Manuel Sérgio

deputado português

1933-04-20 Lisboa
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Senhor

Senhor
Quando eu morrer
(De tanto viver)
Coloca-me
Entre os que não
Te conheceram
E Te procuraram
De olhos magoados
Como pedaços da tarde
Entre os náufragos perdidos
Na cerração
Da vida

Coloca-me
Ao lado dos que foram pisados
Como as pedras da rua
E desprezados
No meio de armas e silêncios
E mesmo assim
Junto às margens de um cais
Foram esperando
Com marcas de certezas na alma
Como rastos de pés na areia

Senhor
Eu que abraço
Como quem Te comunga
Que não sei bater
A não ser
Com látegos feitos da luz da lua
Que mantenho os mesmos olhos de criança
Para ver diferente
Senhor
Sou por certo dos Teus

Senhor
Eu que em espaços úmidos
De ternura incorrupta
Beijei seios túmidos
E lábios
Que eram flores vermelhas ofegantes
Que me desfiz em mil acenos
A chamar
Senhor
Sou por certo dos Teus

Mas nem assim hesites um só instante
Em colocar-me
Ao lado dos que não Te conheceram
E Te procuraram
E deixa-me continuar
O mensageiro inquieto
Da Esperança perseguida
Inventada
E por uma grande coragem
Fecundada

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