Itinerário simples de sua ausência
Hoje não vieste ao parque.
Poderia pôr-me a recolher do solo
a luz desorientada e sem objeto
que caiu em teu banco.
Para que vou falar
se não está teu silêncio.
Para que hei de olhar sem tua olhada.
E este relógio do coração que espera
golpeando
e doendo.
Esta noite de lua e tu distante.
Necessito a meu lado tuas perguntas.
E te encontrar no ar como brasa,
como uma chama doce,
como silêncio e regaço,
como noite e repouso, como quando
guiávamos a nossa lua até a casa.
Que buquê de rosas esquecidas.
Que tíbia pluma e mansa luz
teu corpo como uma árvore,
como uma árvore gritando
com tanto poro aberto, com tanto sangue
em ondas doces elevando-se.
Oh, sagrada torrente do naufrágio.
Como amaria me perder