Ao Queimar Minha Língua

O músculo que não me deixa preciso,
Aquele que nem é todo racional ou imagético,
É agora um inchado órgão ao provar alimentos.
A vermelhidão em sua superfície mostra uma série
De frutas em bolor postuladas como distinto prato.
As queimaduras começaram quando transgrediram
O bom senso coletivo, tentaram me enfiar goela abaixo
Uma salada composta de ignorância, misticismo e preconceitos.
O paladar entra em um sombrio mar de água anti-razão.
E como arde, irrita a volta do neomedievalismo social.
Parece que alisam minhas papilas gustativas com
Apologias a tudo que é tosco e incita o nojo.
Num excesso de sal de autoritarismos,
Nos gostos amargos do espírito acrítico das massas,
Não me servem nenhum farol de libertação das malditas gulas.
Cada vez com a língua cheia de sinais, feridas brancas,
Não encontro novos sabores ou remédios
Que amenizem esse mundo de desgostos e torpezas.
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