Armindo Trevisan

Armindo Trevisan é um teólogo, poeta, crítico de arte e ensaísta brasileiro, tendo obras traduzidas em várias línguas, especialmente alemão, italiano, espanhol e inglês.

Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil
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Poema-Granadino XI

Psiu! Entortaram
o beiço que herdamos
sem cachimbo de um pilão
e de uma erva do mato.

Pajé deu de comer
na mão aos passarinhos,
e a Anchieta.

Uma cruz ruminou
a alma implumada.

Psiu! Entortaram
o coração deste país.
Quem amolecerá o bronze
da pele que era nossa?

Entortaram até a língua.
A cor deu de aleitar-se,
o mameluco chupou
o polegar por descuido.

Qualquer coisa é preciso
para encher de aroma,
de som,
o padre-nosso esquecido.

Fiquem onde ficarem
os galões de Rondon.
Igaçabas e cascavéis
são nossos.

É preciso desentortar
a pancada que mugiu
no cérebro desta terra.

E fazer da ciência
como cauim o delírio
de provetas e guindastes,
iluminação e portos.

Não se desentorte errado
o sangue! Sangue é vento
que vem de todo lado.
Respire-o quem puder,
e fique mais corado.

Desentorte-se o vesgo
de um fuzil amargo,
o dinheiro pago
pelo dizer
sim ao passado.
E outra vez
desentorte-se o não,
que é tino de mundo
logo depois da criação.

E se alguém souber
de um destino mais terreal,
fale grosso que a língua
que temos é de algodão.

Se falarmos como pudermos,
seremos o que quisermos.


In: TREVISAN, Armindo. Funilaria no ar. Porto Alegre: Movimento; Brasília: INL, 1973. (Poesia Sul, 7)
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