PilotoTribal

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Só deixando salvas as sessões de terapia comigo mesmo. Eu, um bloco de notas e um filtro de censura desligado. Desabafos, alguns questionamentos sobre esses desabafos, e encerrando com o trecho de uma música querida que faz sentido no momento.

1988-01-11
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Alguns Poemas

Para VOCÊ e sua cura

De todos os "vocês" que eu já escrevi, VOCÊ era o que eu mais queria escrever. Não que você não tenha sido nenhum dos outros "vocês", mas nunca tinha escrito diretamente para você. Me faltava coragem por dois motivos: você está se curando, e eu não queria atrapalhar, além de eu sempre ter muita dificuldade em parecer vulnerável para os outros.

Não que você seja qualquer pessoa, mas isso é sobre mim, sabe? Não, infelizmente você não sabe, porque simplesmente não tivemos nossas chances... Não pude compartilhar minhas bobeiras com você, nem assistir ao seu filme favorito comendo pipoca no sofá. Não estragamos uma refeição no fogão a ponto de pedir pizza, nem fizemos dancinhas idiotas ao som de bandas que descobrimos gostar em comum. Sem contar minha coleção de piadas sem graça, que não tive a chance de usar para arrancar um sorriso amarelo ou uma risada pela piada ser constrangedoramente ruim...

Eu sei que processos de cura demoram, e, infelizmente, o mundo te obrigou a passar muito tempo se curando.
Como te disse uma vez: "Está tudo bem se sentir assim, mas você é mais forte do que pensa. Tenho muito orgulho de como você está lidando com o que aconteceu. Dentro desse pacotinho pequeno por quem me apaixonei e aprendi a amar, tem uma mulher forte. E para o que você precisar, estou aqui."

Mas você me mostrou pela segunda vez uma sensação que eu nunca tinha sentido... (Daqui a pouco falamos da primeira.) A sensação de não conseguir manter uma promessa firme que fiz: de estar aqui para o que você precisar.
Você está se curando. Suas feridas e cicatrizes ainda doem, e só você conhece o tamanho dessa dor. Eu não sei quanto tempo isso vai levar e não teria coragem de dizer que é uma besteira. Por mais que tenhamos passado por processos parecidos, a maturidade, a idade e a realidade foram diferentes. A percepção disso tudo é completamente única, e só você conhece a sua versão da dor.

Você precisa se curar de coisas que não merecia. E, depois de todo esse mar de tristeza que você teve que atravessar, muitas vezes já exausta pela rotina, eu estar aqui talvez não faça mais sentido. Porque, por mais que eu diga, faça ou demonstre, sinto que seria apenas um band-aid em um ferimento que precisa de um curativo mais específico.
Eu sei que você acredita no que digo ou no que demonstro, vi isso nos seus olhos, mas tenho medo de que, no primeiro erro que eu cometer (e eu vou cometer), você se lembre de feridas que não fui eu que causei. E isso me assusta: a ideia de que você possa pensar que eu estava tentando te iludir para passar pelo seu escudo e te magoar de novo.

Queria ter forças para continuar aqui esperando, tanto quanto tenho vontade de te dizer o quanto é delicioso acordar e imaginar que há uma mensagem sua no meu celular. Ou te contar que, além de te visitar várias vezes no meu pensamento durante o dia, você é a última coisa que penso antes de dormir, tentando ser forte para não te mandar uma mensagem perguntando como foi o seu dia ou simplesmente te desejando boa noite.

E hoje foi mais um desses dias. Estava deitado na cama, com o maldito algoritmo me bombardeando com vídeos, mostrando o quão fundo é esse buraco que seu sorriso abriu no meu peito, como uma bala perdida. Sem saber ao certo de onde veio, ela me acertou, causou tudo isso, atravessou e foi embora.
Levantei da cama para tentar racionalizar tudo de alguma forma. Mas acho que, no fundo, não preciso racionalizar. Prometi respeitar seu processo e seu tempo. Se for isso o que preciso fazer para o mundo voltar a ver o seu sorriso, é um preço que não queria, mas que vou pagar. Talvez seja melhor assim do que cometer um erro e, nesse período, te fazer pensar que sou só mais um, como todos os outros.

