Thiago de Mello

Thiago de Mello

Amadeu Thiago de Mello foi um poeta e tradutor brasileiro natural do Estado do Amazonas, é dos poetas mais influentes e respeitados no país, reconhecido como um ícone da literatura regional. Tem obras traduzidas para mais de trinta idiomas.

1926-03-30 Barreirinha
2022-01-14 Manaus
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178


Prémios e Movimentos

Jabuti 1997Jabuti 2000

Alguns Poemas

Os Estatutos do Homem

(Ato Institucional Permanente)

A Carlos Heitor Cony


Artigo I.
Fica decretado que agora vale a verdade.
que agora vale a vida,
e que de mãos dadas,
trabalharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II.
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III.
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV.
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo Único:
O homem confiará no homem
como um menino confia em outro menino.

Artigo V.
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.

Artigo VI.
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII.
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII.
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX.
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha sempre
o quente sabor da ternura.

Artigo X.
Fica permitido a qualquer pessoa,
a qualquer hora da vida,
o uso do traje branco.

Artigo XI.
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo.
muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII.
Decreta-se que nada será obrigado nem proibido.
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.

Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.

Artigo XIII.
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.

Artigo Final.
Fica proibido o uso da palavra liberdade.
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.


Santiago do Chile, abril de 1964

Publicado no livro Faz Escuro Mas Eu Canto: Porque a Manhã Vai Chegar (1965).

In: MELLO, Thiago de. Vento geral, 1951/1981: doze livros de poemas. 2.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 198
Thiago de Mello (Manaus AM, 1926) foi aluno interno do Colégio Batista, por volta de 1942, no Rio de Janeiro RJ; trabalhou como ajudante de cozinheiro em troca de estudos, moradia e comida. Entre 1946 e 1950, aproximadamente, estudou na Faculdade Nacional de Medicina, mas não chegou a concluir o curso.
Em 1950 ocorreu a publicação de seu poema Tenso por meus Olhos na primeira página do Suplemento Literário do jornal carioca Correio da Manhã.
No ano seguinte publicou Silêncio e Palavra, seu primeiro livro de poesia. Dirigiu o Departamento Cultural da Prefeitura do Rio de Janeiro em 1957.
Entre 1959 e 1960 foi adido cultural na Bolívia e no Peru. No período de 1961 a 1964 trabalhou como adido cultural em Santiago (Chile), mas foi afastado do cargo por acolher refugiados brasileiros em sua casa, contrariando a orientação dos militares.
Foi preso político, na época da ditadura militar e, entre 1965 e 1970, participou na Organização Revolucionária, no Chile.
Recebeu o Prêmio de Poesia, concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte em 1975, pelo livro Poesia Comprometida com a Minha e a Tua Vida.
Em 1992 publicou o livro de entrevista e ensaio Borges na Luz de Borges e, em 1998, o livro infanto-juvenil Amazonas. Sua obra poética inclui Faz Escuro mas Eu Canto (1968), Os Estatutos do Homem (1973), Canto do Amor Armado (1975) e Campo de Milagres (1998), entre outros.
A poesia de Thiago de Mello vincula-se à terceira geração do Modernismo e é marcada pelo engajamento político e pela preocupação social, características também presentes em suas crônicas.
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Obrigado por gostarem do meu poema fico muito grato por isso.
15/junho/2021
Geovana
Estou estudando esse poema para fazer atividades da escola... Esse poema e mesmo muito bom
27/janeiro/2021
Geovana
Legal
05/dezembro/2020
gtt
ele é mesmo muito bom
04/novembro/2020
Sounier
muito bom !!!!!
10/setembro/2020
Yasmin
Estou estudando esse poema para minha atividade de escola,ele é muito bom.Parabens
07/setembro/2020

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