Sosigenes Costa

Sosigenes Costa

Sosígenes Marinho Costa foi um poeta, jornalista e professor brasileiro. Participou da Academia dos Rebeldes, grupo literário modernista liderado pelo jornalista e escritor baiano Pinheiro Viégas (1865-1937).

1901-11-11 Belmonte BA
1968-11-05 Rio de Janeiro
21281
1
3


Prémios e Movimentos

Jabuti 1960

Alguns Poemas

Case Comigo, Mariá

Case comigo, Mariá,
que ou te dou, Mariá,
que ou te dou, Meriá,
meu coração.

(Cantiga de roda)

O mar também é casado,
o mar também tem mulher.
É casado com a areia.
Dá-lhe beijos quando quer.

(Quadra popular]

Mariá, por que não te casas,
se o mar também é casado?
Se até o peixlnho é casado...
Não sabes que o mar é casado
com uma filha do rei?
Mariá, o mar é casado
com a filha loura do rei.
Mariá, por que não te casas
se o próprio mar é casado?

Ouem é a mulher do mar?
É a sereia?
É a areia, Mariá.
É a princesa dos seios de concha.

Mandei ao mar uma rosa, Mariá,
porque ele vai se casar.
O mar pediu que a sereia, Mariá,
viesse me visitar
e agradecer o presente.
Ouando foi isto? No passado, Mariá.

Sabes que fez a sereia, Mariá?
Deu-me um punhado de areia;
esta cidade de areia,
nossa terra, Mariá.

Aquela moça da praia, Mariá,
é namorada do mar.
Só vive olhando pra as ondas
e o mar vive a suspirar.

Aquela areia da praia
veio do Engenho de Areia, Mariá.
Que bela é a mulher do mar,
em cima daquela coroa!

Areia da Pedra Branca
desceste o rio correndo.
Tu viste a Ilha das Pombas,
ah! tu viste Mariá.

Adeus, Coroa da Palha,
que eu vou aos tombos da sorte,
rolando aos tombos da vida,
caindo e me levantando.
Só me salvo se cair
nos braços de Mariá.

Donde viria esta areia?
Da serra da Pedra Redonda.
Veio de Minas, Mariá,
rolando no Rio das Pedras
e só entrou na Bahia
quando passou dando um pulo
na cachoeira do Salto.

Deu um pulo no Salto Grande
a areia, a mulher do mar.
Em cima do Salto, está Minas.
Embaixo do Salto a Bahia.
Lá em cima a água é mineira,
caindo embaixo é baiana, Mariá.

Ah! como é linda esta roda
às sete horas da noite,
à hora em que a lua cheia
acabou de sair do mar,
iluminando Belmonte
com todas as suas ruas de areia.

A lua nasce chorando
lágrimas de prata na areia.
Apanhem numa redoma este pranto,
guardem bem guardada esta jóia
que um dia será adorada.
É a lágrima azul da saudade.
Que foi? O que teve? Nada.
Apenas uma lágrima salgada
caiu dos meus olhos na areia.

Marlá, por que não te casas?
Me diga; por que não te casas
comigo, se eu quero te dar,
se eu quero te dar, Mariá,
num beijo o meu coração?

Crianças cantando roda
nas ruas brancas da areia,
naquelas ruas tão longas
como as estradas de areia.

Cantando desde a Atalaia
até a Ponta de areia.
Cantando lá na Biela,
na rua do Camba e nas Baixas
e em todas as ruas de areia.

Ah! lá no Pontal da Barra
é que brilha a lua na areia,
nas areias da Barrinha
e na estrada da Barra Velha.
Mariá, por que não te casas?
Se tu casares comigo,
sabes o que te darei, Mariá?
Sabes o que te darei, Mariá?
Quantos beijos tu quiseres,
cem beijos se tu quiseres,
Mariá, meu coração.
Deitado dontigo na areia,
dar-te-ei meu coração.

Não é só o mar que é casado, Mariá.
O peixinho também é casado.
E o passarinho é casado.
Também quero ser casado
mas contigo, Mariá.

Mariá. case comigo,
já que o mar casou com a areia.

Mariá, por que não te casas,
se o mar também é casado?

I [E Romãozinho foi subindo, foi subindo

(...)
E Romãozinho foi subindo, foi subindo
e chegou na Meroaba de cima.

— Você viu a caipora?

— Não vi não.