Mas eu queria te dizer que não sou. Queria te dizer que, além de me ensinar que às vezes a gente precisa simplesmente deixar ir, você me mostrou o que o amor à primeira vista causa na gente. No período da minha vida em que mais me sentia um velho rabugento, você trouxe de volta a bobeira, a inocência e as borboletas no estômago de um jeito que eu nunca tinha sentido. E isso foi um golpe baixo delicioso. Muito obrigado. Pela primeira vez, acreditei na lenda do Akai Ito... Pena eu não ter conseguido te dizer isso olhando nos seus olhos. Te dizer que, em tão pouco tempo, aprendi a te amar.
E repito: aprendi a gostar, aprendi a respeitar, aprendi a admirar, mas acima de tudo, aprendi a AMAR. Calma, não é hoje que você vai ler ou ouvir um "eu te amo" meu, mas não é por falta de vontade, é por falta de momento/oportunidade.

Seu sorriso, da última vez que te vi, fez minhas pernas bambear como nunca antes. De repente, voltei à minha adolescência (claro, o ambiente ali também ajudava). De repente, tive vontade de amar de novo. De proteger, de cuidar. De entrar na sua frente e mostrar ao mundo que, se ele quiser te machucar novamente, eu estaria disposto a brigar, porque o que ele já te fez foi mais do que suficiente. Basta. Dali para frente, só existiriam feridas antigas na sua vida.

Mas você está se curando, e eu prometi respeitar. Mesmo que, quando me perguntavam se imaginei algo sério com você, eu respondesse que não. Nada além de uma casa, três crianças com seu sorriso e dois cachorros. Eu pensava em te dar o mundo, mas fui obrigado a te dar o tempo. Só que, infelizmente, esse tempo me causou algo que eu não esperava. Agora, eu também preciso me curar.

Preciso me curar porque passei o último mês criando mil possibilidades de darmos errado. Mas minha cabeça só conseguia pensar em "E se der certo? E se a gente só tentasse? E se a gente tivesse UMA CHANCE de fazer dar certo?". Esses questionamentos ainda me inquietam.

Bob Marley disse: "Se ela é maravilhosa, não será fácil. Se ela é fácil, não será maravilhosa. Se ela vale a pena, você não vai desistir. Se você desistir, você não vale a pena. A verdade é que todo mundo vai te machucar; você só precisa achar aqueles que valem a pena o seu sofrimento". Talvez ele, em algum lugar e agora, esteja arrancando os dreads ao ver o que estou fazendo. E talvez ele tenha razão. Talvez eu simplesmente não valha a pena. Talvez tenha deixado a emoção me dominar como um adolescente, e fui incapaz de ver uma verdade clara: as coisas acontecem e acabam, a gente só não sabe a duração. E mesmo sem saber a duração, tentei aproveitar ao máximo a vista desse louco passeio.

Se "dentro de cada um de nós tem um pedaço de alguém que vai embora", sinto te dizer que o seu sorriso ficou. E, se eu te ver de novo, vou ser obrigado a devolver, do meu jeito, estranho e desastrado, para mostrar o quanto você me marcou. Se fechar os olhos, volto para o momento em que estava te abraçando, sentindo o cheiro do seu cabelo, com o mundo completamente congelado enquanto eu olhava para sua boca. A vontade ainda é a mesma: te guardar num abraço e passar horas olhando para o sorriso, como naquele dia em que tatuei na memória cada pedacinho dele. Aliás, escrevi em mim cada detalhe seu, incluindo suas unhas prateadas.

Me desculpe por qualquer coisa que aconteça daqui para frente. Se for para eu errar, prefiro errar por respeitar seu tempo de cura. Quem sabe, nesse meio-tempo, a gente descubra que minha presença não era necessária para esse processo. Talvez, ao tomar essa atitude, eu prolongue seu processo de cura, e só posso pedir perdão por isso. Mas faço isso pensando no melhor para nós dois, para que, quem sabe lá na frente, possamos descobrir que a lenda do fio vermelho é realmente verdadeira. Se nossos caminhos nunca mais se cruzarem, que ao menos o universo saiba que eu te amei em silêncio, na esperança de que um dia o tempo que foi tão cruel, dessa vez nos permita recomeçar.

Obrigado VOCÊ, ou só , a dona do sorriso mais lindo que eu já encontrei nesse mundo.

