Lhasa de Sela

Lhasa de Sela

Lhasa de Sela foi uma cantora estadunidense, radicada no Canadá.

1972-09-27 Big Indian, New York, U.S.
2010 Montreal
325
0
0

Lhasa de Sela nasceu na pequena cidade de Big Indian, no estado americano de Nova Iorque, em 1972. Passaria a infância viajando com o pai mexicano e a mãe, uma americana de ascendência judia, pelo México e os Estados Unidos com seus oito irmãos. Mais tarde fixou residência em Montreal, no Canadá, onde começou a se apresentar em bares e clubes da cidade. O primeiro álbum de poemas líricos seria lançado em 1997, intituladoLa llorona, com poemas de sua autoria e performances para poemas da tradição mexicana. Em 2003, Lhasa de Sela alcança certo culto ao lançar o álbumThe Living Road, que seria seguido deLhasa, em 2009. Nesse momento, já havia sido diagnosticado o câncer que viria a matá-la na primeira noite do ano de 2010.
 
 Lhasa de Sela é aqui apresentada como poeta lírica, herdeira da tradição que tem em En Hedu'Anna e Safo de Lesbos suas matriarcas, e que passa por umtroubadour como Arnaut Daniel e umatrobairitz como Beatriz de Diá. O poema "Rising", apresentado abaixo, está entre os textos orais mais belos que pude experimentar em 2009, ano de sua "publicação". Mostrado com seu vídeo oficial, quer-se poesia verbivocovisual, feita por uma poeta que chamaria de "mídiaval" ou "multimedieval".
 
 O debate no Brasil entre literatura e oralidade, poesia escrita e poesia cantada é em geral bastante equivocado, ou no mínimo tendencioso. Ao transcrever um texto oral para a página, esperamos que ele funcione como Literatura. É uma expectativa legítima, mas não podemos nos esquecer que um poema lírico ou oral não tem obrigação de funcionar também como Literatura. Sabemos muito bem que, ao se afastar da oralidade, passamos a ter poemas escritos que também não funcionam bem em oralizações. Aí flagramos a hegemonia crítica que ainda impera, instituindo uma hierarquia, pois não se espera do poema literário que este funcione como poema oral, mas se espera do poema oral que este funcione como literatura. É claro que não podemos perder de vista o trabalho dos grandes poetas, que atingiram a harmonia de criar textos tão absolutamentetesos que sobreviveram por séculos como literatura, mesmo que tenham sido compostos para a voz, como é o caso dos poemas de Safo de Lesbos e Arnaut Daniel. Ou nos esquecemos que seus textos são "letras de música"? A escolha de nossos adjetivos já denuncia nossa est-É-tica. A busca de poemas "densos" e "concretos" demonstra uma perspectiva mais calcada no visual e na escrita. A busca de poemas "tesos" nos daria poemas que funcionam na página e na boca. Exponho aqui, obviamente, a minha est-É-tica e ideologia pessoais, tão parciais como a de qualquer outro.
 
 
 A separação crítica entre escrita e oralidade teve efeitos extremamente negativos para a nossa tradição poética, ao fazer com que os poetas orais descuidassem da escrita, perdessem qualidade textual em seus poemas, assim como fez com que os poetas-escritores fossem perdendo cada vez mais o contacto com seu público, fechando-se em si, compondo textos que não podem sair da página mesmo que quisessem, fazendo literatura de literatura para literatos.
 
 No entanto, há obviamente pesquisas que exigem o trabalho visual e literário apenas. Da mesma maneira, há pesquisas que exigem apenas a voz. É possível julgar um poema como "Rising" em seus aspectos literários, de escrita. Mas isso perderia e excluiria a imensa qualidade poética de suatextualidade vocal e suaconcretude sonora e nos daria resultados críticos parciais. Eu poderia aqui ligar a escrita de Lhasa de Sela, em um poema como "Rising", à de outros poetas norte-americanos, como por exemplo Lorine Niedecker, Robert Creeley ou Rae Armantrout. Mas eu prefiro pensar a textualidade de Lhasa de Sela nos termos da tradição dotrobar leu e de poetas como Heinrich Heine, um autor alemão que manteve em sua escrita uma ligação clara com a oralidade. Não é à toa que seu livro mais famoso (e extremamente popular na Alemanha até hoje, mesmo entre os que não leem poesia) chama-seBuch der Lieder, ou seja: livro das canções.
 
