Foed Castro Chamma
Foed Castro Chamma foi poeta, tradutor e ensaísta brasileiro. Conquistou vários prêmios nacionais, com destaque para o Bienal Nestlé de Literatura Brasileira (1984) por sua magistral obra Pedra da Transmutação. Laureado poeta neomodernista. Patrono da cadeira n° 9 da Academia de Letras, Artes e Ciências do Centro-Sul do Paraná (ALACS) a mesma que há anos já o homenageia honrosamente através da criação do Concurso Literário Foed Castro Chamma.
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As Sombras Correm
As sombras correm soltas pela noite
à cata de suas formas apagadas,
tecendo solidões que são abismos,
sinais que são multiplicadas máscaras
de uma face movida pela luz
que desata do feixe o movimento
e se dispersa em fugas para atar-se
à unidade que flui do proprio tempo.
Os cabelos transformam-se em ramagens,
as árvores caminham. As florestas
combatem. Exercita a quadratura
do circulo o artesão moldando a pedra,
polindo arestas, desenhando a fórmula
da sombra em sua ordenação geométrica
como um todo partido que se reúne
pelo esforço que move o vento, a terra.
As águas correm negras, desatadas
das formas, com seus silvos de serpentes
nervosas sobre o leito das estradas,
luzindo a cor sinistra das correntes.
(...)
Sobre a boca formosa adormecida
tímidas aves, asas assustadas
sobrevoavam ligeiras com os bicos
famintos, a procura do arrozal
perdido na quietude da calada
planície verde agora adormecida
pela brisa da morte tal um mar
de pedra a desafiar a clara vida.
O rosto transformara-se em metal
e recusava dar-se ao movimento
dos círculos em vôo a procura
da cantora partida: apenas vinha
com a quietude amarga o frio som
de prata antiga da serena chuva
a derramar-se em finas linhas de água
nas figuras sonâmbulas da rua.
Eu a vi por detrás da clara máscara
armada para a vida com bandeiras
desfraldadas no corpo. A face dura
denunciava a cantora, ave guerreira.
Vi pedrarias na corrente verde
da fala, o brilho de esmeralda ardia
e inundava de líquidas vogais
a sala prisioneira da poesia.
(...)
Eu vi a palavra fora de sua boca
desenrolar o manto da poesia.
O som criava pássaros alegres
que voavam e desapareciam.
O encanto era tal que se perdia
a imagem verdadeira, e vi a palavra
transformar-se de nítido metal
em labareda, em fogo, em sombra alada,
com as asas abertas sobre nós:
o rumor da poesia urdia a voz
e o pássaro incendiava-se na luz
que sua fala espargia (negro sol).
à cata de suas formas apagadas,
tecendo solidões que são abismos,
sinais que são multiplicadas máscaras
de uma face movida pela luz
que desata do feixe o movimento
e se dispersa em fugas para atar-se
à unidade que flui do proprio tempo.
Os cabelos transformam-se em ramagens,
as árvores caminham. As florestas
combatem. Exercita a quadratura
do circulo o artesão moldando a pedra,
polindo arestas, desenhando a fórmula
da sombra em sua ordenação geométrica
como um todo partido que se reúne
pelo esforço que move o vento, a terra.
As águas correm negras, desatadas
das formas, com seus silvos de serpentes
nervosas sobre o leito das estradas,
luzindo a cor sinistra das correntes.
(...)
Sobre a boca formosa adormecida
tímidas aves, asas assustadas
sobrevoavam ligeiras com os bicos
famintos, a procura do arrozal
perdido na quietude da calada
planície verde agora adormecida
pela brisa da morte tal um mar
de pedra a desafiar a clara vida.
O rosto transformara-se em metal
e recusava dar-se ao movimento
dos círculos em vôo a procura
da cantora partida: apenas vinha
com a quietude amarga o frio som
de prata antiga da serena chuva
a derramar-se em finas linhas de água
nas figuras sonâmbulas da rua.
Eu a vi por detrás da clara máscara
armada para a vida com bandeiras
desfraldadas no corpo. A face dura
denunciava a cantora, ave guerreira.
Vi pedrarias na corrente verde
da fala, o brilho de esmeralda ardia
e inundava de líquidas vogais
a sala prisioneira da poesia.
(...)
Eu vi a palavra fora de sua boca
desenrolar o manto da poesia.
O som criava pássaros alegres
que voavam e desapareciam.
O encanto era tal que se perdia
a imagem verdadeira, e vi a palavra
transformar-se de nítido metal
em labareda, em fogo, em sombra alada,
com as asas abertas sobre nós:
o rumor da poesia urdia a voz
e o pássaro incendiava-se na luz
que sua fala espargia (negro sol).
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