Tear do Tempo

De
noites de mil sóis se fazem os dias
e na berma dos sentidos
corre o desassossego de um corpo sôfrego
e a alma se aviva a cada sobressalto,
do acto consentido que atravessa o corpo

Paira uma leveza sobre os nossos dias
que leva a pensar se em nossas vidas
só ficam as marcas do fugaz presente,
e se me pergunto a alma entoa
um canto que rasga a fundura do tempo

E fico suspensa
no ponto intermédio onde me toca o futuro
e a História me alcança

Desse promontório onde o tempo interroga,
vivo as dimensões todas que há em mim
pretérito, futuro, continuo presente
a lembrar que sou
caminho, vontade, corpo chão, raiz ,
e que a cada instante do tempo que passa
ensaio a busca , de chegar mais perto
da razão que seja o tempo em si

Olho o corpo e vejo ser a dimensão
que o tempo atravessa e marca a passagem,
o corpo navio que sulca esse instante
onde ajo , penso, desejo, decido
e a alma o baú que guarda as memórias
do que fiz, pensei quis e desejei

Pesa-me a leveza que este tempo vive
que escolhe a amnésia como atitude,
pesa-me e contudo por vivê-la anseio
sem esquecer que fui e navego sonhos
e ter sido conjugo com o que serei

A vida me acena aqui e agora
no tempo e lugar onde urge cumprir
o presente e o futuro que incrustados vivem
na raiz da memória que me fez e sou,
raiz donde parto em direcção a mim

Por isso os meus dias, mesmo os banais,
são instantes únicos
que busco olhar na sua inteireza
para viver à proa o tempo que é o meu,
tempo transversal que me atravessa
tempo a dimensão que me interpela
a viver instantes de total urgência.

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