Angico

Fogão de lenha, carvão de angico.
Bastava abanar e logo saía um café quente
Servido em bule de ágata, em chícara de ágata.

O cigarro era forte, o pigarro também.

Minha meninice na casa do meu avô
Durou uma eternidade.

Naquele tempo eu não tomava café,
Não fumava e não tinha pigarro.
Não sabia sequer que mulher
Rimava com sofrer. Rima?
Mulher rima com quê?

Mas já então eu pressentia:
Naquelas menininhas que me compulsavam
Ao Jogo do Anel havia algo diferente.
Eu era muito pequeno mas já sentia
Que aquelas mãozinhas quentes e fugidias
Tinham um toque muito diferente.

E se uma delas, ela, demorava um pouquinho mais
Suas mãos entre as minhas e me passava o anel,
Para mim era o sinal certo de que entre nós havia
Aquilo que um dia chamar-se-ia
Uma grande paixão.

Porém se nada disso sucedia,
Naquela noite eu acho que ia dormir triste,
Como hoje.

Depois, a mulher deixou de ser inatingível
Para ser apenas inalcançável.

E eu vim a conhecer a mulher
E a saber que nesses seres movediços,
Sedosos, sediços,
Havia um sumidouro.

Afinal, há rima para mulher?
Para homem tem. Serve lobisomem?

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