Um sopro de nostalgia

De repente, um sopro de nostalgia.

Lembrei o que há muito não lembrava,
O gosto a leite com café
Que da cozinha d'avó Maria emanava,
Sob a toalha bordada que tanta nódoa tinha;

Pronta para fugir para o terraço,
Fingia uma sesta com a boneca na mão,
Assim que a vovó se entregava ao sono,
Coitada, embalada na sua própria canção;

A velha surda lá na esquina
Corria sempre pr'á porta e sorria,
Mal ouvia, mas era tão cusca,
Que as vezes que espirrava ela sabia;

Pior que isso somente as outras vizinhas,
Que se comunicavam aos gritos,
Debruçadas nas varandas, todas esbaforidas,
Para não pagarem renda de telefone;

Sentada na cadeira das rosas, na varanda,
Restava eu diante de tanta euforia,
Sorria ao ouvir o Viriatinho cantar,
Quando as mulheres davam tréguas à gritaria;

Do tempo fiz memórias,
Construí sonhos,
Criei espetativas,
Confundi sentimentos,
Apaixonei-me que nem perdida,
Escrevi e cantei o meu povo,
Caí em tormentos rendida
E sorri, porque eu faria tudo de novo.

De repente, um sopro de poesia.

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