Charles Bukowski
poeta, contista e romancista estadunidense
1920-08-16 Andernach
1994-03-09 San Pedro
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Os Gêmeos
às vezes ele insinuava que eu era um canalha e eu lhe dizia para ouvir
Brahms, para aprender a pintar e a beber e a não ser
dominado por mulheres ou dólares
mas ele gritava, pelo amor de Deus pense na sua mãe,
pense no seu país,
você vai nos matar!...
vago pela casa de meu pai (na qual ele devia $ 8 mil depois de 20
anos no mesmo emprego) e olho para seus sapatos mortos
o modo como seus pés curvaram o couro, como se plantasse rosas em fúria,
e era o que ele fazia, e olho para seu cigarro morto, seu último cigarro
e a última cama em que dormiu naquela noite, e sinto que deveria refazê-la
mas não posso, porque um pai é sempre o mestre mesmo quando já se foi;
suponho que essas coisas tenham acontecido vez após vez mas não posso deixar de pensar
morrer no chão da cozinha às 7 da manhã
enquanto outras pessoas fritam ovos
não é tão brutal
a menos que aconteça com você.
vou para o lado de fora e apanho uma laranja e retiro a casca brilhante;
as coisas seguem vivas; a grama cresce muito bem,
o sol despeja seus raios circundado por um satélite russo,
um cão late sem razão em alguma parte, vizinhos espiam pelas persianas.
sou um estranho aqui, e devo ter sido (suponho) de algum jeito um filho da puta,
e não tenho dúvida de que ele me pintou direitinho (o garotão e eu
brigávamos como leões da montanha) e eles dizem que ele deixou tudo para uma mulher em Duarte mas estou cagando – que ela fique com tudo: ele era o meu velho
e está morto.
lá dentro, experimento um terno azul-claro
muito melhor do que qualquer coisa que eu já tenha vestido
e balanço os braços como um espantalho ao vento
mas de nada adianta:
não posso mantê-lo vivo
não importa o quanto odiássemos um ao outro.
temos exatamente o mesmo aspecto, poderíamos ter sido gêmeos
o velho e eu: é isso o que eles
dizem. ele tinha seus bulbos na tela
prontos para serem plantados
enquanto eu me deitava com uma puta da rua 3.
muito bem. deixem-nos ter este momento: parado diante de um espelho
vestindo o terno de meu pai morto
esperando também
para morrer.
Brahms, para aprender a pintar e a beber e a não ser
dominado por mulheres ou dólares
mas ele gritava, pelo amor de Deus pense na sua mãe,
pense no seu país,
você vai nos matar!...
vago pela casa de meu pai (na qual ele devia $ 8 mil depois de 20
anos no mesmo emprego) e olho para seus sapatos mortos
o modo como seus pés curvaram o couro, como se plantasse rosas em fúria,
e era o que ele fazia, e olho para seu cigarro morto, seu último cigarro
e a última cama em que dormiu naquela noite, e sinto que deveria refazê-la
mas não posso, porque um pai é sempre o mestre mesmo quando já se foi;
suponho que essas coisas tenham acontecido vez após vez mas não posso deixar de pensar
morrer no chão da cozinha às 7 da manhã
enquanto outras pessoas fritam ovos
não é tão brutal
a menos que aconteça com você.
vou para o lado de fora e apanho uma laranja e retiro a casca brilhante;
as coisas seguem vivas; a grama cresce muito bem,
o sol despeja seus raios circundado por um satélite russo,
um cão late sem razão em alguma parte, vizinhos espiam pelas persianas.
sou um estranho aqui, e devo ter sido (suponho) de algum jeito um filho da puta,
e não tenho dúvida de que ele me pintou direitinho (o garotão e eu
brigávamos como leões da montanha) e eles dizem que ele deixou tudo para uma mulher em Duarte mas estou cagando – que ela fique com tudo: ele era o meu velho
e está morto.
lá dentro, experimento um terno azul-claro
muito melhor do que qualquer coisa que eu já tenha vestido
e balanço os braços como um espantalho ao vento
mas de nada adianta:
não posso mantê-lo vivo
não importa o quanto odiássemos um ao outro.
temos exatamente o mesmo aspecto, poderíamos ter sido gêmeos
o velho e eu: é isso o que eles
dizem. ele tinha seus bulbos na tela
prontos para serem plantados
enquanto eu me deitava com uma puta da rua 3.
muito bem. deixem-nos ter este momento: parado diante de um espelho
vestindo o terno de meu pai morto
esperando também
para morrer.
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