às mulheres sofridas desse mundo


 

 

solitária garça, 

a mulher descasca batatas na varanda:

batatas domesticadas,

batatas arrancadas do quintal,

batatas escondidas na terra,

sob a pele o encapotado coração.

como domesticar o coração?

espremidos entre a lógica e a razão,

coração e batata pedem espaço para crescer,

mas é outono, e em trajes de Eva

a mulher descasca batatas na varanda,

estrelas desencapotadas de seus brilhos são pedras,

pedras encapotadas em seus musgos, duras esperanças.

à mesa um lápis de chumbo fardado de ovelha

para transferir furores à pedra, ponta metálica.

detumescência,

a noite levemente iluminada,

em busca do coágulo,

a vertiginosa sutileza enfia a mão no peito

e coloca na vasilha com água,

entre os cardumes de batatas,

o coração que se desfolha.
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