Roberto Piva

Roberto Piva

Roberto Piva foi um poeta brasileiro.

1937-09-25 Pesquisas relacionadas
2010-07-03 São Paulo
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Prémios e Movimentos

FBN 2008

Alguns Poemas

Manifesto da Poesia Xamânica e Bio-Alquímica

para meu antepassado
nº serpente
1. O mundo são os Lugares de Poder
2. Sacralização xamânica do cotidiano
3. Perspectivas bio-regionais
4. Selvagem & Sagrado
5. Gaviões são divindades solares portadoras de poder
6. Hórus-Falcão rei das duas terras
7. Ecologia da Linguagem
8. Estados alterados da consciência
9. O Gavião fala por nossa boca
10. Xamã: sacerdote-poeta inspirado que em transe extático percorre o inframundo, florestas, mares, montanhas & sobe aos céus em "viagens". Dante foi um xamã-cabalista que conheceu em sua viagem pelos 3 mundos os orixás travessos da Sombra.
11. O olho divino do gavião se transforma em plantas florescentes
12. ÍSIS, Virgem Negra, mãe do Hórus
13. O Gavião plana acima das metrópolis-necrópolis
14. Divindade dos limites do Horizonte
15. "A orgia faz circular a energia vital & Sagrada"
M. Eliade
16. "A marginalidade é formada por aqueles que estão "out" — aqueles que não tem acesso ao poder estabelecido involuntariamente por miséria, ou voluntariamente por escolha estética-religiosa"
Timothy Leary
17. Deixe a Visão chegar
18. É a hora da despedida dos deuses do deserto & chegada dos deuses da vegetação
19. Conspiração sagrada dos terráqueos anônimos & guerreiros do Zuwya
20. Estado de conhecimento sensorial
21. "Dirige as flechas da voz dos jovens para celebrar o gozo desta terra"
Píndaro
22. Ilha subterrânea do gavião. Livro Egípcio dos Mortos. Bardo Todol. Orixás & vida quântica. O caminho do xamã é o caminho do Coração.
XAMÃS PELA NOVA CONSCIÊNCIA

Manifesto Utópico-Ecológico em Defesa da Poesia e do Delírio

Invocação
Ao Grande deus Dagon de olhos de fogo, ao deus da vegetação Dionisos, ao deus Puer que hipnotiza o Universo com seu ânus de diamante, ao deus Escorpião atravessando a cabeça do Anjo, ao deus Luper que desafiou as galáxias roedoras, a Baal deus da pedra negra, a Xangô deus-caralho fecundador da Tempestade.
Eu defendo o direito de todo ser Humano ao Pão & à Poesia
Estamos sendo destruídos em nosso núcleo biológico,
nosso espaço vital & dos animais está reduzido a
proporções ínfimas
quero dizer que o torniquete da civilização está
provocando dor no corpo & baba histérica
o delírio foi afastado da Teoria do Conhecimento
& nossas escolas estão atrasadas pelo menos cem anos
em relação às últimas descobertas científicas no
campo da física, biologia, astronomia, linguagem,
pesquisa espacial, religião, ecologia,
poesia-cósmica, etc.,
provocando abandono das escolas no vício de linguagem &
perda de tempo
em currículos de adestramento, onde nunca ninguém vai
estudar Einstein, Gerard de Nerval, Nietzsche,
Gilberto Freyre, J. Rostand, Fourier, W.
Heinsenberg, Paul Goodman, Virgílio, Murilo
Mendes, Max Born, Sousandrade, Hynek, G. Benn,
Barthes, Robert Sheckley, Rimbaud, Raymond
Roussel, Leopardi, Trakl, Rajneesh, Catulo, Crevel,
São Francisco, Vico, Darwin, Blake, Blavatsky,
Krucënych, Joyce, Reverdy, Villon, Novalis,
Marinetti, Heidegger & Jacob Boehme
& por essa razão a escola se coagulou em Galinheiro
onde se choca a histeria, o torcicolo & repressão
sexual,
não existindo mais saída a não ser fechá-la &
transformá-la em Cinema onde crianças &
adolescentes sigam de novo as pegadas da
Fantasia com muita bolinação no escuro.
Os partidos políticos brasileiros não têm nenhuma
preocupação em trazer a UTOPIA para o quotidiano.
Por isso em nome da saúde mental das novas gerações
eu reivindico o seguinte:
1 - Transformar a Praça da Sé em horta coletiva & pública.
2 - Distribuir obras dos poetas brasileiros entre os
garotos (as) da Febem, únicos capazes de
transformar a violência & angústia de suas almas
em música das esferas.
3 - Saunas para o povo.
4 - Construção urgente de mictórios públicos ( existem
pouquíssimos, o que prova que nossos políticos
nunca andam a Pé ) & espelhos.
5 - Fazer da Onça (pintada, preta & suçuarana) o
Totem da nacionalidade. Organizar grupos de
Proteção à Onça em seu habitat natural. Devolver
as onças que vivem trançadas em zoológicos às
florestas. Abertura de inscrições para voluntários
que queiram se comunicar telepaticamente com
as onças para sabermos de suas reais dificuldades.
Desta maneira as onças poderiam passar uma
temporada de 2 semanas entre os homens &
nesse período poderiam servir de guias &
professores na orientação das crianças cegas.
6 - Criação de uma política eficiente & com grande
informação ao público em relação aos
Discos-Voadores. Formação de grupos de contato
& troca de informação. Facilitar relações eróticas
entre terrestres & tripulantes dos OVNIS.
7 - Nova orientação dos neurônios através da
Gastronomia Combinada & da Respiração.
8 - Distribuição de manuais entre sexólogas (os)
explicando por que o coito anal derruba o Kapital
9 - Banquetes oferecidos à população pela Federação das Indústrias.
10 - Provocar o surgimento da Bossa-Nova Metafísica
& do Pornosamba.
O Estado mantém as pessoas ocupadas o tempo integral
para que elas NÃO pensem eroticamente,
libertariamente. Novalis, o poeta do romantismo
alemão que contemplou a Flor Azul, afirmou: "Quem
é muito velho para delirar evite reuniões juvenis. Agora
é tempo de saturnais literárias. Quanto mais variada a
vida tanto melhor ".

