lembra
poucos meses de isolamento
comportam séculos de esquecimento
poucos meses de cinzas
caídas sobre a mesa
poucos meses de poeira cobrindo as prateleiras
poucos meses de fome
de penumbra
de ausência
de amor
subitamente toco as letras de um caderno:
coisas vivas de há poucos meses
acenam de algum lugar da eternidade
– quem escreveu estas coisas?
quem encarnou estas preocupações?
eu
não lembrava
havia vida aqui:
havia uma casa, um orquidário,
havia planos traçados,
o escarlate da vontade
sangrava pelos poros do papel
havia qualquer coisa que não fosse cinzas,
poeira, fome e penumbra,
como agora as minhas mãos parecem
implicar
havia uma carta a enviar, uma viagem a ser feita,
uma canção sempre a descobrir;
poemas embrionários,
sincera comoção pelos vencidos.
um cansaço distinto do exílio.
e para onde foi?
(pode um lírio desfazer-se
sem legar qualquer perfume?)
quanto desta repentina piedade será só culpa,
falta de cautela,
miragem?
e, no entanto, eu sei:
sou eu
tanta coisa minha
que eu nem lembro
de ter esquecido
eu não lembrava, céus,
eu não
lembrava
não é o esquecimento tão mais belo
quanto mais terrível
do que a morte?
comportam séculos de esquecimento
poucos meses de cinzas
caídas sobre a mesa
poucos meses de poeira cobrindo as prateleiras
poucos meses de fome
de penumbra
de ausência
de amor
subitamente toco as letras de um caderno:
coisas vivas de há poucos meses
acenam de algum lugar da eternidade
– quem escreveu estas coisas?
quem encarnou estas preocupações?
eu
não lembrava
havia vida aqui:
havia uma casa, um orquidário,
havia planos traçados,
o escarlate da vontade
sangrava pelos poros do papel
havia qualquer coisa que não fosse cinzas,
poeira, fome e penumbra,
como agora as minhas mãos parecem
implicar
havia uma carta a enviar, uma viagem a ser feita,
uma canção sempre a descobrir;
poemas embrionários,
sincera comoção pelos vencidos.
um cansaço distinto do exílio.
e para onde foi?
(pode um lírio desfazer-se
sem legar qualquer perfume?)
quanto desta repentina piedade será só culpa,
falta de cautela,
miragem?
e, no entanto, eu sei:
sou eu
tanta coisa minha
que eu nem lembro
de ter esquecido
eu não lembrava, céus,
eu não
lembrava
não é o esquecimento tão mais belo
quanto mais terrível
do que a morte?
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