"...só o que é bom dura tempo o bastante pra se tornar inesquecível..."
18/Out/2024

Eu sempre quis ser pro mundo o que o mundo nunca foi pra mim

Há uns dias atrás, essa frase veio muito forte na minha cabeça. Essa frase surgiu pra mim, DO COMPLETO NADA, enquanto pensava em outras pessoas... Pessoas específicas, inclusive. Talvez esse plural seja até um excesso desnecessário.

Retribuí violência física, emocional e sexual com abraço, sorriso e acolhimento. Minha cabeça fica tentando entender onde está o erro: na minha tentativa de agradar, ou na minha tentativa de não me entregar à resposta óbvia desses estímulos?
Já percebi que sou uma pessoa que normalmente escolhe o caminho mais fácil ou cômodo. Mas aqui, nesse "minúsculo" aspecto da minha vida, quando todas as minhas forças poderiam resultar em revolta e violência, acabei tomando um outro caminho. Talvez, ao invés de ser o motivo de mais uma pessoa se sentir como eu, eu queria ser o abraço dessa pessoa. E isso não é ou foi nada cômodo.

Normalmente sou uma pessoa que se afasta de tudo e todos. Talvez porque tenha aprendido que praticamente tudo que se aproximou de mim trouxe problemas. Então o melhor é só evitar mesmo.
Acho que não à toa tatuei essa frase no meu braço: "Desaparecer dói menos que pedir ajuda". Sempre fez muito sentido pra mim. E escutar uma música em que, resumidamente, para ter uma vida melhor a pessoa se transformou em um espantalho, vazio, sem vida, sem sentimentos e com um sorriso rabiscado no rosto, fez sentido de tantas formas diferentes que acabou indo pra pele.

Meus esportes radicais, as artes marciais e o jeito inconsequente de lidar com a vida ajudam com os pensamentos intrusivos. Naqueles pequenos instantes de loucura ou em que eu estava autorizado a bater em algo/alguém, sou só eu pensando comigo mesmo. Nunca fui à extremos, mesmo que extremo seja uma questão de perspectiva. Mas algumas coisas já passaram na minha cabeça. E se? Me agarrei com as forças que sobravam no que eu tinha, e esse "e se?" nunca saiu do papel. Mas e se?

Aprendi a pedir desculpas. Mais do que deveria. Mesmo quando não deveria. Mas sempre tentei dar esse passo. Confesso que as vezes falhei por orgulho, mas tentei. As vezes a palavra era pesada demais pra sair do meu peito, mas um chocolatinho e um abraço não faz mal a ninguém e deixa subentendido...  
Ou será que não? 
Será que foi compreendido dessa forma pelas pessoas?
E se todos pedissem desculpas dessa forma, o que poderia acontecer? Será que tudo ficaria mais em paz ou a palavra "desculpa" ficaria mais vazia e cliché que "tudo bom?/estou bem e você?" ou o famigerado "eu te amo"? Dos questionamentos que eu costumo fazer nessas conversas comigo mesmo, quase num tom de esquizofrenia, essa resposta aqui eu nunca vou ter. 

Mas eu também aprendi a amar por inteiro. Aprendi a abraçar. Aprendi a sentir o cheiro do cabelo de um amigo dentro desse abraço. Aprendi a segurar uma mão e dizer que vai ficar tudo bem. Aprendi a dar um sorriso e dizer "se você precisar, meu abraço está aqui". E sempre está.
Se você não me afastou de você, talvez você tenha sido capaz de testemunhar que isso é verdade. Se você não conseguiu isso, peço desculpas, tive que seguir. Meu coração entende apenas dois comandos: gostar ou ir embora. Seja com família, seja com amigos, seja com amores.