Roberto Piva nasceu na cidade de São Paulo, em 1937. Sua primeira publicação importante deu-se na Antologia dos novíssimos (São Paulo: Massao Ohno, 1961), e sua estreia em livro ocorreu em 1963, com o livro Paranóia, composto na linhagem visionária de William Blake, e ligado aos experimentos em fanopeia dos surrealistas, no qual Roberto Piva invoca e alinha-se às figuras de poetas brasileiros como Mário de Andrade e Murilo Mendes, proclamando o desregramento dos sentidos e posturas em sua cruzada pessoal pela cidade de São Paulo.
 
 Publicou mais tarde os livros de poemas Piazzas (1964), Abra os olhos e diga ah! (1976), Coxas (1979), 20 poemas com brócoli (1981), Quizumba (1983), Antologia poética (1985) e Ciclones (1997). Com os efeitos positivos da abertura pluralizante da década de 90 e o arrefecimento da hegemonia construtivista na recepção crítica e poética brasileiras, ocorre no final da década a valorização da obra de Roberto Piva, assim como a de Hilda Hilst, estabelecendo-os como figuras notáveis e exemplares no início do século XXI, e levando à publicação, por uma grande editora comercial, de suas obras reunidas.
 Vale notar que a publicação daPoesia Completa e Prosa de Murilo Mendes, em 1994, assim como as traduções amplamente divulgadas de herméticos italianos como Giuseppe Ungaretti, Eugenio Montale e Salvatore Quasimodo, talvez entrem também no emaranhado de causas e sintomas desta transformação na sensibilidade crítico-poética do país.
 
 Os livros de Roberto Piva seriam reunidos em três volumes, publicados pela Editora Globo e editados por Alcir Pécora: Um estrangeiro na legião (2005), Mala na mão & asas pretas (2006) e Estranhos sinais de Saturno (2008).
 
Descobri o trabalho de Roberto Piva no mesmo ano em que descobri o de Hilda Hilst, em 1997, quando os dois poetas paulistas lançaram, respectivamente, a coletânea de poemas intituladaCiclones, e o romanceEstar sendo. Ter sido, que encerrava com o fenomenal "A Mula de Deus". Lembro-me, à época, de alguns artigos sobre o poeta que chamavam detransgressor,revolucionário,xamânico. Alguns anos mais tarde, descobriria seus primeiros livros, quando relançaram o volumeParanóia (1963), que tem alguns poemas de grande imaginação e com uma energia que parecia haver se exilado da poesia brasileira. Foi, no entanto, a descoberta dePiazzas (1964) eAbra os olhos e diga Ah! (1976) que me fariam respeitar imensamente a potência imaginativa de Piva. Talvez apenas em Hilda Hilst encontremos tal crueza corporal, tal  espiritualidade e carnalidade sexualizadas, que me parecem, por vezes, mais potentes em sua ferocidade que aquelas que encontramos na maioria dos poetas modernistas, mesmo entre alguns que são, tecnicamente, muito superiores a Piva. No Brasil, um dos poucos precursores e mestres é Murilo Mendes.
 
