Ademir Assunção

Ademir Assunção

Poeta, letrista e jornalista.

1961-06-02 Araraquara
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TURBULÊNCIA DE NERVOS

(sétimo monólogo interior de Lili Maconha)

 

Arrancaram a alma das palavras.
Esfolaram a epiderme, trituraram a carne e moeram os ossos,
até esvaziarem cada camada de sentido.

                                                                                             Ela virá esta noite.

Carcaças corroídas pelo ácido monetário,
sílabas e fonemas são apenas fantasmas,
sem significado algum.

                           Ela virá. A cadela de casaco felpudo, escuro e grosso.

Há letreiros luminosos nas fachadas dos edifícios,
mas eles não dizem nada.
Tudo está a venda. Tudo é ruína. Tudo é naufrágio
e turbulência de nervos.

                                                                 Ela virá e eu a estarei esperando.

Peixes agonizam entre os entulhos.
Torneiras despejam água fétida sobre pilhas de pratos.
Os corredores das universidades estão cheios de zumbis.

                                                                                 0 38 está engatilhado.

Os últimos poetas se enforcaram em galhos de bétulas de ferro.
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