Manuel de Santa Maria Itaparica
Frei Itaparica, ou Frei Manuel de Santa Maria foi um frade franciscano e um poeta barroco brasileiro.
1704-01-01 Ilha de Itaparica BA
1768 Ilha de Itaparica BA
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Descrição da Ilha de Itaparica
(...)
XVII
Monstro do mar, Gigante do profundo,
Uma torre nas ondas soçobrada,
Que parece em todo o âmbito rotundo
Jamais besta tão grande foi criada:
Os mares despedaça furibundo
Coa barbatana às vezes levantada,
Cujos membros tetérrimos e broncos
Fazem a Tétis dar gemidos roncos.
XVIII
Baleia vulgarmente lhe chamamos,
Que como só a esta Ilha se sujeita,
Por isso de direito a não deixamos,
Por ser em tudo a descrição perfeita;
E para que bem claro percebamos
O como a pescaria dela é feita,
Quero dar com estudo não ocioso
Esta breve notícia ao curioso.
XIX
Tanto que chega o tempo decretado,
Que este peixe do vento Austro é movido,
Estando à vista de Terra já chegado,
Cujos sinais Netuno dá ferido,
Em um porto desta Ilha assinalado,
E de todo o preciso prevenido,
Estão umas lanchas leves e veleiras,
Que se fazem cos remos mais ligeiras.
XX
Os Nautas são Etíopes robustos,
E outros mais do sangue misturado,
Alguns Mestiços em a cor adustos,
Cada qual pelo esforço assinalado:
Outro ali vai também, que sem ter sustos
Leva o arpão da corda pendurado,
Também um, que no ofício a Glauco ofusca,
E para isto Brásilo se busca.
(...)
XXV
O arpão farpado tem nas mãos suspenso
Um, que da proa o vai arremessando,
Todos os mais deixando o remo extenso
Se vão na lancha súbito deitando;
E depois que ferido o peixe imenso
O veloz curso vai continuando,
Surge cad'um com fúria e força tanta,
Que como um Anteu forte se levanta.
XXVI
Corre o monstro com tal ferocidade,
Que vai partindo o úmido Elemento,
E lá do pego na concavidade
Parece mostra Tétis sentimento:
Leva a lancha com tal velocidade,
E com tão apressado movimento,
Que cá de longe apenas aparece,
Sem que em alguma parte se escondesse.
(...)
Publicado no livro Eustáquidos: poema sacro e tragicômico (1769*).
In: HOLANDA, Sérgio Buarque de. Antologia dos poetas brasileiros da fase colonial. São Paulo: Perspectiva, 1979. p.146-148. (Textos, 2)
NOTA: Poema composto de 65 oitava
XVII
Monstro do mar, Gigante do profundo,
Uma torre nas ondas soçobrada,
Que parece em todo o âmbito rotundo
Jamais besta tão grande foi criada:
Os mares despedaça furibundo
Coa barbatana às vezes levantada,
Cujos membros tetérrimos e broncos
Fazem a Tétis dar gemidos roncos.
XVIII
Baleia vulgarmente lhe chamamos,
Que como só a esta Ilha se sujeita,
Por isso de direito a não deixamos,
Por ser em tudo a descrição perfeita;
E para que bem claro percebamos
O como a pescaria dela é feita,
Quero dar com estudo não ocioso
Esta breve notícia ao curioso.
XIX
Tanto que chega o tempo decretado,
Que este peixe do vento Austro é movido,
Estando à vista de Terra já chegado,
Cujos sinais Netuno dá ferido,
Em um porto desta Ilha assinalado,
E de todo o preciso prevenido,
Estão umas lanchas leves e veleiras,
Que se fazem cos remos mais ligeiras.
XX
Os Nautas são Etíopes robustos,
E outros mais do sangue misturado,
Alguns Mestiços em a cor adustos,
Cada qual pelo esforço assinalado:
Outro ali vai também, que sem ter sustos
Leva o arpão da corda pendurado,
Também um, que no ofício a Glauco ofusca,
E para isto Brásilo se busca.
(...)
XXV
O arpão farpado tem nas mãos suspenso
Um, que da proa o vai arremessando,
Todos os mais deixando o remo extenso
Se vão na lancha súbito deitando;
E depois que ferido o peixe imenso
O veloz curso vai continuando,
Surge cad'um com fúria e força tanta,
Que como um Anteu forte se levanta.
XXVI
Corre o monstro com tal ferocidade,
Que vai partindo o úmido Elemento,
E lá do pego na concavidade
Parece mostra Tétis sentimento:
Leva a lancha com tal velocidade,
E com tão apressado movimento,
Que cá de longe apenas aparece,
Sem que em alguma parte se escondesse.
(...)
Publicado no livro Eustáquidos: poema sacro e tragicômico (1769*).
In: HOLANDA, Sérgio Buarque de. Antologia dos poetas brasileiros da fase colonial. São Paulo: Perspectiva, 1979. p.146-148. (Textos, 2)
NOTA: Poema composto de 65 oitava
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