Stela do Patrocínio
a mulher que falava coisas
1941-01-09 Rio de Janeiro
1992-10-20 Colônia Juliano Moreira
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Alguns Poemas
Biografia
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Livros
Filha de Manoel do Patrocínio e Zilda Francisca do Patrocínio, Stella trabalhava como doméstica na juventude. Aos 21 anos, morava em Botafogo e, em agosto de 1962, quando pretendia tomar um ônibus para chegar à Central do Brasil, foi parada por uma viatura de polícia, na Rua Voluntários da Pátria. Segundo ela, a polícia a levou ao pronto socorro mais próximo, perto da praia de Botafogo. Dali, foi encaminhada ao Centro Psiquiátrico Pedro II, localizado no Engenho de Dentro, dando entrada na instituição em 15 de agosto. Desse modo, passou a ser involuntariamente um "sujeito psiquiatrizado", recebendo o diagnóstico de esquizofrenia.
No dia 3 de março de 1966, foi transferida para a Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá (a mesma instituição onde Arthur Bispo do Rosário foi internado). Stella passou a ser paciente do núcleo feminino Teixeira Brandão, local onde permaneceu até o dia de sua morte.
Devido ao longo período de internação involuntária em instituições asilares, quase nada se sabe a respeito de sua vida.
Stella do Patrocínio veio a óbito no dia 20 de outubro de 1992, devido a uma parada cardiorrespiratória depois de sofrer uma amputação na perna. Do Patrocínio tinha diabetes tipo mellitus e carcinoma mamário. Seu corpo foi sepultado como indigente - um fim comum dos pacientes psiquiátricos em instituições públicas, depois de tanto tempo de internação, devido à perda de suas memórias e de seus laços afetivos. Seu corpo foi encaminhado ao Cemitério de Inhaúma. Cinco anos depois de sua morte, teve os restos cremados e dispensados, pois é política da direção do cemitério descartar os corpos cujos parentes não procuraram, retirando-os das gavetas e cremando-os para abrir espaço.
Postumamente, em 2001, Viviane Mosé publicou trechos recortados de seu falatório em um livro de poesia intitulado Reino dos bichos e dos animais é o meu nome (Rio de Janeiro: Azougue editorial, 2001). Foram fontes materiais para a consolidação do livro: o livro datilografado por Mônica Ribeiro de Souza; as gravações realizadas por Guagliardi. Reino dos bichos e dos animais é o meu nome foi finalista do Prêmio Jabuti.
O trabalho de Stela do Patrocínio, em sua fala poética, chamou a atenção de vários artistas, como Georgette Fadel, Juliana Amaral e Lincoln Antonio, que encenaram com seus textos o espetáculo "Entrevista com Stela do Patrocínio" (São Paulo, 2005), e o documentarista Márcio de Andrade, que preparou o documentário Stela do Patrocínio - A mulher que falava coisas. Num país como o Brasil, machista e racista, não é de admirar que a poesia de uma mulher negra e tida como louca não tenha tido mais atenção, com sua textualidade que por vezes nos leva a uma forma de logopeia pelo viés da loucura.
Suas enumerações e anáforas por vezes nos remetem à poesia urgente de Patrícia Galvão. Seria também interessante comparar seu trabalho ao de Maura Lopes Cançado (1929 - 1993), outra vítima da nossa fronteira cerrada entre sanidade e loucura. Nos Estados Unidos, soube-se valorizar a contribuição de uma poeta como Hannah Weiner (1928 - 1997), que fez de sua condição psíquica a forma do seu pensar. No segundo número impresso da Modo de Usar & Co., incluímos uma tradução para poema da norte-americana.
No dia 3 de março de 1966, foi transferida para a Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá (a mesma instituição onde Arthur Bispo do Rosário foi internado). Stella passou a ser paciente do núcleo feminino Teixeira Brandão, local onde permaneceu até o dia de sua morte.
Devido ao longo período de internação involuntária em instituições asilares, quase nada se sabe a respeito de sua vida.
Stella do Patrocínio veio a óbito no dia 20 de outubro de 1992, devido a uma parada cardiorrespiratória depois de sofrer uma amputação na perna. Do Patrocínio tinha diabetes tipo mellitus e carcinoma mamário. Seu corpo foi sepultado como indigente - um fim comum dos pacientes psiquiátricos em instituições públicas, depois de tanto tempo de internação, devido à perda de suas memórias e de seus laços afetivos. Seu corpo foi encaminhado ao Cemitério de Inhaúma. Cinco anos depois de sua morte, teve os restos cremados e dispensados, pois é política da direção do cemitério descartar os corpos cujos parentes não procuraram, retirando-os das gavetas e cremando-os para abrir espaço.
Postumamente, em 2001, Viviane Mosé publicou trechos recortados de seu falatório em um livro de poesia intitulado Reino dos bichos e dos animais é o meu nome (Rio de Janeiro: Azougue editorial, 2001). Foram fontes materiais para a consolidação do livro: o livro datilografado por Mônica Ribeiro de Souza; as gravações realizadas por Guagliardi. Reino dos bichos e dos animais é o meu nome foi finalista do Prêmio Jabuti.
O trabalho de Stela do Patrocínio, em sua fala poética, chamou a atenção de vários artistas, como Georgette Fadel, Juliana Amaral e Lincoln Antonio, que encenaram com seus textos o espetáculo "Entrevista com Stela do Patrocínio" (São Paulo, 2005), e o documentarista Márcio de Andrade, que preparou o documentário Stela do Patrocínio - A mulher que falava coisas. Num país como o Brasil, machista e racista, não é de admirar que a poesia de uma mulher negra e tida como louca não tenha tido mais atenção, com sua textualidade que por vezes nos leva a uma forma de logopeia pelo viés da loucura.
Suas enumerações e anáforas por vezes nos remetem à poesia urgente de Patrícia Galvão. Seria também interessante comparar seu trabalho ao de Maura Lopes Cançado (1929 - 1993), outra vítima da nossa fronteira cerrada entre sanidade e loucura. Nos Estados Unidos, soube-se valorizar a contribuição de uma poeta como Hannah Weiner (1928 - 1997), que fez de sua condição psíquica a forma do seu pensar. No segundo número impresso da Modo de Usar & Co., incluímos uma tradução para poema da norte-americana.
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