(E eu me pergunto aqui: quem é esse você? Eu sei que vou no máximo mostrar isso pra meia dúzia de pessoas, mas cabem diversos vocês nessa conversa que nunca saberão que isso ocorreu)

Essa minha cara de bravo, de estressado, ou o meu tom de voz, as vezes pode te preocupar. Mas se me perguntar se tá tudo bem, eu vou dizer "estou bem" com um sorriso, as vezes forçado, pra não transparecer todas as brigas internas. Entranhas devorando entranhas. Mas o sorriso estará lá. 
Vejo que no fim das contas, tudo que eu ofereço é tudo aquilo que sempre precisei. Abracei por precisar de um abraço. Em muitos momentos, lá no fundo do poço, quando tudo sufocava, as vezes um abraço seria a mão estendida, e mesmo com tantas pessoas que diziam se importar, nunca veio. Então eu aprendi a sinalizar a disponibilidade do meu abraço. E já me sujeitei a tanta coisa pra ganhar esse bendito abraço...
Amei por precisar ser amado. Amar por inteiro não era uma opção. Era uma necessidade. Necessidade de ter por perto alguém que, ao sentir que está sendo amado, retribuiria essa completude para mim. Não deu certo totalmente, como posso ver pela minha situação atual, mas deu certo enquanto durou. Se deixou de dar certo, foi porque em algum momento, deixou de fazer sentido toda essa energia gasta.
E aprendendo a amar, aprendi a dividir as pessoas em caixinhas, tendo consciência plena de qual caixinha cada um ocupa. Os amigos, os amores, os sexos ardentes e a família. Cada um com a sua importância, mas todos que eram importantes o suficiente para serem mantidos nessas caixinhas (que sofriam limpezas de tempos em tempos) tinham 100% de mim, mesmo que eu não encontrasse 100% nelas.
Hoje não sou a pessoa mais fácil de lidar. Mas olhando pra dentro, consigo ver que sou uma pessoa bem melhor do que está aqui na minha cabeça. No fundo, acho que isso já parou de tentar sair de mim. Essa angústia misturada com rancor e raiva já entendeu que se ela quiser continuar existindo, vai ser ali, na minha caixinha do sofrimento (que eu costumo me referir como a Caixa de Pandora). E essa caixinha é só minha. Toda vez que precisar ser aberta, o farei em silêncio e distante de todos. Até porquê quando ela é aberta, o rio é grande...
Mas guardar essa caixinha à sete chaves não é uma escolha. Eu já caí na besteira de deixar ela se abrir, e todas as vezes que isso aconteceu, a reação das pessoas foi muito dura. Quando tentei transparecer o que realmente estava aqui, assustei pessoas. Então com essa caixinha eu tomo mais cuidado, e tenho consciência que ela é só minha.

Talvez a pergunta central de tudo isso seria: fazer isso tudo pros outros pensando que lá no fundo eu vou estar satisfazendo uma necessidade minha me transforma no quê? Um manipulador? Dissimulado? Egoísta? Aproveitador? Não consegui justificar o questionamento dessa atitude com um adjetivo bom... Se for isso mesmo, deixar os meus sentimentos se apropriarem da frase do título do texto vai me fazer parecer ainda pior...
Eu já fiz perguntas demais pra mim enquanto escrevia, e talvez pra algumas delas eu talvez não queira saber a resposta. Então vou me permitir chegar a uma conclusão, talvez faça mais sentido. 

Se você me ver e for um amigo, vista seu melhor sorriso e me abrace. (olha lá o "você" aparecendo de novo, seu maluco)
Se a caixinha que você está te permite: me beije. Me ame. Aproveite do meu corpo de forma consentida e mostrando que somos dois querendo estar naquele momento, seja ele qual for.
Mostre o quanto eu importo simplesmente por existir aqui, desse jeito. 
Eu sou  o resultado de tudo de ruim que aconteceu comigo, mas que eu tentei fingir não terem importância no meu dia-a-dia pra dar importância aos outros. E provavelmente por sua causa, eu ainda brigo com esses fantasmas pra evitar que eles te assombrem. Essa parte vai fazer bem mais sentido com a música do final...
Tirei o que estava na minha cabeça e coloquei aqui. Agora falta mostrar isso aqui pra todos, de alguma forma, pra que talvez eles entendam que por mais que eu esteja longe de ser um super herói de capa, eu também não sou o vilão, não enquanto eu estiver ganhando essa briga interna. Só posso prometer força. Pudera isso chegar a todos os "vocês" desse texto.

 

"...Entenda que dentro de mim
Tem tanta coisa pra eu resolver
Essa casa eu tenho que arrumar
Pra poder receber você

A minha casa é assombrada
São meus esses fantasmas
Por onde quer que eu vá
Comigo sempre vou levar
E é só a mim que eles vão atormentar..."
(11/Out/2024)

É carinha, você envelheceu.