 "Rising" está entre os poemas líricos que mais me emocionaram em 2009. Aqui poderíamos entrar noutra discussão: enquanto os poetas contemporâneos continuarem a repetir o mito romântico (e desesperado) da "poesia que não serve para nada", não vejo alternativas para obter um público leitor. A poesia obviamente é "inútil", como queria Paulo Leminski, se a pensamos no contexto utilitarista de um sistema capitalista e de uma sociedade de consumo. Mas isso não significa que a poesia não tenha  várias possíveis e legítimasfunções,  funções que teve, de qualquer maneira, pelos séculos dos séculos. O medo do "subjetivo" e do "emocionado", que tanto se pregou a partir de João Cabral de Melo Neto e do grupo Noigandres, levado às últimas consequências e unido ainda a uma leitura tendenciosa do conceito de "função poética" de Jakobson, gera talvez esta situação em que nós poetas acabamos escrevendo textos que interessam apenas a outros poetas. Acaba por gerar, muitas vezes, manuais de instrução queinteressam apenas aos técnicos, não aos usuários da poesia. Vida longa a nossos antilíricos, mas vida longa também a nossos líricos. Não é justamente a essa tradição que pertencem alguns dos mais belos poemas de Augusto de Campos, como o lindo "lygiafingers"? Se já não nos é dado escrever poemas cosmogônicos, aqueles que, nas sociedades descritas por Mircea Eliade e Ernst Cassirer, sustentavam o universo em seu eixo; se nos resta no entanto a poesia lírica, como muitos afirmam ser a única que nos resta (discordo), esta poesia teve funções desde sua origem, e não consigo pensar em honra maior, para um poeta, que a de emocionar seu leitor/ouvinte em um momento de necessidade. Mantendo, obviamente, uma escrita tesa, consciente da materialidade da linguagem (a completa, visual e sonora). Talvez possamos ser inúteis para a sociedade de consumo, sem, ao mesmo tempo, nos esquecermos de nossas funções milenares. Faz sentido o que aqui digo,escrevo?
 
--- Ricardo Domeneck
 
 
 
Lhasa - 1997 - La llorona (Disco completo)
Lhasa de Sela - Con Toda Palabra (Official Video)
Lhasa - 2003 - The living road (Disco completo)
Lhasa De Sela - De Cara a la Pared - Tribute
De Cara a la Pared
Lhasa - Rising [Official Music Video]
La Llorona-Lhasa de Sela TV5
Lhasa De Sela - Love Came Here [Live In Montreal]
Lhasa De Sela - El Desierto
Lhasa De Sela - Is anything wrong(live Sunset -2009)
Love Came Here
Lhasa De Sela - Rising [Live In Montreal]
Is Anything Wrong
Lhasa de Sela -- El Pajaro
El Desierto
LHASA - Festival les vieilles charrues - 2004 - Full concert
Lhasa De Sela -Lhasa - 2009 -FULL ALBUM EXCEPT TRACK 2
Lhasa de Sela - Love came here
LHASA - La Marée Haute
CON TODA PALABRA
Lhasa de Sela - Anywhere on This Road
Lhasa De Sela - Is Anything Wrong [Live In Montreal]
Lhasa de Sela Performs : "Who by Fire" (by Leonard Cohen)
La confession - Lhasa de Sela
De cara a la Pared- Lhasa de Sela -
LHASA De Sela ' La celestina ' 5:33
My Name
Who Was Lhasa De Sela?
Anywhere on This Road
La Celestina
Lhasa de Sela . El Desierto (HQ)
Lhasa de Sela - Meu amor meu amor (& lyrics)
La Confession
Lhasa de Sela | Going In
lhasa de sela-El Pajaro
Lhasa - Con Toda Palabra (Live Grand Rex Paris)
Lhasa De Sela Quebec 2005- la Celestina-Los Peces- Soon this place will be too small.avi
Lhasa De Sela - El Desierto - live 2004
Lhasa de Sela - Luz de Luna (Cirque Pochéros, 1999)
Fool's Gold
Lhasa de Sela - El Pájaro (Live, 1998)
Lhasa De Sela - Bells [Live In Montreal]
Lhasa - Fool's Gold [Live In Montreal]
I'm Going In
Lhasa de Sela - La Frontera
Lhasa De Sela - I'm Going In(live2006)
Lhasa De Sela - La Frontera - live 2004
Lhasa De Sela - Who By Fire
El Payande
Rising - Lhasa de Sela (Video + Lyrics on Screen)

Quem Gosta

Seguidores