AurelioAquino

AurelioAquino

Deixo-me estar nos verbos que consinto, os que me inventam, os que sempre sinto.

1952-01-29 Parahyba
282008
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Dissertação de espanto sobre a América Latina

desde os seios da Patagônia

que se estendem, assim, em andes desatados
montanhas que se queiram gritos

pedras que se digam tão cansadas

e que perdurem pela vida

como anseios e recados

que a terra dá aos homens

nos seus tempos de enfado
 
desde as costas de Guaiaquil
deitada em vã geografia

de casas e homens reunidos
na praça geral que não se quis
veleje por mares incontestes
a saúde dos desejos a que se apreste
aos que nunca a morte discutiu
 
desde os ombros do serrado
trançados a muque pelos ventos
desfaça-se o gosto do pecado
dos erros que se tem nas gentes
porque em vão desconsolado
o coração arquitete grave plano

de bater-se pelas ruas como soldado
de uma guerra havida impunemente
 
desde o colo da Argentina

gravado nos olhos dos infantes

que nunca se dizem retaguarda

como sempre se disseram avante
pendurados assim adredemente

nos sonhos que desfazem mansamente
como se fora a prontidão

de uma passeata quase urgente
 
desde os ombros de Cuzco
lavrado em pedra e pranto

um choro assim descontrolado
um riso sempre transeunte
e nem se disseram da cor

das dobras do horizonte

apenas cerziram à tua face

esse desenho ilógico de inca

que nem precisa amanhecer

para que a madrugada se pressinta
 
desde os sonhos de Bogotá

aranha tecida de fuligem

que sobe os morros em teu sono

e que em noites seu coração exige
nem bem trançaram suas veias

e te pusestes com gosto de menino
 
desde o raso da Catarina

que te tem serpente sem dizê-lo
e que já me diz das cores

que nunca trarás nos teus cabelos
porque morena

nem mulher se limite

com os sonhos que ouse pousar
em todos os seus cabides
 
desde Quebrada del Yuro

uma Bolívia entristecida

jogadas em camas que não queira
do tamanho de toda tua vida
 
desde Medellin

imóvel em seu paradigma
de parecer-se uma rosa
mesmo que não se diga
 
desde Brasília

adormecida em ângulos
na certeza de que o tempo
é sempre mais um tanto
 
desde o Titicaca

com seu jeito de mar arrependido
e a certeza de que a água

é mais um sonho indefinido
porque se se espalha

pelo vão do peito
melhor
morrer-se sonhando

da largura exata do teu medo
 
desde, enfim, essa América
abraçada em vão à natureza
permaneçam teus olhos como dela
como de si te venha tal delicadeza
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