E Romãozinho passou pela Bolandeira, cantando:

— Dom Pedro disse a Totonha
sentado naquele beco
que este rio Jequitinhonha
é o rio do estrume seco.
Dom Pedro não era peco.
Dom Pedro disse a Totonha,
Totonha disse a Pacheco.
Pacheco disse a Badico,
o burro contou à vaca,
a besta disse à perua
e a coisa saiu do beco
e se espalhou pela rua.
Este rio Jequitinhonha
é o rio do estrume seco.
Quem me disse foi Joana
que mora com seu Pacheco.
Você viu a caipora?

— Não vi não.

Nisto apareceu o amarelo empapuçado.

— Você viu Zeca?

— Que Zeca?

— Zeca Fedeca sem pé nem munheca.

— Valha-me, Nossa Senhora
que este homem é Romãozinho!
Conheci pelo pé.
E Romãozinho foi cantando:
— Botei um circo no inferno
pra as almas que estão penando
se divertirem um pouquinho e se esquecerem do fogo.
Me visto então de João Bobo
arremedo miriqui,
dou pontapés nos defuntos
e o inferno faz: quá-quá-quá
e só se vê qui-qui-qui.
Quá-quá-quá. Qui-qui-qui.

As almas que estão sofrendo
precisam se divertir.
Dou pontapé no esqueleto
me viro em menino-cobra
faço careta pra a morte
passo a raspa no capeta
e o diabo faz: quá-quá-quá
e a morte faz: qui-qui-qui.
Quá-quá-quá, qui-qui-qui.

— Você viu a caipora?
— Não vi não.
(...)


In: COSTA, Sosígenes. Iararana. Introd. apuração do texto e glossário José Paulo Paes. Apres. Jorge Amado. Il. Aldemir Martins. São Paulo: Cultrix, 1979
Sosígenes Costa (Belmonte BA, 1901 - Rio de Janeiro RJ, 1968) estreou na imprensa por volta de 1928, em Ilhéus BA, onde foi colaborador do Diário da Tarde. No mesmo ano tornou-se membro da Academia dos Rebeldes, com Pinheiro Viegas, Jorge Amado, Edison Carneiro e Dias da Costa. Na época, trabalhava como professor de instrução primária. No início da década de 1950 foi secretário da Associação Comercial e telegrafista do Departamento de Correios e Telégrafos, em Ilhéus. Em 1959 ocorreu a publicação de seu livro Obra Poética, pelo qual recebeu o Prêmio Jabuti de Poesia, em 1960. Entre 1978 e 1979 foram publicadas a segunda edição, revista e aumentada, de Obra Poética e a póstuma Iararana, por iniciativa de José Paulo Paes. A poesia de Sosígenes Costa vincula-se à segunda geração do Modernismo. Segundo o crítico José Paulo Paes, "a ter como certas as datas de composição das peças enfeixadas na primeira parte da Obra Poética, quando ainda andava acesa a campanha dos modernistas contra o soneto em prol da institucionalização do verso livre, entretinha-se o poeta a escrever seus 'Sonetos Pavônicos', todos rigorosamente rimados e metrificados, nos quais são perceptíveis traços parnasianos e, sobretudo, simbolistas, ainda que tais sonetos nada tenham de passadistas, caracterizando-se antes por uma modernidade que se patenteia, como a de Quintana, na exploração criativa das possibilidades expressionais dessa forma fixa, então esclerosada pela prática mecânica e abusiva.".
Sosígenes Costa foi um poeta brasileiro, nascido em Belmonte, Bahia, a 11 de novembro de 1901. Teve  parte de seu trabalho reunido no volume Obra Poética (1959), mas foram os esforços críticos de José Paulo Paes que trouxeram maior atenção ao trabalho do poeta baiano, quando, em 1978, Paes passa a trabalhar com a obra do poeta. O longo poema Iararana, escrito em 1933, seria editado em 1979, com ilustrações de Aldemir Martins. Em 2001, a sua produção poética foi reunida num volume único, Poesia Completa, publicado pelo Conselho Estadual de Cultura da Bahia. Sosígenes Costa morreu no Rio de Janeiro, a 5 de novembro de 1968.
 
Foi contemporâneo de poetas brasileiros como Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes, Henriqueta Lisboa e Cecília Meireles, trazendo algo muito seu à poesia da geração.
 
