Pedro Rodrigues de Menezes
Pedro Rodrigues de Menezes é um poeta português nascido em São Domingos de Benfica (Lisboa) no dia 24 de março de 1987.
1987-03-24 Lisboa
12926
3
23
Adília Lopes
Adília e Adílio, ambos Lopes
ato e desato
durante o acto
ou ambos morremos
ou comemos torresmos.
(Pedro Rodrigues de Menezes, Adílio Lopes I)
espalmei a parede
no mosquito
sobrou a sombra
vestígio noite
descobri
não é cruel matar
um mosquito
ou uma pessoa
o mosquito não sangra
a pessoa não sangra
escrevi isto em Angra
sem Heroísmo.
(Pedro Rodrigues de Menezes, Adílio Lopes II)
a vida
escrevi
isto
na casa
no banho
antes de
tomar
o pequeno
almoço.
(Pedro Rodrigues de Menezes, Adílio Lopes III)
ponto final
parágrafo
aguardo
a vírgula
agrado
resguardado
calado
não disse nada
disto
gostaria de ter
de ter dito
qualquer coisa
que nascesse
emergindo
esplêndida
da boca
pra fora.
(Pedro Rodrigues de Menezes, Adílio Lopes IV)
com papas e bolos
se enganam os tolos
era assim que a mãe
antes da minha mãe
quando éramos pobres
nos dava a medicação
para a dor da mão
não havia nada
para o coração
pensava
pensei
nisto
só os pobres comem
papas
embora não fôssemos
pobres
porque havia ouro
que o meu avô guardava
que tinha no Cu*.
* cobre
(Pedro Rodrigues de Menezes, Adílio Lopes V)
a minha tia Céu
vivia no céu
snob
fumava com a mão
direita
a mão e ela
espetadas ambas
apontando ao coração
dos outros
e antes de perder a voz
a tia Céu
não o céu – esse não tem
voz
antes de perder o pulmão
deu um trabalhão
enviá-la para o chateaux de Paris
e dos seus restinhos
mortais
ainda agarrada à boquilha
italiana
que pertenceu a uma Duquesa
alemã
a tia Céu permanece lá
ainda viva de tanto morrer
a bordo de uma avioneta Cessna
da neta
explodiu depois
de proibirem cigarros a bordo.
(Pedro Rodrigues de Menezes, Adílio Lopes VI)
o teu sangue é old money
(Pedro Rodrigues de Menezes, Adílio Lopes VII, poema dedicado a Graça Costa)
tenho saudades da criança
distinga entre pirite de aglomerado
a pirite é o ouro dos tolos
um aglomerado são muitas pessoas
sedimentais sedimentadas de pó
convencem-nos
iludem-nos
que descobrindo a ciência
somos científicos.
(Pedro Rodrigues de Menezes, Adílio Lopes VIII)
em criança descobri que as plantas
aquáticas
não foram plantadas
encontrei isto numa garrafa
no meio do mar
sem instruções
sem instrução
e do interior
recolhi a água
reguei as plantas do meu avô
esperei que borboletas aladas
com guelras e brocados
explodissem
e por fim pousassem
numa fina folha fina
morressem
como direi
de falta de ar.
(Pedro Rodrigues de Menezes, Adílio Lopes IX)
quem não conhece a minha escrita
não me conhece de todo
quem não me conhece de todo
não conhece a minha escrita.
(Pedro Rodrigues de Menezes, Adílio Lopes X)
tragam-me qualquer coisa
um livro
de poesia
um marcador de livros
sem berloques
que não tenha berloques
irlandeses
como o que me trouxe
a Liliana Lourenço
sem lenço
sem penso
fungando
que chatice.
(Pedro Rodrigues de Menezes, Adílio Lopes XI, poema dedicado a Liliana Lourenço)
quero-te
Adília
completa
mente
foder-te
achadamente
a ti
à tua carapinha
desviando o mundo
da rua que dá
para a Argentina
e o Japão
a ti vão dar todos
os caminhos do mundo
eu sou Colombo
tu és Cristóvão.
(Pedro Rodrigues de Menezes, Adílio Lopes, XII)
quero lá saber da inteligência
se a inteligência não for poesia
tudo o que me transforma é agonia.
(Pedro Rodrigues de Menezes, Adílio Lopes, XIII)
Adília
procurei-te
à tua morada
até me dei ao trabalho
de fazer consultas nas páginas
amarelecidas pela traça
até procurei na net
da biblioteca nacional
mas hoje só há moradas
de mail
onde estás
Adília
Lopes.