O seu sorriso não consegue esconder as rugas do lado dos olhos, as veias te saltam e sua barba já está ficando decorada de fios prateados...
O tempo passou. Seu corpo já não se recupera como antes. As dores são mais persistentes, o cansaço parece mais pesado e o descanso está longe de ser restaurador.
Os problemas da vida adulta se misturam com os daquela criança apaixonada pela vida, que fazia tudo de forma inconsequente. Mas se jogar de peito aberto em aventuras agora machuca ainda mais. Seus amores, suas paixões, os seus hobbies, tudo tem que ser mais cauteloso, mais delicado, porque qualquer intensidade a mais do que você pode suportar irá sugar o pouco de energia que vem te sobrando.
Logo você, que sempre disse que nunca passaria dos 30. Que pensou em ter um filho. Mas nunca pensou que essas duas informações não poderiam se complementar. Se pudesse voltar ao passado, diria pra se acalmar, você passará dos 30, mas o plano de um filho teve que ser adiado.
Como está seu coração? Cansado? Cuidado? Quem diria que, logo você, um apaixonado pela vida, que viveu loucos e intensos amores, iria conhecer o que é amor a primeira vista depois de velho? Bastou um sorriso.
Como está sua cabeça? Cansada? Cuidada? Suas angústias do passado foram separadas em caixinhas, pra hoje poderem dividir espaço com responsabilidades, ansiedades e vontades. 
Ao se olhar no espelho, você tenta ver aquele rosto que você conheceu há 20 anos atrás. Você sabe que ele está ali, em algum lugar, tentando dar as caras, mas continua preso atrás das suas "marcas de expressão". Você, que achava ruim quando as pessoas implicavam com você franzindo a testa bravo, ou erguendo suas sobrancelhas, hoje vê seu rosto se enrugando até nos sorrisos.

É, meu caro. O tempo passou rápido. Quase tudo que você deixou pra amanhã não vingou, porque o amanhã veio como um trem desgovernado, te atropelou, virou ontem e você não conseguiu nem ver de que estação ele veio.
O que você tem hoje? O que você carrega com você?
Algumas cicatrizes e uma bagagem enorme né?
Você já não tem aquela vista da montanha, que mesmo nos piores momentos, estava ali no seu aniversário. Seus amigos não são mais os mesmos. Estão todos longe, tratando de lidar com o tempo deles. Os amores são outros, e as coisas que você valoriza também.
Pode ser que olhando pra tudo isso, uma ou duas lágrimas escorram do seu rosto, talvez tentando hidratar essas imperfeições. Mas se nem Monange salvou a Xuxa de envelhecer, não vão ser elas que vão desfazer tudo isso que o tempo te trouxe. Mas além de rugas, o tempo te trouxe experiência, vivência, e até um pouco de malandragem. Agora você sabe como o jogo funciona, entende o jogo, e entende que ainda dá pra ser o protagonista dele.
Você tem duas opções, se sentir velho, como o seu reflexo no espelho mostra. Ou você pode falar um bom e velho "foda-se", como aquele moleque de 15 anos dentro de você diria, mostrar um dedo do meio pro espelho e sair pra viver.

Se você está apaixonado de novo, lute por isso. Se você quer sentir o frio das nuvens, lute por isso. O mundo sempre foi seu, você sempre lutou pra conseguir tudo que queria. E você sempre conseguiu. Já passou da hora de entender que o mundo não está disposto a te dar as coisas de mão beijada, então se é pra jogar a vida no modo hard, vamos ser a pedra no sapato do chefão final. E se não der certo, a gente recomeça o jogo. O game over não veio nos 30. Agora ele que espere, porque você está cheio de fichas.

Será que você consegue voltar e ler isso daqui alguns anos? Se sim, oi você (eu) do futuro. Espero que tenha dado tudo certo. Fiz meu melhor até aqui.

