Elogio da Pressa

Lanço o meu desafio.
Sou como o pássaro que fica de vigília no pomar
esperando que o fruto amadureça.
Hoje é dia de paz.
Acomodo-me na minha rouquidão e me calo de vez.
O anjo que me guarda não conhece este exílio
onde apodreço sozinho.
Sustento esta bengala.
Lá fora, a tarde protesta contra a minha trajetória
e muda de percurso.
Sufoco os efeitos de minha solidão e continuo alheio
aos meus propósitos.
Não sei recomeçar.
Melhor é ficar dentro do búzio e esperar que o
silêncio reabra novamente suas velhas cortinas.
Reduzo as minhas intenções a um quadro novo
e esbarro no irreal.
Cada instante é uma reta ligando a minha angústia
ao olho do universo.
Tudo me parece relativo.
A vida foge ao controle de minhas decisões
e me deixa perplexo.
Meus caminhos são amplos.
Apalpo a hora vagarosa em sua órbita em torno
do incriado.
Vivo o segredo dos ausentes sem teto.
Estou no centro geométrico de todas as idéias
e não sei o que penso.
Por enquanto, apenas a verdade me aproxima do que sou
e deste tema resumido.

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