Bocage

Bocage

Manuel Maria de Barbosa l'Hedois du Bocage foi um poeta português e, possivelmente, o maior representante do arcadismo lusitano.

1765-09-15 Setúbal
1805-12-21 Lisboa
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88


Prémios e Movimentos

Arcadismo

Alguns Poemas

Pena de Talião

Ao Padre José Agostinho de Macedo

Tu nihil invita dices, faciesve Minerva.
Horácio, Arte Poética, V, 385

Invidia rumpantur ut ilia Codro.
Virgílio, Écloga VII

(. . .)

Refalsado animal, das trevas sócio,
Depõe, não vistas de cordeiro a pele.
Da razão, da moral o tom que arrogas,
Jamais purificou teus lábios torpes,
Torpes do lodaçal, donde zunindo
(Nuvens de insetos vis) te sobem trovas
À mente erma de idéias, nua de arte.

(. . .)

Sanguessuga de pútridos autores,
Que vais com cobre vil remir das tendas,
Enquanto palavroso impõe aos néscios
E a crédulo tropel, roncando, afirmas
Que resolveste o que roçaste apenas
(Falo das Artes, das Ciências falo);
Enquanto a estátua da Ignorância elevas,
Os dias eu consumo, eu velo as noites
Nos desornados, indigentes lares;
Submisso aos fados meus ali componho
À pesada existência honesto arrimo,
Coa mão, que Febo estende aos seus, a
poucos.
Ali deveres, que não tens, nem prezas,
Com fraternal piedade acato, exerço;
Cultivo afetos à tua alma estranhos,
Dando à virtude quanto dás ao vício.
Não me envilece ali de um frade o soldo,
Ali me esforça ao gênio as ígneas asas
Coração benfazejo, e tanto e tanto
Que a ti, seu depressor, protege, acolhe;
Que em redondo caráter te propaga
A rapsódia servil, poema intruso,
Pilhagem que fizeste em mil volumes,
Atulhado armazém de alheios fardos,
Onde a Monotonia os mexe, os volve,
E onde teimosa Apóstrofe se esfalfa,
Já coos Céus intendendo e já coa Terra.

(. . .)

Prossegue em detrair-me, em praguejar-me,
Porque Délio dos prólogos te exclui:
Pregoa, espalha em sátiras, em lojas
Que Zoilos não mereço, e sê meu Zoilo:
Chama-me de Tisífone enteado,
Porque em fêmeo-belmírico falsete
Não pinto os zelos, não descrevo a morte;
Erra versos, e versos sentencia;
Condena-me a cantar de Ulina e danos.
Agrega o magro Elmano ao fulho Esbarra;
Ignora o baquear, que é verbo antigo,
Dos Sousas, dos Arrais somente usado;
Metonímias, sinédoques dispensa;
Dá-me as pueris antíteses, que odeio;
De estafador de anáforas me encoima;
Faze (entre insânias) um prodígio, faze
Qual anda o caranguejo andar meus versos;
Supõe-me entre barris, entre marujos
(De alguns talvez teu sangue as veias honre):
Mas não desmaies na sua carreira; avante,
Eia, ardor, coração . . . vaidade, ao menos!
As oitavas ao Gama esconde embora,
Nisso não perdes tu nem perde o mundo;
Mas venha o mais: epístolas, sonetos,
Odes, canções, metamorfoses, tudo . . .
Na frente põe teu nome, e estou vingado.

Poeta português natural de Setúbal, de ascendência francesa por parte da mãe. A sua vocação foi incentivada pelo ambiente familiar. Madame Fiquet du Bocage, uma tia-avó do poeta, era uma poetisa ilustre na época e traduzira o poeta suíço pré-romântico Gessner. O próprio pai de Bocage lia o pré-romântico inglês Young e cultivava a poesia nas horas vagas. Igualmente o marcou, como ele próprio o sublinhou, a morte da mãe aos dez anos de idade («Aos dois lustros a morte devorante/me roubou, terna mãe, teu doce agrado»). Frequentou a Academia Real dos Guarda-Marinhas, para onde entrou em 1783, entregando-se, mais do que aos estudos, à boémia literária da Lisboa da época, frequentando botequins, sobretudo o Nicola, do Rossio, ao qual o seu nome ficou para sempre ligado, como famoso improvisador de versos. Embarcou para Goa (1786) e serviu na guarnição de Damão (1789). Mais tarde, desertou, embarcando para Macau, e daí regressou a Lisboa em 1790, ano em que foi fundada a Nova Arcádia, na qual ingressou, adoptando o nome poético de Elmano Sadino. Dela foi expulso, em 1794, devido ao seu espírito independente, sarcástico e indisciplinado. Inquieto e atraído pela vida boémia, foi preso a 10 de Agosto de 1797, acusado de ideias contra a ordem social, expressas na «Epístola a Marília», texto anti-religioso, e no soneto dedicado a Napoleão, símbolo do ideal revolucionário da época. Julgado, apesar de tudo, com alguma benevolência, por «erro contra a religião», a Inquisição ordenou que o preso fosse «doutrinado». Obrigado, por sentença, a recolher ao Hospício das Necessidades, aí se dedicou ao estudo e à tradução de várias obras, entre as quais as Metamorfoses, de Ovídio. Saiu em liberdade em 1799, convertendo-se a uma vida mais regrada em casa da irmã, Maria Francisca, que sustentou com trabalhos de tradução. Marcado pelas atribulações do seu percurso, a sua vida terminou precocemente e com um doloroso arrependimento, patente nos seus últimos poemas. Bocage é um poeta pré-romântico em que o arcadismo ainda está bem presente. Dos seus poemas irradia o angustiado sentido da existência e do aniquilamento, expresso em oposições dramáticas (o amor, céu e inferno, a morte, horror e libertação) e o gosto pelo macabro, em simultâneo com o convencionalismo arcádico das alegorias. De entre as formas poéticas que cultivou destaca-se o soneto. Muitas vezes evocando o paralelismo entre a sua vida e a de Camões, morreu aos 40 anos, em Lisboa, deixando publicadas, em três volumes, Rimas (1791, 1799 e 1804), completadas com a publicação póstuma de novos volumes e obras sobre a sua criação poética (Poesia de Manuel Maria de Barbosa du Bocage, de Inocêncio da Silva, 1853, e Obras Poéticas de Bocage, de Teófilo Braga, 1875)
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10/junho/2021
Osama Bin Laden
Muito interessante o poema, pena que escritor vem de Portugal (à escória dos países).
30/maio/2021
Alguem que intende de história mais que você
Estude realmente a história de portugal e pare de falar besteira
30/setembro/2022
Alguem que intende mais história que você
Se você não sabe ele se converteu no leito de morte(onde ele ditou esssa poesia) e se tornou católico, coisa que a nação portuguesa é e com muito amor.
30/setembro/2022
Rei leao
Amei
26/maio/2021
fernanda
Bom dia, não é astro mas estro
17/maio/2021
hakuna batata
amei o poenma tocou o fundo do meu coração obrigada por proporcionar tamanho entretenimento para a classe operária
11/novembro/2019

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