Álvares de Azevedo
Manuel Antônio Álvares de Azevedo foi um escritor da segunda geração romântica, contista, dramaturgo, poeta e ensaísta brasileiro, autor de Noite na Taverna.
1831-09-12 São Paulo, Brasil
1852-04-25 Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
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Fragmento de um canto em cordas de bronze
Deixai que o pranto esse palor me queime,
Deixai que as fibras que estalaram dores
Desse maldito coração me vibrem
A canção dos meus últimos amores!
Da delirante embriaguez de bardo
Sonhos em que afoguei o ardor da vida,
Ardente orvalhos de febris pranteios,
Que lucro à alma descrida?
Deixai que chore pois. — Nem loucas venham
Consolações a importunar-me as dores:
Quero a sós murmurá-la à noite escura
A canção dos meus últimos amores!
Da ventania às rápidas lufadas
A vida maldirei em meu tormento
— Que é falsa, como em prostitutos lábios
Um ósculo visguento.
Escárnio! Para essa muitas virgens
Como flores — românticas e belas —
Mas que no seio o coração tem árido,
Insensível e estúpido como elas!
Que agreste vibrar, ruja-me as cordas
Mais selvagens desta harpa — quero acentos
De áspero som como o ranger dos mastros
Na orquestra dos ventos!
Corre feio o trovão nos céus bramindo;
Vão torvos do relâmpago os livores:
Quero às rajadas do tufão gemê-la,
A canção dos meus últimos amores!
Vem, pois, meu fulvo cão! ergue-te, asinha,
Meu derradeiro e solitário amigo!
— Quero me ir embrenhar pelos desvios
Da serra — ao desabrigo...
Deixai que as fibras que estalaram dores
Desse maldito coração me vibrem
A canção dos meus últimos amores!
Da delirante embriaguez de bardo
Sonhos em que afoguei o ardor da vida,
Ardente orvalhos de febris pranteios,
Que lucro à alma descrida?
Deixai que chore pois. — Nem loucas venham
Consolações a importunar-me as dores:
Quero a sós murmurá-la à noite escura
A canção dos meus últimos amores!
Da ventania às rápidas lufadas
A vida maldirei em meu tormento
— Que é falsa, como em prostitutos lábios
Um ósculo visguento.
Escárnio! Para essa muitas virgens
Como flores — românticas e belas —
Mas que no seio o coração tem árido,
Insensível e estúpido como elas!
Que agreste vibrar, ruja-me as cordas
Mais selvagens desta harpa — quero acentos
De áspero som como o ranger dos mastros
Na orquestra dos ventos!
Corre feio o trovão nos céus bramindo;
Vão torvos do relâmpago os livores:
Quero às rajadas do tufão gemê-la,
A canção dos meus últimos amores!
Vem, pois, meu fulvo cão! ergue-te, asinha,
Meu derradeiro e solitário amigo!
— Quero me ir embrenhar pelos desvios
Da serra — ao desabrigo...
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