Cora Coralina
Cora Coralina, pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, foi uma poetisa e contista brasileira.
1889-08-20 Goiás, Brasil
1985-04-10 Goiás, Goiás, Brasil
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Aquela Gente Antiga - II
Aquela gente antiga explorava a minha bobice.
Diziam assim, virando a cara como se eu estivesse distante:
"Senhora Jacinta tem quatro fulores mal falando.
Três acham logo casamento, uma, não sei não, moça feia num casa
[fácil."
Eu me abria em lágrimas. Choro manso e soluçado...
"Essa boba... Chorona... Ninguém nem falou o nome dela..."
Minha bisavó ralhava, me consolava com palavras de ilusão:
Sim, que eu casava. Que certo mesmo era menina feia, moça bonita.
E me dava a metade de uma bolacha.
Eu me consolava e me apegava à minha bisavó.
Cresci com os meus medos e com o chá de raiz de fedegoso,
prescrito pelo saber de minha bisavó.
Certo que perdi a aparência bisonha. Fiquei corada
e achei quem me quisesse.
Sim, que esse não estava contaminado dos princípios goianos,
de que moça que lia romance e declamava Almeida Garrett
não dava boa dona de casa.
In: CORALINA, Cora. Vintém de cobre: meias confissões de Aninha. 4. ed. Goiânia: Ed. da Universidade Federal de Goiás, 198
Diziam assim, virando a cara como se eu estivesse distante:
"Senhora Jacinta tem quatro fulores mal falando.
Três acham logo casamento, uma, não sei não, moça feia num casa
[fácil."
Eu me abria em lágrimas. Choro manso e soluçado...
"Essa boba... Chorona... Ninguém nem falou o nome dela..."
Minha bisavó ralhava, me consolava com palavras de ilusão:
Sim, que eu casava. Que certo mesmo era menina feia, moça bonita.
E me dava a metade de uma bolacha.
Eu me consolava e me apegava à minha bisavó.
Cresci com os meus medos e com o chá de raiz de fedegoso,
prescrito pelo saber de minha bisavó.
Certo que perdi a aparência bisonha. Fiquei corada
e achei quem me quisesse.
Sim, que esse não estava contaminado dos princípios goianos,
de que moça que lia romance e declamava Almeida Garrett
não dava boa dona de casa.
In: CORALINA, Cora. Vintém de cobre: meias confissões de Aninha. 4. ed. Goiânia: Ed. da Universidade Federal de Goiás, 198
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