Ontem

Ontem, partiu-se a lua em duas foices
e decepou o chifre do unicórnio.
Tingiu-se o céu de um rubro tom de esbórnia
e a vasta terra em vasto céu mirou-se.

Ontem, partiu-se a lua em duas foices.
Meias-luas gentis pudesse a córnea
entrever, entre arcanjos, no céu morno.
Mas não. Soltou-se a lua no ar, aos coices.

Bem sei que voltará a ser esfera.
Refundidas as faces, lua cheia,
reverterá o gume de ouro e fera.

Posto que é sempre a mesma lua, a meia
ou toda. E assim constante, assim pudera
ser poema, antes que punhal na veia.

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