Rubem Braga
Rubem Braga foi um escritor lembrado como um dos melhores cronistas brasileiros. Era irmão do poeta e jornalista Newton Braga.
1913-01-12 Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo, Brasil
1990-12-19 Rio de Janeiro, Brasil
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Retrato do Time
No primeiro plano vê-se a linha intrépida
Em posição de repouso vigilante
Ajoelhada sobre o joelho esquerdo,
Prestes a erguer-se
Uma vez batida a chapa
E atacar com ímpeto.
A defesa está atrás, de pé pelo Brasil.
Esse de gorro era nosso melhor elemento
Lembro que nesse jogo Nico foi expulso de campo.
Injustamente pelo juiz.
Porém não antes de marcar seu "goal".
Esse mais gordo chamava Roberto Vaca-Brava.
Nosso "center-half", homem aliás capaz
De jogar em qualquer posição... Quer ver? Me lembro:
Joca, Liberato e Zico,
Tião, Roberto e Sossego,
Baiano, eu, Coriolano, Antonico e Fuad.
Era um onze imortal
Como aliás se nota nessa fotografia
Nessa chuvosa tarde antigamente heróica eternamente
Em que empatamos porém foi nossa a vitória moral.
E olhando o retrato
Olho especialmente o meu:
Um rapazinho feio, de ar doce e violento
Sobre o qual disse o jornal:
"O valoroso meia-direita."
E com toda razão, modéstia à parte.
Esse alto, nosso "keeper" Joca Desidério
Quando a linha fechava ele gritava para os "backs" —
Sai tudo, sai da frente — e avançava na linha.
E chorava de raiva quando a bola entrava.
Mais tarde, por causa de um italiano, ele se fez assassino
Mas com toda razão, segundo me contaram.
Alviverde camisa do Esperança
do Sul Foot-Ball Club, conhecido
Como os capetas verdes — somos nós!
Nós todos envergando essas cores sagradas
E no coração dentro do peito cada um tem uma
[namorada na bancada,
Cada um menos um.
Era Fuad, que não interessava a ninguém,
E morreu tuberculoso sacrificado de tanto correr na
[extrema
É esse aqui, de nariz grande, esse turquinho feio.
1946
In: BRAGA, Rubem. Livro de versos. Il. Jaguar e Scliar. Pref. Affonso Romano de Sant'Anna. Posfácio Lygia Marina Moraes. Rio de Janeiro: Record, 1993
Em posição de repouso vigilante
Ajoelhada sobre o joelho esquerdo,
Prestes a erguer-se
Uma vez batida a chapa
E atacar com ímpeto.
A defesa está atrás, de pé pelo Brasil.
Esse de gorro era nosso melhor elemento
Lembro que nesse jogo Nico foi expulso de campo.
Injustamente pelo juiz.
Porém não antes de marcar seu "goal".
Esse mais gordo chamava Roberto Vaca-Brava.
Nosso "center-half", homem aliás capaz
De jogar em qualquer posição... Quer ver? Me lembro:
Joca, Liberato e Zico,
Tião, Roberto e Sossego,
Baiano, eu, Coriolano, Antonico e Fuad.
Era um onze imortal
Como aliás se nota nessa fotografia
Nessa chuvosa tarde antigamente heróica eternamente
Em que empatamos porém foi nossa a vitória moral.
E olhando o retrato
Olho especialmente o meu:
Um rapazinho feio, de ar doce e violento
Sobre o qual disse o jornal:
"O valoroso meia-direita."
E com toda razão, modéstia à parte.
Esse alto, nosso "keeper" Joca Desidério
Quando a linha fechava ele gritava para os "backs" —
Sai tudo, sai da frente — e avançava na linha.
E chorava de raiva quando a bola entrava.
Mais tarde, por causa de um italiano, ele se fez assassino
Mas com toda razão, segundo me contaram.
Alviverde camisa do Esperança
do Sul Foot-Ball Club, conhecido
Como os capetas verdes — somos nós!
Nós todos envergando essas cores sagradas
E no coração dentro do peito cada um tem uma
[namorada na bancada,
Cada um menos um.
Era Fuad, que não interessava a ninguém,
E morreu tuberculoso sacrificado de tanto correr na
[extrema
É esse aqui, de nariz grande, esse turquinho feio.
1946
In: BRAGA, Rubem. Livro de versos. Il. Jaguar e Scliar. Pref. Affonso Romano de Sant'Anna. Posfácio Lygia Marina Moraes. Rio de Janeiro: Record, 1993
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