 Não há motivos para meias palavras: Piva não foi exatamente um poeta inovador. Não há técnicas realmente "novas" (este adjetivo complicadíssimo e confuso no campo da crítica de poesia), ou algo nele que já não estivesse, de alguma maneira, na poesia de Murilo Mendes e Jorge de Lima, por exemplo, se ficarmos apenas entre os brasileiros. Mas isso, afinal, verdadeiramente não importa muito.  Na verdade, a valorização da poesia de Piva demonstra estarmos entrando em capítulo mais saudável da recepção crítica nacional, percebendo que os conceitos devanguarda etradição, especialmente aqueles defendidos no pós-guerra, eram ambos ilusórios, porque incompletos, parciais. A poesia de Piva, obviamente em seus melhores momentos, é simplesmente necessária.
 
Pouquíssimos poetas brasileiros no pós-guerra possuíram imaginação tão fértil quanto Roberto Piva, poeta que foi, além disso, um dos mais dignos representantes dorevival neo-romântico do pós-guerra, aquele que gerou, nos Estados Unidos por exemplo, toda a melhor poesia do indispensável movimentoBeat (que tampouco fez qualquer coisa que fossenova). Assim também com os poetas da chamada Escola de Nova Iorque - pois, em muitos aspectos, neo-romântica é também a poesia linda de Frank O´Hara, como muitos poemas estimulantes de John Ashbery, Kenneth Koch e James Schuyler. Na América Latina, talvez possamos pensar em Arturo Carrera nestes termos. Esta poética, de autores como Murilo Mendes, Roberto Piva, Allen Ginsberg e tantos outros, poderia ser chamada depós-bárdica e remonta (pelo menos) a poetas como Taliesin (534 - 599) e outros bardos do século V e VI, como Aneirin, sem mencionarmos toda a tradição dosskalds islandeses, dosgriots africanos, e outros poetas da tradição oral e literária.
 
 
 É claro que as veleidades xamânicas, em pleno Ocidente e nos séculos XX e XXI, acabavam fazendo com que Piva, muitas vezes, naufragasse no irrisório e risível, mas há momentos em que esta ambição também lhe doou poemas muito fortes. Se nós tivéssemos lido autores como Roberto Piva e Hilda Hilst com mais atenção e muito mais cedo, teríamos talvez hoje maior equilíbrio em nossos parâmetros de "qualidade poética".
 
 Ainda que um livro como Paranóia possa ressentir-se de um certo "tardo-surrealismo", os livros publicados por Roberto Piva entre as décadas de 60 e 80 demonstram uma grande liberdade de espírito e fidelidade a suas próprias convicções poéticas em meio ao silêncio crítico retumbante, que imperou sobre seu trabalho por décadas, lançando-o à margem dos debates poéticos do período. A década de 60 presenciou o surgimento de poetas bastante distintos, e que nos 15 últimos anos passaram a comandar a atenção tanto da crítica como dos poetas mais jovens. Entre os poetas mais fortes surgidos na década de 60 e influentes sobre os poetas de hoje, Roberto Piva assume seu papel constante de estranho-no-ninho, sua vocação maior, entre os outros poetas notáveis do período como, por exemplo, Orides Fontela (1940 - 1998), Paulo Leminski (1944 - 1989), Sebastião Uchoa Leite (1935 - 2003), Torquato Neto (1944 - 1972), Décio Bar (1943 - 1991), Leonardo Fróes e Sebastião Nunes, estes últimos também sobreviventes, tanto do silêncio da crítica como das agruras políticas do período.
 
 Não há mais motivos para oposições e trincheiras. Há momentos para o visionário e momentos para o projetista, para o vates e para o faber, instantes em que precisamos de poetas que nos incitem corporalmente ao embate (a lover´s quarrel, nas palavras de Robert Frost) com o mundo, e instantes em que precisamos de poetas que nos afiem o intelecto. A maioria dos bons poetas é capaz de ambos, ao mesmo tempo. No entanto,  se há dias em que necessitamos do lirismo contido-condensado de Lorine Niedecker e Augusto de Campos, há outros dias em que apenas o expansionismo mítico de poetas como Christopher Okigbo, Robert Duncan e Hilda Hilst pode servir de fertilizante para os nossos nervos à flor-da-pele. Entre estes últimos, posta-se a potente poesia de Roberto Piva em seus melhores momentos. Enquanto, em lugares como São Paulo, alguns grupos de poetas ainda dedicam-se exclusivamente a garantir sua hegemonia no seio da atenção crítica da década, tentando transformar sua poética em sinônimo de contemporâneo, nada melhor que aprender com Roberto Piva sobre a fidelidade às próprias crenças est-É-ticas.
 
 A morte de Roberto Piva representa uma perda muito grande. O Brasil torna-se ainda mais pobre. Fica a sua poesia, instigando-nos ao embate, entre a delicadeza e a violência, entre o lírico e o bélico, unindo-os em inconformismo.
 
 
--- Ricardo Domeneck
 
 
 
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