Wisława Szymborska
Wisława Szymborska, Maria Wisława Anna Szymborska foi uma escritora polaca galardoada com o Prémio Nobel na área de literatura (1996). Poetisa, crítica literária e tradutora, viveu em Cracóvia, onde se formou em Filologia Polaca e Sociologia pela Universidade Jaguellonica. A sua extensa obra, traduzida em 36 línguas, foi caracterizada pela Academia de Estocolmo como «uma poesia que, com precisão irónica, permite que o contexto histórico e biológico se manifeste em fragmentos da realidade humana», tendo sido a poetisa definida, como «o Mozart da poesia»
1923-07-02 Kórnik
2012-02-01 Cracóvia
47182
2
25
Na torre de Babel
— Que horas são? — Sim, estou feliz
e só me falta um guizo no pescoço
para enquanto tu dormes ele retinir sobre ti.
— Não ouviste então a tempestade? O vento assolou as muralhas,
a torre urrou como um leão pelo portão
a ranger nas dobradiças. — Como é que podes não te lembrar?
Eu trazia um vestido cinzento muito simples
de abotoar nos ombros. — E logo a seguir
o céu explodiu em mil clarões. — Como é que eu podia entrar
se tu não estavas sozinho! — E vi de súbito
as cores de antes de haver olhar. — É pena
que não possas perdoar-me. — Tens toda a razão,
foi um sonho de certeza. — Por que é que mentes?
Por que me tratas pelo nome dela?
Amá-la ainda? — Sim! Queria muito
que ficasses comigo. — Não estou triste,
eu devia ter adivinhado.
— Ainda pensar nele? — Não estou a chorar!
— E é tudo? — De ninguém como de ti.
— Pelo menos és sincera. — Fica tranquilo,
vou-me embora da cidade. — Fica tranquilo,
eu vou-me embora daqui. — Tens umas mãos tão bonitas.
— É uma velha história. Foi duro
mas passou sem deixar mossas. — Não tem de quê,
meu caro, não tem de quê. — Não sei
que horas são e nem quero saber.
e só me falta um guizo no pescoço
para enquanto tu dormes ele retinir sobre ti.
— Não ouviste então a tempestade? O vento assolou as muralhas,
a torre urrou como um leão pelo portão
a ranger nas dobradiças. — Como é que podes não te lembrar?
Eu trazia um vestido cinzento muito simples
de abotoar nos ombros. — E logo a seguir
o céu explodiu em mil clarões. — Como é que eu podia entrar
se tu não estavas sozinho! — E vi de súbito
as cores de antes de haver olhar. — É pena
que não possas perdoar-me. — Tens toda a razão,
foi um sonho de certeza. — Por que é que mentes?
Por que me tratas pelo nome dela?
Amá-la ainda? — Sim! Queria muito
que ficasses comigo. — Não estou triste,
eu devia ter adivinhado.
— Ainda pensar nele? — Não estou a chorar!
— E é tudo? — De ninguém como de ti.
— Pelo menos és sincera. — Fica tranquilo,
vou-me embora da cidade. — Fica tranquilo,
eu vou-me embora daqui. — Tens umas mãos tão bonitas.
— É uma velha história. Foi duro
mas passou sem deixar mossas. — Não tem de quê,
meu caro, não tem de quê. — Não sei
que horas são e nem quero saber.
1026
0
Mais como isto
Ver também