"Logo eu que sempre achei legal ser tão errado..."
(17/Out/2024)

Se essas paredes falassem

Só a gente mesmo consegue dizer o que se passa quando estamos sozinhos dentro do quarto ou dentro da nossa cabeça. Só a gente conhece nossa própria escuridão.
E intercalando esses momentos de solitude e solidão, a gente fica tentando encaixar peças, como se estivesse em um quebra-cabeça que nunca nos esforçamos o suficiente para terminar. A gente tenta entender contextos e ressignificar sensações. A exaustão, a ansiedade, o desespero dançam em volta da gente como velhos amigos enquanto lutamos pra tentar transformar essa presença em algo um pouco mais aceitável ou um pouco menos destrutivo.
Enquanto tentamos olhar tudo isso "por fora", aquele grito incomoda ainda mais a sua garganta, tentando achar uma rota de fuga pra se libertar daquele nó que ele mesmo criou. Ele é o resultado da nossa cabeça dizendo pra gente: "- não tá bom". Isso é o peito mostrando que talvez, do mesmo jeito que aquele grito não cabia mais dentro da gente, talvez a gente não caiba mais onde estamos nesse momento.
E sair de dentro da nossa cabeça exige uma energia que muitas vezes a gente não tem. E não é porque não quer. É porque toda essa energia foi utilizada por todos os pensamentos intrusivos que ocorriam. As angústias em relação ao passado, ansiedades pelo futuro e todas as incertezas que o presente traz.
Nesse ringue, lutando contra nós mesmos, as vezes já se passaram muitos rounds. O bastante pra energia estar a um passo de se esgotar. E nesse ponto, não existe mais cabeça ou raciocínio, não sai mais nenhum soco ou chute. Até se defender é difícil. A exaustão só deixa o seu coração responder, o resto já está entregue.
Nessa hora temos duas opções: nos deixar nocautear e voltar pra dentro da cabeça, aquele lugar que nos fez dar toda essa volta em vão, ou tentar focar naquilo que seu coração tenta fazer com o restinho de energia que sobrou.
Se a gente cai, só consegue sentir a culpa de estar de volta ao velho percurso, sempre dizendo que vai ser diferente da próxima vez. Talvez repetindo essa mentira várias vezes a gente até se convença disso. Esse looping da destruição infelizmente eu conheço melhor do que eu gostaria. Sempre foi muito mais fácil desistir, e aquele lugar que a gente sabe que é ruim se torna um lar por puro comodismo. E nas paredes cercando a gente, pôsteres dos nossos melhores momentos, aqueles que a gente não se esforça para se repetirem, e garranchos, rabiscos de pedidos de socorro que fizemos nos momentos de mais profundo desespero, na esperança que alguém além de nós mesmos pudesse ler e estender uma mão pra nos tirar dali.

Nesse momento, estou me sentindo como alguém treinando apneia embaixo d'água, e a cada tentativa, consegue aguentar um segundinho a mais. Nesse exato momento, de tanto passar por aquela sensação de ter só um restinho de energia pro coração responder, esse restinho foi mais do que o suficiente. E agora, tal qual a pessoa em apneia, eu tirei a cabeça de dentro d'água e estou tentando processar a novidade. Uma parte de mim me fala pra comemorar esse pequeno avanço, a outra tenta me fazer imergir a cabeça de novo pra tentar "melhorar ainda mais". 
Nessa luta, de tanto tomar esse golpe baixo de mim mesmo, acho que o melhor a fazer é tirar as luvas e comemorar o momento.
Reler tudo isso me traz um misto de alívio e estranheza... 
Como fiquei ali tanto tempo? 
Que cicatrizes esse lugar vai deixar em mim?
Será que vou conseguir parecer normal e convencer todo mundo em volta, mesmo que nesse exato momento eu esteja aqui sozinho, conversando comigo mesmo?
E no fim das contas, será que eu preciso convencer alguém? Onde estavam até agora?
Espero não voltar pra “lá”. Torço para enquanto tiver me curando, essas paredes guardem os segredos que eu escrevi ali. O esforço daqui em diante é para transformar esse período fraqueza em um ponto diminuto no livro final. Uma nota de rodapé, que explica algo realmente importante, mas consegue sintetizar isso em uma frase pequena.

Mas no fim das contas isso não é o livro final. Não é nem a nota de rodapé. É só o som do grito que conseguiu escapar do peito. Se depois dele eu não ficar sem voz, talvez outros apareçam... Ou quem sabe eu consigo silenciar eles com um sorriso? 

“Eu tentei pintar na minha cara um sorriso igual àquele que eu sei, está lá, num grão de areia entre as Mostardas e o Pinhal...” 
(05/Out/2024)

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