIVRO LITERÁRIO A MENINA QUE FEZ A AMÉRICA .
8º ANOS- PORTUGUÊS PROFª FRANCE- ANÁLISE DO LIVRO LIT."A MENINA QUE FEZ A AMÉRICA" E POEMA PÁG.23.
Leitura do poema A estrelinha
Danilo
Falta oque ela falo
22/setembro/2015
Dayane vasconcelos
Esse saite é maravilhoso só que eu não achei :oque marcou a vida da autora
22/setembro/2015

Quem Gosta

Seguidores