NAVIO NEGREIRO
A noite na pele os fez tripulante,
Icem as velas brancas banhadas de sangue,
desfilará sob as águas e adiante,
O cemitério navegante...
Ópera onde chove choros,
E que na bagunça dos gritos,
Perde - se até o próprio nome,
Buscar o canto dos pássaros,
E a trilha sonóra ser a própria fome...
Com sede,
Delirantes,
Uns se atiram ao abraço do mar,
Na fuga dos tubarões brancos caminhantes...
Magras,
As esperanças,
Parecem até o sorriso,
de nossas crianças,
Tratadas como se não houvesse alma e coração em seus corpos,
Estampado no peito,
Uma orquestra de ossos,
goteiras,
Tornaram - se mamadeiras,
Faces frias,
Selas comprimidas,
Lágrimas escorrem,
temperando feridas...
O tinir do ferro,
Como um ranger de dentes,
Imaginar o som da liberdade,
Raspando correntes...
Santo,
É quando o mar está franco,
Em devaneios afirmam,
Que o inferno é branco...
Silêncio construído,
A base de cortes,
No ar,
O estalar de chicotes...
O inferno com caravelas,
Não pregou os olhos,
comeu as remelas...
A sujeira e o mal odor,
No corpo,
Criaram - se
Crostas,
De chuveiro,
A madeira arrastada nas costas,
Repetiu o presságio,
Não mais sonhavam com terras,
E sim com naufrágio...
A friagem crua,
Refletida na lua,
O arrepio na espinha,
Da mãe que fica nua...
Desconhecem seus lares,
Enterrados,
Sob 7 mares,
A melanina,
O motivo de seus pesares,
Enegreceram - se os pulmões,
Com a falta dos ares...
O enegrecer da pele,
Tratado como doença,
Tornou pessoas,
sua própria sentença...
A noite na pele os fez tripulante,
De século em século vestimos as máscaras,
Deste triste semblante...