Poema Diante de Augusto dos Anjos

Explodem visceras de ferro e força
no corpo magro, parado e surdo
à sombra de sua dramática solidão.

Abro infinitamente o compacto bronze
com meus olhos nus e serenados
olhando o mistério triste e amargo
no vertical denso que o guarda.

Na fisionomia inflexível
sua onipresença se estende
o mecanismo da fala muda
canta no imóvel magicamente.
E no cérebro duro de férreas substâncias
sua individualidade retorna.

O hermetismo de estanho e bronze
se plasma na poesia eterna que balbucia.
Absorvo o peito tremido de Augusto
fitando sua dor exclamativa.

Rasgam-se vôos doloridos
de sua fala quieta e explosiva.

A imagem sórdida da morte se sucumbe
e eu o vejo falar, ainda vivo
no seu íntimo silêncio de bronze.

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