Mário Faustino

Mário Faustino

Mário Faustino dos Santos e Silva foi um jornalista, tradutor, crítico literário e poeta brasileiro. Morreu com apenas 32 anos de idade num desastre aéreo no Peru.

1930-10-22 Teresina PI
1962-11-27 Lima
19058
0
8


Alguns Poemas

Sextina: Altaforte

Loquitur: En Bertrans de Born
Dante Alighieri pôs este homem no inferno por
tratar-se de um provocador de desordens.

Eccovi!
Julgai-o vós!
Será que o desenterrei de novo?

A cena é em seu castelo, Altaforte. "Papiols" é seu jongleur.
"O Leopardo", a device de Ricardo Coeur de Lion.


I

Tudo prós diabos! Todo este Sul já fede a paz.
Anda cachorro bastardo, Papiols! À música!
Só sei que vivo se ouço espadas que ressoam.
Mas ah! Com os estandartes ouro e roxo e vair se opondo
Por cima de amplos campos encharcados de carmim
— Uiva meu peito então doido de júbilo.

II

Se é verão quente, encho-me então de júbilo
Quando a tormenta mata a horrenda paz,
E do negro os relâmpagos reboam seu carmim,
E os tremendos trovões rugindo-me, que música!
Doidos ventos e nuvens ululando e se opondo
Céu rachando e teus gládios, Deus, ressoam.

III

Praza aos diabos de novo que ressoem!
E os corcéis na batalha relinchando de júbilo,
De espigão na peitarra às peitarras se opondo:
Melhor o tremor de uma hora do que meses de paz
Mesa gorda, fêmeas, vinho, débil música!
Não há vinho como o sangue e seu carmim!

IV

E adoro ver o sol subir sangue-e-carmim.
E contemplo-lhe as lanças que no escuro ressoam
E transborda meu peito, dilatado de júbilo,
E rasgo minha boca de ágil música
Quando o vejo zombar, desafiando a paz,
Seu poder solitário contra o escuro se opondo.

V

Esse que teme a guerra e se acocora opondo-
Se ao que digo, não tem sangue carmim,
Só serve pra feder em feminina paz
Longe donde as aspadas trazem glória e ressoam
— Vossa morte, cadelas, recrudesce-me o júbilo
E por isso encho o ar com minha música.

VI

Papiols! papiols! Música, música!
Não há som como espadas às espadas se opondo,
Não há grito como na batalha o júbilo,
Cotovelos e espadas gotejando carmim,
Quando contra "O Leopardo" nossas cargas ressoam.
Deus maldiga quem quer que grite "Paz!"

VII

Que a música da espada os cubra de carmim!
Praza ao diabo, de novo, espadas que ressoam!
Praza ao diabo apagar o pensamento "Paz!"

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Poema integrante da série Fontes e Correntes da Poesia Contemporânea: 13. Ezra Pound.

In: FAUSTINO, Mário. Poesia-experiência. Introd. Benedito Nunes. São Paulo: Perspectiva, 1977. (Debates, 136).

NOTA: Tradução de poema de Ezra Poun
Mário Faustino (Teresina PI, 1930 - Cidade de Dios Peru, 1962) estudou Direito em Belém PA, entre 1949 e 1951, mas não chegou a concluir o curso. Na época, já trabalhava como redator dos jornais A Província do Pará e Folha da Noite. Em 1955 ocorreu, no Rio de Janeiro RJ, a publicação de O Homem e Sua Hora, seu único livro de poesia. No período de 1956 a 1958 criou e dirigiu a página "Poesia-Experiência" no Suplemento Literário do Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro, época em que também lecionou na Escola de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas. Por volta de 1953 foi chefe da Seção de Divulgação da Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia. Em 1960, exerceu o cargo de diretor adjunto do Centro de Informação Pública da ONU. Em 1966 foi publicada a edição póstuma de Poesia de Mário Faustino, organizada por Benedito Nunes; entre 1977 e 1985 saíram Poesia-Experiência e Poesia Completa/Poesia Traduzida, também organizados por Nunes. Mário Faustino foi um dos grandes jornalistas literários de seu tempo. Sobre sua poesia, vinculada à terceira geração do Modernismo, afirmou Haroldo de Campos: "como poeta, aberto ao novo, dotado de um manuseio dúctil e sutil das técnicas do poema em verso, capaz do fragmento e da ruptura, mostrou-se sempre generosamente sensível aos experimentos mais radicais da poesia concreta, embora, na sua produção pessoal, conservasse ainda certos elos com a tradição discursiva.".
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