Flávio Gomes da Silva

Canto versos sem me perguntar, sem procurar, sendo o quanto há de ser sem algemas

1968-09-09 Rio de Janeiro
6464
0
0

JARDIM BOTÂNICO – PRELÚDIO

- Ⅰ -
Há um orvalho que desce e corre em direção a carne
No inverno: senti à meia-noite na praça Itália
No andar apressado, na solidão da noite
O vapor gélido persegue a alma e diz: 
— Passo manso que te alcanço, apressa-te para eu te ferir os ossos na esquina da Sabbag
Ruas dizem o destino das lareiras: prédios redondos 
Há lembranças impregnadas do inverno curitibano
Dos estrangeiros acolhidos no jardim do Éden


- ⅠⅠ -
Há uma brisa suave e doce nos dias de verão
Que se renovam a cada manhã: senti ao meio-dia no Botânico 
Deitado na relva, afagado pelo céu
Ventos levitam a mente pesada, dissipa o cinzento 
Os olhos se abrem ante o fulgor do dia
Um espelho d’água reflete o infinito 
E os mistérios da vida se abrem no pergaminho da esperança
Há uma pequena mata com trilhas que levam para além da morte
Penso ser aos andantes, o renovar da carne e o conservar dos ossos

 
- ⅠⅠⅠ -
Retas de pedras, abertas sem ermo
O sol se levanta e a relva floresce
O viver da lembrança levada a bom termo
Em paz, na esperança, a vida efervesce

Há uma saudade que fica na esquina da memória
Olho e apenas varais se acham além da realidade

Os dias se vão e o passado implica
No que foi, e o que pode ser
A mente explica, mas a saudade fica
Da cerejeira: a sua sombra ter

 

 

 

165
0

Mais como isto



Quem Gosta

Quem Gosta

Seguidores