De todos os "vocês" que eu já escrevi, VOCÊ era o que eu mais queria escrever. Não que você não tenha sido nenhum dos outros "vocês", mas nunca tinha escrito diretamente para você. Me faltava coragem por dois motivos: você está se curando, e eu não queria atrapalhar, além de eu sempre ter muita dificuldade em parecer vulnerável para os outros.
Não que você seja qualquer pessoa, mas isso é sobre mim, sabe? Não, infelizmente você não sabe, porque simplesmente não tivemos nossas chances... Não pude compartilhar minhas bobeiras com você, nem assistir ao seu filme favorito comendo pipoca no sofá. Não estragamos uma refeição no fogão a ponto de pedir pizza, nem fizemos dancinhas idiotas ao som de bandas que descobrimos gostar em comum. Sem contar minha coleção de piadas sem graça, que não tive a chance de usar para arrancar um sorriso amarelo ou uma risada pela piada ser constrangedoramente ruim...
Eu sei que processos de cura demoram, e, infelizmente, o mundo te obrigou a passar muito tempo se curando.
Como te disse uma vez: "Está tudo bem se sentir assim, mas você é mais forte do que pensa. Tenho muito orgulho de como você está lidando com o que aconteceu. Dentro desse pacotinho pequeno por quem me apaixonei e aprendi a amar, tem uma mulher forte. E para o que você precisar, estou aqui."
Mas você me mostrou pela segunda vez uma sensação que eu nunca tinha sentido... (Daqui a pouco falamos da primeira.) A sensação de não conseguir manter uma promessa firme que fiz: de estar aqui para o que você precisar.
Você está se curando. Suas feridas e cicatrizes ainda doem, e só você conhece o tamanho dessa dor. Eu não sei quanto tempo isso vai levar e não teria coragem de dizer que é uma besteira. Por mais que tenhamos passado por processos parecidos, a maturidade, a idade e a realidade foram diferentes. A percepção disso tudo é completamente única, e só você conhece a sua versão da dor.
Você precisa se curar de coisas que não merecia. E, depois de todo esse mar de tristeza que você teve que atravessar, muitas vezes já exausta pela rotina, eu estar aqui talvez não faça mais sentido. Porque, por mais que eu diga, faça ou demonstre, sinto que seria apenas um band-aid em um ferimento que precisa de um curativo mais específico.
Eu sei que você acredita no que digo ou no que demonstro, vi isso nos seus olhos, mas tenho medo de que, no primeiro erro que eu cometer (e eu vou cometer), você se lembre de feridas que não fui eu que causei. E isso me assusta: a ideia de que você possa pensar que eu estava tentando te iludir para passar pelo seu escudo e te magoar de novo.
Queria ter forças para continuar aqui esperando, tanto quanto tenho vontade de te dizer o quanto é delicioso acordar e imaginar que há uma mensagem sua no meu celular. Ou te contar que, além de te visitar várias vezes no meu pensamento durante o dia, você é a última coisa que penso antes de dormir, tentando ser forte para não te mandar uma mensagem perguntando como foi o seu dia ou simplesmente te desejando boa noite.
E hoje foi mais um desses dias. Estava deitado na cama, com o maldito algoritmo me bombardeando com vídeos, mostrando o quão fundo é esse buraco que seu sorriso abriu no meu peito, como uma bala perdida. Sem saber ao certo de onde veio, ela me acertou, causou tudo isso, atravessou e foi embora.
Levantei da cama para tentar racionalizar tudo de alguma forma. Mas acho que, no fundo, não preciso racionalizar. Prometi respeitar seu processo e seu tempo. Se for isso o que preciso fazer para o mundo voltar a ver o seu sorriso, é um preço que não queria, mas que vou pagar. Talvez seja melhor assim do que cometer um erro e, nesse período, te fazer pensar que sou só mais um, como todos os outros.
