AurelioAquino

AurelioAquino

Deixo-me estar nos verbos que consinto, os que me inventam, os que sempre sinto.

1952-01-29 Parahyba
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Ode do futuro e convicção perene

haverá manhãs

que serão tão claras

que nem será preciso sentir
o que se tem na alma
 
e haverá
madrugadas avulsas
que anunciarão
o dia como desculpa
 
e haverá noites
que de tão macias
flutuarão sem jeito
pelos dias
 
e haverá tardes

tão urgentes

que nos pegará com a aurora
ainda nos dentes
 
e haverá espaços

e contingências
prestante o riso do povo
à incontinência
 
e haverá um tempo

de uma laica textura

enrolada nas tranças
de gente pelas ruas
 
e haverá um muro
transponível

e murmúrios dilatados

e um discurso rascunhado
em cada passo
 
haverá montanhas razoáveis
e uma leve ilusão

de que nunca é tarde
 
e haverá futuros desenhados
nas paredes de cada muro

e a simples constatação
desses abusos
 
e haverá crianças

e cebolas

tecidas nas tardes

das paciências nervosas
 
e haverá lentidão

em quem se gosta

e uma urgência incauta
e sem lógica
 
e haverá rebeliões

em cada aorta

tecido o sangue
num grito de revolta
 
e haverá sangue

em cada juízo

vivida a terra da face
 em cada riso
 
e haverá egos

aos borbotões

renhidas as circunstâncias
dos senões
 
e haverá tudo

que não só seja

uns palmos de infinito
pela natureza.
 
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