 Ainda preciso dedicar maior atenção à sua obra, mas intuo haver em Sosígenes Costa uma poesia singular, em que vários aspectos do Modernismo brasileiro parecem encontrar um luminoso ponto de equilíbrio. De passagem pela Baía de Todos-os-Santos, quis prestar esta homenagem a um poeta brasileiro por quem nutro um interesse que vem desde a leitura de textos críticos de José Paulo Paes sobre o autor e a descoberta de alguns poucos poemas disponíveis na Rede. Parece-me um poeta de um coisismo particular, numa linguagem marcada por sua localidade, como no mineiro Dantas Motta, poetas que, ao lado de outros – como o pernambucano Joaquim Cardozo, o paulista Orlando Parolini, as mineiras Henriqueta Lisboa e Maria Ângela Alvim, ou o paraense Max Martins – precisam ser re/lidos e voltar (ou passar) a circular, permitindo-nos enriquecer nossa visão sobre a poesia brasileira moderna.
 
 
 --- Ricardo Domeneck
 
 
 
Sosigenes Costa - Só a poesia nos Salvará
ACENDO A LÂMPADA NAQUELA ESTRELA- SOSÍGENES COSTA
Sosigenes Costa: "Duas festas no mar"
Rodrigo Carreira - Tornou-me o pôr-do-sol..., de Sosígenes Costa | VERSOS E LUZ
NEIDE ARCHANJO Pavão Azul Soneto de Sosígenes Costa
DRONE SOBREVOA CAMPUS SOSÍGENES COSTA DA UFSB-UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL DA BAHIA - PORTO SEGURO-BA
Semana de Acolhimento Campus Sosígenes Costa 01/09/2021
Marcos Roriz invoca Sosígenes Costa-15 Singelas Sonatas para 15 Sonetos Pavônicos
ÉRICO DE FREITAS - SONETO DO ANJO - Sosígenes Costa
Emendando um Soneto (Sosígenes Costa)
Palestra Professor Jorge - Camos Sosígenes Costa
Semana de Acolhimento - Campus Sosígenes Costa 31/08/2021
68. Poetando - Sosigenes Costa - Emendando um soneto (Voz de Marilia Gabriela)
WEBINÁRIO DE INTEGRAÇÃO DE INICIATIVAS DE MONITORAMENTO DAS ÁGUAS - MANHÃ
FORCAMPI UFSB - 2020
7º CONGRESSO DE INICIAÇÃO À PESQUISA, CRIAÇÃO E INOVAÇÃO DA UFSB (CIPCI) CAMPUS SOSÍGENES COSTA CSC
FORCAMPI UFSB - 2020
SEMANA DE ACOLHIMENTO CSC - 2022.2
Colação de Grau sem solenidade de Cursos do 1º ciclo - 2020.1 || UFSB - Campus Sosígenes Costa
Cerimônia de Colação de Grau da Turma 2020.3
WEBINÁRIO DE INTEGRAÇÃO DE INICIATIVAS DE MONITORAMENTO DAS ÁGUAS
Conheça a UFSB
Mensagem de Final de Ano (2020)
WEBINÁRIO DE INTEGRAÇÃO DE INICIATIVAS DE MONITORAMENTO DAS ÁGUAS - TARDE
Boletim
Apresentação SigEventos
Quadro de horários UFSB
UFSB - Bacharelado em Gestão Pública e Social - Gestão social, autonomia e encontro de saberes
Tutorial Inscrição - SigEventos
SEMANA DE ACOLHIMENTO CSC - 2022.2 - 01-07-2022
Trançado bora - Matematica e espaço UFSB
7º CONGRESSO DE INICIAÇÃO À PESQUISA, CRIAÇÃO E INOVAÇÃO DA UFSB (CIPCI) CAMPUS SOSÍGENES COSTA CSC
Seminário PIBID - 14 - 07 - 2023
Acesso Salas de Conferência Web RNP - Dispositivos Móveis
Reunião Plataforma Zoom
Cerimônia de Colação de Grau | Turma 2022.2
SIPAC - CSC
Colação de Grau Online - 2021.2
Video Institucional UFSB 2022
7º CONGRESSO DE INICIAÇÃO À PESQUISA, CRIAÇÃO E INOVAÇÃO DA UFSB (CIPCI) CAMPUS SOSÍGENES COSTA CSC
Tutorial Matrícula SIGAA DISCENTE
Orientações aos ingressantes de 2021.2
Assinatura Eletrônica - SIPAC
Semana de Acolhimento - PPGER - 28/03/2022
Apresentação Secretaria Acadêmica - 2020.2
Semana de Acolhimento - PPGER - 29/03/2022
Memórias Performativas | Live 03 (09/03) – Lançamento do e-book
Banca de progressão servidor docente Prof. Dr. Álamo Pimentel Gonçalves da Silva
Mensagem natalina: Prof. Sosigenes Bittencourt
II Colóquio de Pesquisa “Poéticas de Pedagogias Vivas"

Quem Gosta

Seguidores