Mas eu queria te dizer que não sou. Queria te dizer que, além de me ensinar que às vezes a gente precisa simplesmente deixar ir, você me mostrou o que o amor à primeira vista causa na gente. No período da minha vida em que mais me sentia um velho rabugento, você trouxe de volta a bobeira, a inocência e as borboletas no estômago de um jeito que eu nunca tinha sentido. E isso foi um golpe baixo delicioso. Muito obrigado. Pela primeira vez, acreditei na lenda do Akai Ito... Pena eu não ter conseguido te dizer isso olhando nos seus olhos. Te dizer que, em tão pouco tempo, aprendi a te amar.
E repito: aprendi a gostar, aprendi a respeitar, aprendi a admirar, mas acima de tudo, aprendi a AMAR. Calma, não é hoje que você vai ler ou ouvir um "eu te amo" meu, mas não é por falta de vontade, é por falta de momento/oportunidade.
Seu sorriso, da última vez que te vi, fez minhas pernas bambear como nunca antes. De repente, voltei à minha adolescência (claro, o ambiente ali também ajudava). De repente, tive vontade de amar de novo. De proteger, de cuidar. De entrar na sua frente e mostrar ao mundo que, se ele quiser te machucar novamente, eu estaria disposto a brigar, porque o que ele já te fez foi mais do que suficiente. Basta. Dali para frente, só existiriam feridas antigas na sua vida.
Mas você está se curando, e eu prometi respeitar. Mesmo que, quando me perguntavam se imaginei algo sério com você, eu respondesse que não. Nada além de uma casa, três crianças com seu sorriso e dois cachorros. Eu pensava em te dar o mundo, mas fui obrigado a te dar o tempo. Só que, infelizmente, esse tempo me causou algo que eu não esperava. Agora, eu também preciso me curar.
Preciso me curar porque passei o último mês criando mil possibilidades de darmos errado. Mas minha cabeça só conseguia pensar em "E se der certo? E se a gente só tentasse? E se a gente tivesse UMA CHANCE de fazer dar certo?". Esses questionamentos ainda me inquietam.
Bob Marley disse: "Se ela é maravilhosa, não será fácil. Se ela é fácil, não será maravilhosa. Se ela vale a pena, você não vai desistir. Se você desistir, você não vale a pena. A verdade é que todo mundo vai te machucar; você só precisa achar aqueles que valem a pena o seu sofrimento". Talvez ele, em algum lugar e agora, esteja arrancando os dreads ao ver o que estou fazendo. E talvez ele tenha razão. Talvez eu simplesmente não valha a pena. Talvez tenha deixado a emoção me dominar como um adolescente, e fui incapaz de ver uma verdade clara: as coisas acontecem e acabam, a gente só não sabe a duração. E mesmo sem saber a duração, tentei aproveitar ao máximo a vista desse louco passeio.
Se "dentro de cada um de nós tem um pedaço de alguém que vai embora", sinto te dizer que o seu sorriso ficou. E, se eu te ver de novo, vou ser obrigado a devolver, do meu jeito, estranho e desastrado, para mostrar o quanto você me marcou. Se fechar os olhos, volto para o momento em que estava te abraçando, sentindo o cheiro do seu cabelo, com o mundo completamente congelado enquanto eu olhava para sua boca. A vontade ainda é a mesma: te guardar num abraço e passar horas olhando para o sorriso, como naquele dia em que tatuei na memória cada pedacinho dele. Aliás, escrevi em mim cada detalhe seu, incluindo suas unhas prateadas.
Me desculpe por qualquer coisa que aconteça daqui para frente. Se for para eu errar, prefiro errar por respeitar seu tempo de cura. Quem sabe, nesse meio-tempo, a gente descubra que minha presença não era necessária para esse processo. Talvez, ao tomar essa atitude, eu prolongue seu processo de cura, e só posso pedir perdão por isso. Mas faço isso pensando no melhor para nós dois, para que, quem sabe lá na frente, possamos descobrir que a lenda do fio vermelho é realmente verdadeira. Se nossos caminhos nunca mais se cruzarem, que ao menos o universo saiba que eu te amei em silêncio, na esperança de que um dia o tempo que foi tão cruel, dessa vez nos permita recomeçar.
Obrigado VOCÊ, ou só FÊ, a dona do sorriso mais lindo que eu já encontrei nesse mundo.
"...só o que é bom dura tempo o bastante pra se tornar inesquecível..."
18/Out/2024