(Pedro Rodrigues de Menezes, Adílio Lopes XIV)
ato e desato
durante o acto
ou ambos morremos
ou comemos torresmos.
(Pedro Rodrigues de Menezes, Adílio Lopes I)
espalmei a parede
no mosquito
sobrou a sombra
vestígio noite
descobri
não é cruel matar
um mosquito
ou uma pessoa
o mosquito não sangra
a pessoa não sangra
escrevi isto em Angra
sem Heroísmo.
(Pedro Rodrigues de Menezes, Adílio Lopes II)
a vida
escrevi
isto
na casa
no banho
antes de
tomar
o pequeno
almoço.
(Pedro Rodrigues de Menezes, Adílio Lopes III)
ponto final
parágrafo
aguardo
a vírgula
agrado
resguardado
calado
não disse nada
disto
gostaria de ter
de ter dito
qualquer coisa
que nascesse
emergindo
esplêndida
da boca
pra fora.
(Pedro Rodrigues de Menezes, Adílio Lopes IV)
com papas e bolos
se enganam os tolos
era assim que a mãe
antes da minha mãe
quando éramos pobres
nos dava a medicação
para a dor da mão
não havia nada
para o coração
pensava
pensei
nisto
só os pobres comem
papas
embora não fôssemos
pobres
porque havia ouro
que o meu avô guardava
que tinha no Cu*.
* cobre
(Pedro Rodrigues de Menezes, Adílio Lopes V)
a minha tia Céu
vivia no céu
snob
fumava com a mão
direita
a mão e ela
espetadas ambas
apontando ao coração
dos outros
e antes de perder a voz
a tia Céu
não o céu – esse não tem
voz
antes de perder o pulmão
deu um trabalhão
enviá-la para o chateaux de Paris
e dos seus restinhos
mortais
ainda agarrada à boquilha
italiana
que pertenceu a uma Duquesa
alemã
a tia Céu permanece lá
ainda viva de tanto morrer
a bordo de uma avioneta Cessna
da neta
explodiu depois
de proibirem cigarros a bordo.
(Pedro Rodrigues de Menezes, Adílio Lopes VI)
o teu sangue é old money
(Pedro Rodrigues de Menezes, Adílio Lopes VII, poema dedicado a Graça Costa)
tenho saudades da criança
distinga entre pirite de aglomerado
a pirite é o ouro dos tolos
um aglomerado são muitas pessoas
sedimentais sedimentadas de pó
convencem-nos
iludem-nos
que descobrindo a ciência
somos científicos.
(Pedro Rodrigues de Menezes, Adílio Lopes VIII)
em criança descobri que as plantas
aquáticas
não foram plantadas
encontrei isto numa garrafa
no meio do mar
sem instruções
sem instrução
e do interior
recolhi a água
reguei as plantas do meu avô
esperei que borboletas aladas
com guelras e brocados
explodissem
e por fim pousassem
numa fina folha fina
morressem
como direi
de falta de ar.
(Pedro Rodrigues de Menezes, Adílio Lopes IX)
quem não conhece a minha escrita
não me conhece de todo
quem não me conhece de todo
não conhece a minha escrita.
(Pedro Rodrigues de Menezes, Adílio Lopes X)
tragam-me qualquer coisa
um livro
de poesia
um marcador de livros
sem berloques
que não tenha berloques
irlandeses
como o que me trouxe
a Liliana Lourenço
sem lenço
sem penso
fungando
que chatice.
(Pedro Rodrigues de Menezes, Adílio Lopes XI, poema dedicado a Liliana Lourenço)
quero-te
Adília
completa
mente
foder-te
achadamente
a ti
à tua carapinha
desviando o mundo
da rua que dá
para a Argentina
e o Japão
a ti vão dar todos
os caminhos do mundo
eu sou Colombo
tu és Cristóvão.
(Pedro Rodrigues de Menezes, Adílio Lopes, XII)
quero lá saber da inteligência
se a inteligência não for poesia
tudo o que me transforma é agonia.
(Pedro Rodrigues de Menezes, Adílio Lopes, XIII)
Adília
procurei-te
à tua morada
até me dei ao trabalho
de fazer consultas nas páginas
amarelecidas pela traça
até procurei na net
da biblioteca nacional
mas hoje só há moradas
de mail
onde estás
Adília
Lopes.
(Pedro Rodrigues de Menezes, Adílio Lopes XIV)
242
2
Mais como isto
Ver também